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Quatro meses depois

Suzane

Passei muito mal na hora de dormir, um mal estar horroroso, pressenti ali que aquela criança iria nascer e aí a correria começou.

Minhas irmãs me ajudaram a trocar de roupa, minha mãe ligou pro Leandro e nós fomos pro hospital.

Fui muito bem assistida pela equipe de plantão naquele momento, fizeram tudo conforme o meu plano de parto.

Léo entrou na sala nervoso, coitado, os olhos quase saltando de tanta emoção.

Leandro - A Esther vai nascer amor, ela vai nascer! _ me deu um beijo emocionado.

Não consegui sentir o mesmo que ele, só queria que esse bebê nascesse logo, as contrações eram doloridas e a dilatação muito lenta, só Deus sabe que senti.

Vi a noite virar dia e nada dessa menina vir ao mundo, muita dor, já gritei muito, palavrões são tão poucos pra expressar o meu desconforto.

Tudo mudou quando a equipe responsável teve que trocar o plantão, aí sim eu descobri o que era inferno.

O novo médico entrou no meu quarto as 07hrs, eu urrando de dor, já estava na posição correta pro parto e ele conversando com as enfermeiras.

Leandro - Doutor ? Minha mulher tá morrendo de dor aqui, será que não tem como começar logo o parto ? _ indagou o médico.

Médico - Aguarda aí amigo, já já eu começo! _ falou e virou de costas pro meu marido.

Depois de muito conversar sobre assuntos pessoais com as enfermeiras ele iniciou o atendimento. Tentou falar comigo durante as contrações e eu sempre dizendo o mesmo.

Suzane - Tá tudo no meu plano de parto doutor....aí! _ segurei forte na mão do Leandro.

Médico - Minha filha, eu não tô aqui pra ler planinho de parto não, minha função é fazer essa criança nascer! _ foi ríspido.

A todo momento ele tentava me dar remédios que minimizassem a minha dor, mas que não limitassem os meus movimentos, dizendo que eu estava muito cansada sendo que ainda não tinha feito nem um terço do esforço preciso.

Ele fez pelo menos uns três procedimentos sem me comunicar, me senti ainda mais invadida pela falta de tato dele. Em um deles, por sentir muita dor pedi que o médico parasse, mas em momento algum ele considerou a minha opinião como algo válido.

O médico me colocou com as pernas pra cima, me fazia tentar expulsar a criança de todo jeito e quando eu disse que queria descansar ele ainda riu na minha cara.

Me senti muito sescomfortavel, a abordagem dele comigo era muito agressiva e sem explicação.

Médico - Tô fazendo o possível e o impossível pra essa menina nascer, depois tu me processa se quiser! _ tentou soar engraçado.

O anestesista aplicou uma anestesia local e o doutor iniciou a episiotomia (corte entre a vagina e o ânus pra auxiliar na saída do bebê), eu senti o sangue esguichar e reclamei de dor com ele, mais uma vez não fui ouvida.

Tudo foi muito desgovernado, muito apressado, parecia até que ele queria bater uma meta de partos realizados no dia.

Senti um alívio tremendo quando tudo aquilo acabou, mais um momento marcante gravado na minha história.

Nunca vou esquecer da violência que sofri, porque isso foi sim uma violência obstétrica, não desejo isso pra mulher nenhuma!

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08/08/2021

Ruínas - FinalizadoOnde histórias criam vida. Descubra agora