Capítulo 3: Feroz

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Não era possível que um moleque fosse capaz de enganar homens treinados. Estou muito bravo e cansado dessa busca interminável. Não vejo a hora de sair dessa floresta amaldiçoada.

Como alguém pode escolher um lugar desse para morar? A umidade parece entrar nos meus ossos.

Quando achamos a cabana, ela estava vazia. Apesar de ser pequena, era muito arrumada, ainda tinha caldo sendo aquecido no fogo. A cama era bem feita e coberta com bonitas peles de lebres. Uma pequena mesa com duas cadeiras ficava no meio do cômodo. E nas prateleiras das paredes alguns utensílios e diversas ervas, algumas secas e outras recém colhidas. Uma tina grande estava em outro canto e próximo um balde com um tipo de sabão dentro, provavelmente era onde tomava banho. Tenho que admitir que o moleque será um grande guerreiro. Além de saber esconder seu rastro, é cuidadoso com seus pertences e consigo.

Meus homens e eu nos alimentamos, e o caldo era muito saboroso, enchendo nossos estômagos e aquecendo nossos corpos.

Saio da cabana e subo em meu garanhão, chegou o momento, vamos caçar meu moleque. Já haviam me avisado que era um selvagem. Talvez seja apenas medo de pessoas estranhas. Pela forma como a cabana é mantinha, sei que não é um selvagem total.

A cachorra dele, que é feia como o diabo, está amarrada e late ferozmente, tentando se libertar das cordas que uns dos homens usou para garantir nossas gargantas intactas. Que bicho infernal!

Me viro rapidamente na sela, Sinto sua presença. Ele nos observa. Sorriu, a caçada teve início.

Três dias e o pestinha continua fugindo. Meus homens estão irritados. Estamos cansados e com frio. Se não encontrar essa criança até amanhã, vou desistir. Pelo jeito ele sabe se cuidar muito bem. E não morrerei dentro dessa floresta tentando honrar uma promessa que fiz perante a velhota.

Sei que estamos próximos, por isso decido montar acampamento. Vamos enganar esse moleque. Meus homens montam as tendas e preparam a fogueira. Eu e alguns guerreiros ficamos escondidos, um pouco afastados, para manter vigilância nos movimentos dentro da floresta. Ele é curioso e vai se aproximar, ou fazer algum movimento para manter distância. Qualquer opção escolhida nos mostrará seu paradeiro.

A noite cai gelada e silenciosa. A vigília é exaustiva. Mas sinto sua presença e, antes que possa desaparecer, coloco meu cavalo em movimento. Os homens me seguem.

Só penso em não perder de vista o moleque, que corre desesperadamente, tentando nos despistar. Ele é ágil. Mas eu sou mais rápido em cima de um cavalo.

Quando me aproximo, sinto que posso agarrar seu capuz. Mas em um decisão rápida, pois não quero que ele continue fugindo, impulsiono meu corpo e me jogo em suas costas.

Seu corpo frágil amortece minha queda. Sorrio, ele deve ter comido muita terra e ficará bem dolorido, pois sou um homem grande.

Recebo uma cotovelada no meu nariz, se não quebrou, deve estar, no mínimo, sangrando. A criança se debate ferozmente, tentando me golpear em todos os lugares. Num momento de raiva lhe dou um soco na cara. Ele, finalmente, sossega. Suspiro aliviado e me levanto. Estou sem fôlego. Foi preciso desmaiar o moleque para me dar sossego.

Meus homens riem da situação.

- Se bem treinado, terá um grande guerreiro ao seu lado.

- Ele nos deu muito trabalho. Devia receber umas chicotadas.

E os comentários continuam. Agora, olhando com calma seu corpo inerte, percebo que é bem pequeno. E macio. Quando cai e durante a briga pude sentir seu corpo... Será?

Me aproximo de seu corpo e puxo seu capuz... Possue longos cabelos. Imediatamente, coloco minhas mãos em seu peito e me deparo com a maciez de seus seios.

- Virgem Santíssima. - Exclamo de forma surpresa. Meus homens agora então em silêncio.

Um se aproxima com uma tocha. E, assim, podemos ver que uma mulher estava desmaiada no chão. E eu fiz isso com um soco. Passo as mãos pelos meus cabelos nervosamente. E agora?

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