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Sara

Eu não pude ser uma mãe 100% presente, mas quando tava junto marcava firme em cima das minhas filhas.
Graças a Deus são todas trabalhadoras, honestas, acima de tudo me dão um orgulho danado.

Como mãe a gente sempre imagina o melhor pro filho, tenta não pensar tanto no pior, mas quando se tem três filhas mulheres e negras as coisas deixam de ser só coloridas o tempo todo.

São pessoas que passam por situações difíceis desde pequenas, minhas guerreiras já viveram muito coisa e olha que nenhuma delas chegou aos trinta ainda.

Mas a gente nunca imagina que uma filha da gente possa ser estuprada, a gente nunca deseja passar e nem que outra mulher passe por isso.

Nas primeiras horas eu olhei pra minha filha como um paciente que eu trato no trabalho, tive que agir dessa forma pra não desmoronar na frente da Suzi e nem das outras duas.

Cuidei dela com todo o carinho e acolhimento que ela vai precisar por um bom tempo, tive até que despensar o Leandro, o bichinho tava machucado, mas preocupado com a mulher em primeiro lugar.

Nem sei o que ele fez ou pra onde foi, mas acredito que não vai desistir de falar com a Suzane.

Saí bem cedinho com ela, vim com a Suzi no Antônio Pedro, é especializado em tratamento pra mulher que sofre violência, ouvi falar nele nesses anos que atuo na área da saúde.

Minha filha se recusou a prestar queixa e mesmo fazendo de tudo pra que ela denunciasse resolvi respeitar, imagino o medo e a culpa que ela deve tá sentindo mesmo sendo a vítima nessa situação.

Os médicos acolheram a Suzi, avaliaram ela, entraram com os coquetéis e fizeram alguns exames, só pra checar alguma laceração interna.

Hoje mesmo ela teve o primeiro contato com a psicóloga, a doutora me disse que não é pra família deixar transparecer reações negativas, porque isso atrapalha no tratamento dela e que as oscilações de humor são "comuns", a experiência que a Suzane teve foi muito estressante.

Me deu uns remédios também, caso a Suzi tenha alguma crise eu tô autorizada a ministrar as medicações nela.

O caminho de volta foi longo, ela dormiu no meu ombro, mas sempre que ouvia a voz de um homem acordava assustada.

Cuidei da Suzi quando chegamos em casa, deixei ela dormir e fui procurar as irmãs dela. Tomei um susto quando vi a Karen toda arrebentada, a cara dela tava horrível, Uiara tentando ajudar a irmã com o pouco que eu ensinei sobre primeiros socorros toda aflita, coitada da minha caçula.

Sara - Quê que fizeram contigo Karen ?

Karen - Foi ele...foi ele mãe!

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27/07/2021

Ruínas - FinalizadoOnde histórias criam vida. Descubra agora