Capítulo 23: A vida de um casal com filhos

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Nosso retorno para o Castelo foi silencioso. Ouvíamos somente o barulho da carroça se deslocando pela estrada de terra.

Sei que Connor vingará o que foi feito com as nossas crianças.

O menino continua me olhando, esta alerta, e suas irmãs estão cochilando, é perceptível a exaustão delas.

Sei que teremos pela frente um grande desafio. Mas vamos conseguir.

- Meu nome é Briana, o homem que te tirou do cercado é o Connor, meu esposo. Agora, vamos para casa. Iremos cuidar de você e de suas irmãs.

- Você sabe onde está minha irmã Charlotte? - Sua voz é baixa, parece temer minha resposta.

- Me chamaram para cuidar de sua saúde. - Suspiro, não tem um jeito mais fácil de falar sobre a morte de sua irmã. - Ela e o bebê não conseguiram.

- Eu já sabia que ela não conseguiria. Estava muito fraca, todos estamos fracos. Ela era uma boa irmã. - Lágrimas escorrem de seu rosto.

- Eu sinto muito.

Ficamos em silêncio. Cada um perdido em seus pensamentos. Não é fácil, antes maltratados por aqueles que deviam ser seus protetores e, agora, estão indo com pessoas estranhas para um lugar novo.

No meu coração sei que eu e Connor seremos ótimos pais. Vamos conseguir dar um lar para as crianças. Só espero que aceitem nosso amor e que não seja tarde para que conheçam uma família e aceitem fazer parte dela.

Quando chegamos no Castelo, fomos recebidos pelos senhores. Sarah me ajudou com as meninas, elas só olhavam tudo com curiosidade e meu rapazinho mantinha uma postura de alerta, guardando suas irmãs.

Depois de explicações rápidas, Sarah tentou levar as crianças para um quarto diferente do meu e do Connor. Não aceitei, somos uma família e vamos ficar todos juntos.

Pedi que trouxessem água quente, roupas, uma jarra de água e comida. E, nesse ponto começou meu martírio. Nunca conheci pessoas que temiam tanto um banho.

O menino conseguiu correr e ficou na porta se recusando a entrar, as meninas gritaram, quase perdi minha audição. A desnutrição não afetou seus pulmões.

Quando, finalmente, consegui mergulhar uma delas dentro da tina perceberam que não era perigoso. O garoto assistia desconfiado as irmãs se divertindo na água. Conseguiram me molhar e o quarto todo.

- Meninas, agora vamos lavar os cabelos. Vou deixar vocês bem limpinhas. Depois vamos colocar roupas quentes, comer e descansar.

Elas são tão boazinhas. Permitiram que eu lavasse os cabelos. Foi tranquilo colocar roupas limpas. A água ficou bem escura da sujeira. Mas minhas meninas ficaram lindas.

- O que está acontecendo aqui? - A voz forte de Connor nos assusta.

- Que susto! Estou deixando nossas meninas limpinhas. Agora só falta ele. - Digo sorridente e aliviada de ver meu grandão. Ele mantém uma expressão calma e nos olha com carinho.

- Filho, por que não quer tomar banho?

- Sou homem e não tomamos banho naquilo. Isso é para as meninas. - Diz emburrado. Mas fico feliz que parece entender que não faremos nada de ruim com eles.

- Entendo. Pequena, me dê as roupas do garoto e as minhas. Também as toalhas. Vamos tomar banho como homens.

Seguro para não rir. Eles vão tomar banho no rio. Com certeza o garoto nunca mais vai querer tomar banho como "homem", pois está muito frio.

Enquanto, meus homens foram se banhar, tentei conhecer melhor minhas meninas, agora limpinhas, alimentadas e sonolentas na minha cama.

Elas só me olhavam em silêncio. Não fizeram nenhuma tentativa de falar comigo, eu já estava sem dormir e ainda um pouco dolorida da minha noite com Connor, assim resolvi me declarar vencida e, também, fui me deitar.

Princesa apareceu um pouco depois do Connor sair. Quando levaram a tina, consegui organizar o quarto, dar comida para as meninas e para minha Princesa. E, agora, estamos todas deitadas. Só espero que Connor tenha mais sorte na conversa do que eu tive com as meninas.

- Não faça barulho, as meninas estão cansadas. - Connor tenta falar em voz baixa, mas é impossível não ouvir seu tom grave. - Pelo jeito vamos ter que nos arranjar aqui no chão.

- O senhor está bravo? - O meu menino sussurra, parece ansioso por uma resposta.

- Eu deveria? Como homens é nosso dever proteger e dar conforto para elas. Não me importo de dormir no chão.

- Vocês demoraram. - Não consigo permanecer quieta.

- Depois do banho fomos até a cozinha, aproveitamos para comer algo. Também falei com meu irmão e mostrei um pouco do Castelo para nosso menino.

Connor, mesmo me dando explicações, vai arrumando algumas peles e cobertores no chão.

- Venha, querido. Deite-se com suas irmãs. - Me levanto da cama, dando lugar para o menino que está quase dormindo em pé.

- Senhora, não posso. Deve dormir na cama. Eu ficarei no chão, é o certo.

- Quando acordarem, elas se sentirão mais seguras se estiverem perto de você. - Tento convencê-lo e encaro Connor pedindo seu apoio.

- Nada disso, Briana. Vocês ficam na cama e nós, homens, dormimos no chão. Não quero discussão.

- Eu também não. E acho bom você deitar na cama antes que eu perca a paciência. E, o senhor, não me contrarie perto das crianças. - Connor é um tapado, será que não percebe que quero dormir com ele? Bufo irritada e coloco as mãos na cintura de forma impaciente.

- Sim, senhora.

Sorrio satisfeita, meu menino ajuizado pula na cama, se aconchegando junto com suas irmãs. Finalmente, depois de um suspiro satisfeito, seus olhos se fecham.

Connor observa tudo em silêncio. Me aproximo, ficando nas pontas dos pés e entrelaçando meus dedos em seu pescoço.

- Achei que iria me colocar para fora do quarto. - Diz em meu ouvido, me abraçando.

- Quando eu der aquele olhar para você é um sinal, na dúvida não diga nada.

Ficamos quietos, apenas sentindo nossos corpos colados. Eu sinto a necessidade de tê-lo ao meu lado. Ele é minha força, meu porto seguro.

- Somos uma família grande, minha pequena. Quem diria que, um dia depois de nossa noite juntos, ganharíamos quatro filhos de uma única vez... - Seu sorriso ilumina meu coração. Deito minha cabeça em seu peito.

- Daremos o melhor de nós para essas crianças, nossos filhos. - Concordo com Connor.

Após verificar que todos estavam cobertos, deitamos e, simplesmente, adormecemos.

Depois de muito tempo, um choro sentido ecoou no silêncio do quarto. Um menino, que não tinha mais esperança de uma vida feliz, chorava de alívio por suas irmãs pequenas e chorava de tristeza por sua irmã mais velha que não teve a oportunidade de conhecer uma vida diferente daquela que foram obrigados a viverem.

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