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Semanas depois

Leandro

Tô animadão mané, vou ver minha filha depois de um tempão, aquele dia do julgamento eu nem pude ter muito contato com a minha cria, saudade tá grandona.

Sei que aqui não é lugar pra ela, mas não ia aguentar ficar mais dois anos sem vê-la.

Antes dos cara vir buscar eu tava pronto, agora já virou moda não dormir em véspera de visita. Deus selecionou poucas pessoas pra tá comigo nessa peleja, mas namoral ? Eu sinto a mesma alegria com todo mundo que vem me ver.

Gente que eu não esperava tá ligado ? Tipo o Darlan, cara não vem me ver, mas manda carta, escreve uma palavra amiga pra me confortar aqui dentro e por mais bobo que seja nunca vou esquecer disso.

Nunca vou esquecer dos que foram por mim e dos que não foram também, isso ficou marcado na minha história pra sempre, não tem jeito.

De vez em quando eu tenho aquele "e se..." antes de dormir. Mas em nenhum momento me sinto arrependido, é mais por curiosidade de saber como seria se eu tivesse seguido um caminho diferente.

"Será que eu teria desatolado da merda que fiquei quando a Suzi morreu ?"

"Será que eu teria me formado em engenharia ?"

"Será que agora eu teria um teto pra morar com a minha cria ?"

Além dessas, tem várias perguntas que nunca vão ter resposta e eu também nem quero que tenham. Fui certo na minha decisão, alguém tinha que reagir, alguém tinha que fazer alguma coisa e EU FIZ!

Até mudei de semblante quando vi minha mãe com a minha filha nos braços, porra, coração aceleradão.

Os cara abriu a porta e eu saí, melhor sensação foi tá com a minha filha no colo de novo depois de anos. Enchi ela de beijos, abracei, apertei e ainda fiquei escutando :

"Maise papai, maise!"

Quatro anos já, mas ninguém deixou ela esquecer quem eu sou, minha coroa mostra sempre a minha foto, falo com ela quando posso por telefone.

Clarice - Que saudade meu filho, hoje eu te desobedeci e vim assim mesmo! _ falou com os olhos marejados.

Leandro - Também tava com saudade de tu! _ fui sincero _ Quê que tem nessa bolsa aí ? _ desconversei com a Esther no meu colo.

Clarice - Eu fiz uns salgados sabe ? Aí trouxe um pouquinho de cada pra você.

Lembrei até do tempo que eu era moleque, minha mãe fazia as encomendas sempre a mais pra poder sobrar e a gente amassava no final.

Minha sócia junto comigo né !? Um pra ela e outro pra mim, meu chiclete é Esther, não tem jeito.

Leandro - Como tá lá fora ?

Clarice - Tá tudo bem, tudo na paz de Deus!

Leandro - E Natasha ?

Clarice - Tá bem, disse que quarta-feira vem te ver, tá com saudade do preto dela! _ fez careta e eu ri.

Leandro - E ela te trata bem mãe ? Trata minha filha bem ?

Clarice - E tu acha que eu dou mole pra mulher se crescer pra cima de mim ? _ falou e eu ri _ Ela me trata bem sim, gosta da tua filha e essa daí não fica por menos, vive atrás dela.

Leandro - E as meninas ?

Clarice - No começo a Karen ficou meio incomodada, ciúme de tu e da Esther com a Natasha, mas hoje elas se dão bem.

Natasha surgiu na hora que eu mais precisava aqui dentro, já chegou somando pô. De início eu fiquei meio de pé atrás, mas depois ela foi se mostrando verdadeira tá ligado ?

Se a Karen gosta dela é porque presta mermo, tá pra nascer pessoa mais nojenta que a Keka pra fazer amizade, ela desconfia de tudo e não tá errada não.

Natasha foi bem mais do que eu imaginava. Amei muito a Suzane, fiz tudo por ela em vida, mas a Suzi morreu e eu tô vivo pô.

Eu acho que tu respeitar a pessoa que morreu é muito mais do que viver no luto eterno, a vida da pessoa se encerrou, mas a tua continua e como que tu vai levar o teu tempo na terra só escrevendo tua história em torno da morte de alguém ? Tem como não!

Parte mais difícil da visita é a despedida, sem neurose, ver minha filha chorando por querer ficar comigo e não poder pô, isso destrói meu coração, papo reto.

Dei ela pra minha mãe e fui embora sem olhar pra trás, se eu olhasse ia querer meter o pé juntinho, fico que nem um leão enjaulado, cheio de ódio querendo fugir.

Voltei pra cela caladão, nem entrei no meio da conversa dos cara, deitei na "cama" e fiquei viajando, só  pensando na hora de sair daqui.

Meu maior veneno é cumprir a porra da pena,
Mas sei que logo vou sair.
Vou pra favela resolver os meus problemas,
Vou zuar e tirar onda no palco como Mc.

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27/08/2021

Ruínas - FinalizadoOnde histórias criam vida. Descubra agora