Capítulo 4: Confusão

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Sinto meu corpo todo dolorido. Era como se alguém tivesse me dado uma surra. Acordo com os latidos de Princesa. Sinto o cheiro da nossa cabana. Lembro que levei um soco e a escuridão me acolheu.

Abro com cuidado meus olhos. Um deles está inchado, maldito selvagem que me bateu. Tento me levantar.

- Finalmente acordou.

Uma voz grossa me faz virar a cabeça em direção a porta. Tento focalizar minha visão, mas com um olho fechado é difícil enxergar bem.

- Quem é o senhor? E quem permitiu sua entrada? - Pergunto de forma petulante.

- Como pode ser tão altiva estando amarrada e com um olho roxo? Eu, no seu lugar, imploraria por minha vida. Pelo menos é essa a reação de qualquer mulher.

- Isso é um absurdo! Não sei que mulheres são essas, mas não fui criada para ser covarde. Mas se vai me matar que faça de uma vez ou me solte logo. Estou com dor nessa posição e minha Princesa deve estar com fome e assustada.

Me assusto com seu soco na mesa e suas gargalhadas. Homens entram na cabana, acho que devem estar curiosos, assim como eu, para entender o que é tão engraçado.

Que homem estranho, briga comigo e depois fica rindo.

Minha visão já se acostumou com a claridade que entra na cabana. Assim, consigo analisar melhor o homem que ri alto.

Sua voz é autoritária e rouca. Na minha opinião, muito bonita. É bem alto, quase um gigante, tudo bem que estou amarrada e jogada no chão, mas é possível perceber que tem quase dois metros. Ombros largos, cabelos escuros que precisam de um corte e uma barba bem grande. Acho que deve ser para esconder ou amenizar suas cicatrizes do rosto. Como sempre observei Susan cuidando de pessoas feridas, não me assusto com cicatrizes. Sei que estou diante de um guerreiro. E um bem forte.

Nunca dei muita importância para homens. Mas esse me chamou a atenção. Sou uma pessoa curiosa. Susan me explicou o que um homem e uma mulher fazem quando são casados, agora observando esse guerreiro sinto um friozinho na barriga. É estranho e gostoso ao mesmo tempo.

Que absurdo! O homem pode ser meu assassino ou estuprador e eu pensando de forma avoada sobre como é bem másculo.

Uma vez vi um homem nu, Susan precisou amputar sua perna. Lembro que tinha uma varinha molenga do tamanho do meu dedo indicador. Era até feinha. Dei risada e ganhei um tapa na orelha de Susan.

As mulheres, quando iam pedir poções para interromper ou prevenir alguma gravidez, comentavam sobre as varas dos homens que se deitavam. Parecia ser algo magnífico, por isso ri quando vi a varinha molenga.

- Senhor, porque está rindo descontroladamente? - Um soldado pergunta ao grandão.

Saio de meus pensamentos e volto para minha atual realidade, que não é das melhores.

- Essa menina é louca. - O grandão diz depois de tomar fôlego.

- Isso já sabemos. Onde já se viu uma mulher conseguir fugir de nós e, ainda por cima, viver como uma selvagem? Fora o cheiro que não é dos melhores. E depois de tomar um soco, dormiu um dia inteiro, sem nenhuma preocupação. - Diz um dos guerreiros que entrou na cabana, parece indignado. Mas quem tem que ficar assim sou eu.

Preciso tomar as rédeas da situação, pois estão na minha casa. Susan sempre disse que mandamos no nosso lar.

- Chega! Eu exijo que me soltem e quero explicações. Os senhores invadem a cabana. Me obrigam a fugir por três dias. Sou agredida e amarrada. E agora ofendida, pelo senhor que é um descontrolado. - Aponto com a cabeça para o grandão. - E pelo senhor, que me chama de fedida. O que esperava? Estava fugindo, devia ter pedido uma trégua para me banhar? Sinta primeiro seu cheiro, seu cão sarnento. - O homem me olha de forma surpresa. E algo absurdo acontece, todos os homens começam a rir.

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