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Uma semana depois

Suzane

Já tem uma semana que o Léo não vem aqui em casa, a gente só se fala por chamada de vídeo. Minhas irmãs demoraram a me contar o que houve, mas quando soube entendi a revolta dele.

Ele tá convivendo com os meus problemas, aprendendo a lidar com a minha inconstância. Leandro presenciou o meu auge e agora tá vendo o meu caos.

Tem dias que eu fico parada pensando em como eu tenho sorte, não é todo homem que segura uma rabuda dessas por causa de mulher não, aliás, homem nenhum quer a responsabilidade de criar e sustentar uma criança que não é dele.

Minha mãe me forçou a voltar pra psicóloga, entrou no consultório e contou tudo pra doutora.

Falou do surto, da minha rejeição a Esther e várias outras coisas. Na cabeça dela eu ia omitir o que houve.

Tive que voltar de onde parei, retroceder só piorou o meu quadro clínico. Ela trocou os meus remédios, tava ficando muito fora de órbita ultimamente, quando tomava também né !?

O que pesou foram os olhares de pena, o tratamento diferenciado por conta de tudo o que aconteceu. Criei muitas limitações desde o estupro e demorei muito a entender isso.

Quero voltar a ser normal de novo, mesmo sabendo que é meio impossível!

Leandro

Quando tu não nasce em berço de ouro e não vive todo babado por lamber saco de senhor ninguém a vida é mais complicada.

Só basta você ser humilde e querer ganhar o seu por mérito próprio que as provações aumentam, chega um tempo que tu olha pra tua caminhada e só vê coisa negativa, muito tropeço, muita dificuldade.

Sou correria desde novo, perturbava meu pai pra poder trabalhar nas obras e ganhar o meu, as vezes era só um galo, mas já tava bom, tirava onda com o fruto do meu suor.

Não demorei muito pra sair de casa, trabalho de dia, estudo a noite e agora tenho uma família pra sustentar.

Tô olhando pra sala daqui do meu barraco vazia, a "decoração" da Suzi já não tá mais aqui faz tempo, tudo encaixotado pô. Tive que desistir disso, focar mais na minha realidade.

E na minha realidade, tem sido bem complicado sustentar uma casa, ajudar financeiramente na criação da Esther e ainda pagar faculdade. Uma hora a gente acaba tendo que escolher com o que permanecer.

Contei no maior jeito pra Suzane, ela tá melhorando e eu não quero que nada mais dê errado na vida da minha mulher.

Ela ficou meio desapontada, mas entendeu a situação. Nada pra gente foi fácil, por isso ficamos chateados.

Leandro - Valeu aí irmão! _ apertei a mão do Darlan e ele me puxou pra um abraço.

Darlan - É nós pô!

Entrei com as coisas e botei na sala da minha mãe, o bom filho a casa torna né !?

Clarice - Chegou meu filho ?

Leandro - Uhum!

Clarice - Tá abatido Léo, essa vida tá acabando contigo!

Leandro - Tô bem mãe, só não dormi muito essa noite que passou...

Clarice - Então agora você vai ter sono de rei, não tem mais nada pra se preocupar...

Leandro - Minha cria aí na pista pô, tenho com o que me preocupar SIM!

Clarice - Olha Leandro, eu entendo que tu gosta da Suzane. Ela é uma menina boa, mas tá na hora de se preocupar contigo. Meu filho, você é novo, bonito, tem que achar uma moça e ter um filho seu, ter uma família normal, o problema não é seu!

Leandro - Com todo respeito ? A vida é minha mãe, quem tem que decidir sou eu! Não tô com a Suzane por pena, tô com ela porque eu amo e quem te disse que eu não tenho um filho ? Esther é a minha filha SIM, não quero que tu repita isso nunca mais! _ falei firme.

Clarice - Eu só quero que tu seja feliz Leandro!

Leandro - E eu tô sendo, respeita!

Clarice - Você que sabe Leandro, eu não falo mais nada... _ falou e eu saí da cozinha.

Meti meu pé pra casa da dona Sara, ver minha mulher é minha filha, nem fui pra aula hoje, passar esse tempo com elas.

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10/08/2021



Ruínas - FinalizadoOnde histórias criam vida. Descubra agora