Capítulo 22: A brutalidade de Connor

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- Preparem os cavalos. Vamos sair o mais rápido possível. - Connor grita ordens para seus soldados. Está inquieto.

Ele e o irmão já sabem a história da pequena Charlotte. Uma menina que precisou amadurecer muito rápido.

Depois que Connor saiu, para buscar Princesa, continuei na cama. Estava pensando em nossos momentos juntos quando Sarah me chamou.

Me vesti rapidamente e fui em direção ao quarto onde foi levada a menina.

Charlotte estava deitada, curvada de dor. Tinha o rosto magro e com crostas de sujeira. Quando conseguimos tirar sua manta suja, sua pequena barriga apontava. Estava em trabalho de parto, mas ainda era muito cedo, sangue escorria de suas pernas. O bebê não estava preparado e ela era muito pequena, seu corpo ainda em formação.

- Eu vou morrer? - Sua voz é apenas um murmúrio.

Não posso mentir, Susan sempre foi muito verdadeira. Com palavras de conforto já preparava as pessoas para seu destino final.

- Sim, você está fraca e perdendo muito sangue. Mas, ainda podemos tentar salvar seu bebê. - Nem eu acredito em minhas palavras. A realidade de Charlotte é muito dura.

Suas dores começam a ficar mais constantes, é uma menina corajosa. Não grita e quando um gemido tenta escapar, coloca suas mãos na boca, numa tentativa de se manter em silêncio.

- Minha criança, sei que está exausta. Mas precisamos saber o que aconteceu. - Sarah, nos observa. Seu semblante cansado me preocupa. No entanto, ela se recusa a ir embora.

- Não tenho mais medo, pois logo estarei com nosso criador. Meu fim está próximo e talvez seja bom meu filho ficar comigo. - Suas mãos frias apertam as minhas, parece buscar força para continuar.

- Tem pouco tempo que estamos acampados nas proximidades do Castelo. Meus irmãos estão sozinhos. Senhora, eles precisam de alguém... - Ela continua seu relato e me olha desesperada.

- Você não deve se preocupar com isso. Eu e meu marido cuidaremos de todos. Connor é um homem honrado e nos protegerá. - Minha promessa não é vacilante, conheço meu grandão. Ele não permitirá que nada de ruim seja infligido às crianças.

- Obrigada. Estou tão cansada e ao mesmo tempo feliz. Vou descansar, pois sei que meus irmãos serão cuidados. - Ela me puxa para perto. - São pessoas ruins. Ela permitiu que eles fizessem coisas comigo.

Sua confissão me assusta. Sarah sai do quarto cambaleante. Uma ajudante da cozinha ampara seu caminhar.

Por alguns instantes, Charlotte descansa. Tento estancar sua hemorragia, lutando para prolongar sua vida. Sua respiração está cada vez mais vacilante, peço que coloquem mais lenha na lareira. O seu conforto, pelo menos no final, será garantido.

A única vez que se permitiu gritar foi seu último esforço para expelir seu bebê. Era um menino e não chorou, ainda não estava completamente formado. Como a mãe, partiu em silêncio.

Embrulhei seu corpinho frágil em uma manta, o coloquei nos braços da mãe. Mesmo sem vida, achei que seria bom ter seu bebê nos braços.

Agora, estamos nos organizando para buscar seus irmãos. Enquanto isso, preparam os corpos de Charlotte e seu bebê para o enterro. Não quero que seus irmãos vejam os corpos sem vida, apenas o local que estarão enterrados.

- Tem certeza? Você pode ficar e preparar tudo para nosso regresso. Além disso, ainda não descansou. - Connor acaricia meu rosto.

- Preciso ir. Quero trazer nossas crianças para casa.

Connor me ergue e seguimos, juntos, em seu cavalo para nosso destino. Princesa nos acompanha de perto, parece bem ativa.

O caminho é curto, próximo ao rio que abastece a cidade uma pequena cabana e um cercado com alguns animais é nosso destino.

Os senhores do Castelo não vieram, Connor trouxe cinco guerreiros e o velho Aidan conduz a carroça.

