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Semanas depois

Suzane

É muito ruim ter que fingir pra minha família. Finjo amar uma criança, finjo estar melhorando, finjo estar progredindo em várias áreas quando na verdade eu só tô decaindo.

Me dói saber que não consigo amar a Esther, ela é linda, saudável, mas herdou aqueles olhos que tanto me causaram dor. Criei um bloqueio, uma proteção contra um ser indefeso e isso me machuca de verdade.

Nunca na vida vou conseguir ser a mãe que a Esther precisa, nunca vou chegar ao nível de ser mãe desse serzinho. No fundo todos sabem disso.

Eu nunca vou me recuperar, por mais que o Léo e a minha família tenham fé, me apoiem e corram atrás de qualquer coisa que possa melhorar o meu estado isso nunca vai acontecer.

Trágico demais pra uma pessoa que tinha muitos sonhos, que queria se formar, se casar, ter uma família, sair da favela né !? Hoje pra mim isso é impossível.

Tô entregando os pontos de vez, quero libertar o Leandro, as minhas irmãs, meus amigos, minha mãe e principalmente a pessoa mais prejudicada nisso, eu!

É uma dor incurável, uma sensação de esgotamento dia após dia, não tem uma hora que a minha memória não me remeta aquele momento ruim.

Não tem nenhum momento que eu não penso em que ele possa entrar por aquela porta e repetir tudo o que me fez, já "sonhei" com isso diversas vezes e em nenhuma delas eu consigo com que o Sasá tenha clemência por mim.

A verdade é que ele virou o meu "fantasma vivo", de uma forma ou de outra esse homem sempre me persegue. Domina meus pesadelos, virou causa dos meus traumas mais profundos e percursor de toda a minha história.

Por mais que a minha vida ande, por mais que eu tente me levantar e voltar de onde parei tudo vai girar em torno dele, desde o meu progresso até o meu retrocesso.

Não tive que tomar decisão nenhuma, quem já está determinado só precisa de uma oportunidade, uma ocasião pra pôr tudo em prática.

Reprimi aos meus bloqueios e me permiti pega-lá uma última vez nos braços, tão pequena, tão linda, tão pura.

Suzane - Me perdoa ? Eu não consegui ser o melhor pra você, mas o seu pai vai dar conta de tudo, brilha minha estrela!

Coloquei ela de volta no berço, peguei a caixa de remédios e saí do quarto, Esther não merece ver a "mãe" morrer.

Eu tomei todos os remédios, todos os comprimidos da caixinha e esperei pela minha hora. Aos poucos fui sentindo a vida se esvair de mim e o meu tão sonhado descanso chegar.

Leandro - FICA COMIGO, NÃO FAZ ISSO SUZANE!

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11/08/2021

Ruínas - FinalizadoOnde histórias criam vida. Descubra agora