Paramos os cavalos, três crianças pequenas estão ao lado do cercado. Choram e se agarram, numa tentativa de proteção. Seus pés descalços e as roupas simples não protegem seus corpos do frio da manhã.

- Seus malditos, deixem minhas irmãs em paz. Não temos nada de valor. - Uma voz estridente é ouvida, mas onde está?

Connor me deixa perto de Aidan e caminha com seus homens até o cercado. As lágrimas escorrem dos rostos das meninas, mas nada é ouvido. A voz grita xingamentos a plenos pulmões.

Um menino amarrado é retirado de dentro do cercado. Seu corpo é esquelético, parece ter sido surrado. Nossos olhares se encontram. Aidan tenta me impedir, mas corro para perto das crianças.

- Briana! - Connor grita comigo, mas não me importo.

Abraço o menino com força. Ele para de se debater e descansa sua cabeça em meu peito, as meninas se aproximam e agarram minhas saias.

- Venham comigo. Vamos para casa. - Olho meu grandão, ele não diz nada. Com um leve balançar de cabeça Connor indica que aguardará nossa saída. Sei que fará justiça, seus punhos fechados demonstram sua ira.

Voltamos para a carroça, ninguém diz nada. São crianças silenciosas. O menino senta no fundo da carroça com suas irmãs ao seu lado. Uso as mantas para cobrir seus corpos pequenos e sujos.

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Observo a carroça se afastar, a cachorra feia de Briana ficou, parece querer saber o desfecho da história.

Muito estranho. Onde estão os adultos? Até agora ninguém saiu. Meus homens estão em alerta.

Me aproximo da entrada e com um chute escancaro a porta. O fedor da cabana me faz dar um passo para trás. Urina, suor e bebida, uma mistura nauseante.

Quando meus olhos se acostumam com a escuridão, noto três corpos deitados próximos a uma fogueira apagada. Parecem mortos.

- Senhor, estão muito bêbados para saber o que está acontecendo. - Diz o guerreiro que teve coragem de se aproximar da massa fétida de corpos.

- Vamos aguardar. Eles merecem sentir toda minha fúria. - Puxo uma cadeira e me sento.

Os guerreiros saem da cabana. Sou um homem paciente, enquanto aguardo vou planejar como retribuir todas as atrocidades que aquelas crianças passaram.

Já anoitece, preciso me lavar antes de retornar para minha Briana. Não quero assustar ninguém, meu corpo está coberto de sangue e minhas mãos feridas. Mas estou aliviado de ter feito justiça e matado cada um deles de forma lenta e mais dolorosa possível.

- Senhor, o que faremos com os restos dos corpos? – Eu e meus guerreiros observamos a cabana desmoronar no meio das chamas, os corpos de dois homens e uma mulher estão jogados, alguns pedaços foram arrancados, com ajuda dos cavalos e das espadas.

- Deixem que os animais selvagens usufruam dessa carne. Eles não merecem um sepultamento. – Minha consciência não ficará pesada, não tenho clemência com vermes como aqueles que eliminamos.

Quando acordaram, a mulher foi a primeira a perceber minha presença, os dois homens até tentaram alcançar seus machados quando ouviram seu grito assustado. Mas, as armas já tinham sido retiradas da cabana.

Após algum tempo sendo esmurrados e cortados, contaram a depravação de seus atos. Suas palavras eram ditas de forma fria, a descrição do que faziam com a menina grávida ou o que iriam fazer com as outras crianças nos deram a motivação para acabar com a vida dos três.

Muitos me temem em meu clã, dizem que tenho sede de sangue. Minhas constantes idas aos campos de batalha colaboraram para minha fama. Se me vissem agora teriam certeza que aprecio infligir a dor em outras pessoas.

Depois de nos banharmos, obriguei todos a limpar o sangue dos corpos e das vestimentas, retornamos. Princesa esteve ao meu lado o tempo todo, não ficou assustada com os gritos ou os ossos se partindo com os golpes de espada. Apenas ficou lá observando.

Nosso retorno foi silencioso. Um grupo sombrio, que nunca esquecerá das palavras profanas ditas por pessoas que não mereciam continuar vivendo. 

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