𝙲𝚊𝚙𝚒𝚝𝚞𝚕𝚘 𝟷𝟷 - 𝙳𝚞𝚛𝚊𝚗𝚝𝚎

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— Para com esse fogo no cu, caralho. — Gritei sem paciência enquanto a porra do Jax não parava de gastar a sola do sapato, andando de lá para cá na cela. Mané, bichão ansioso demais, não sabia simplesmente sentar e esperar a parada acontecer. — Tu tá me deixando estressado, irmão, sem caô mesmo.

— Foi mal aí, cara. — Ele respondeu sem graça e encostou o corpo nas grades, puxando bruscamente o ar para dentro dos pulmões. — É a primeira vez que tô dando fuga, tenta entender meu lado. Tô sentindo um bagulho estranho no peito, quero ficar mofando aqui pra sempre não.

— Relaxa, pô, a gente vai dar no pé hoje, juntos, mas tu precisa se acalmar. — Falei, respirando fundo. O garoto era novo e inexperiente, ainda tinha muito do que aprender. Mas assim que a gente caísse fora, eu trataria de ensinar ele a virar homem. — Se tu ficar nessa afobação toda, vai dar ruim para o nosso lado.

— Vou segurar minha onda, pode pá. — Suspirou e voltou a ficar em silêncio.

Olhei para o celular mais uma vez. A rebelião seria uma distração para facilitar nossa fuga, iria começar no meio do banho de sol, daqui poucos minutos.

Christian molhou a mão dos caras, papo de milhões mesmo, pra deixar nós livres do lado de fora da penitenciária. Pelo que me foi passado ontem à noite, um polícia nos levaria até a saída que estava desativada há anos, no leste de Bangu.

— Pegou seu bagulho com o Sabiá? — Perguntei, e Jax assentiu antes de me mostrar o canivete escondido por dentro da sua camiseta de manga longa. — Quando a gente sair, fica atrás de mim. — Murmurei e ele se virou para me encarar.

— Quero que tu esquente a cabeça comigo não, pô. Sou fiote não, irmão. — Ele falou de cara amarrada. Soltei um riso forçado pelo nariz e comecei a esfregar meus cabelos de forma inconsciente.

— Tu é teimoso pra merda, não é?

Jax deu risada, me olhando com aquela porra de deboche. Orra, toda vez que ele fazia aquilo a vontade de arrebentá-lo na porrada me subia.

Tomar no cu, viu!

— Olha só quem tá me dizendo isso. — Revirou os olhos.

Ia rebater logo com um cascudo, mas a sirene do banho de sol tocou no exato momento. Cruzei os braços no peito e sai andando na frente assim que o carcereiro abriu nossa cela, Jax seguiu logo atrás de mim.

Os outros que dariam fuga já estavam no pátio, pelos sussurros entre si a rebelião começaria em breve. Notei pelo canto de olho quando começaram a trazer os colchões vagabundos da cela, alguns policiais tentaram impedir, mas foram facilmente contidos por nós.

Menor apareceu com um isqueiro e começou a botar fogo em tudo, no meio do pátio, a fumaça e os olheiros lá em cima logo chamariam os reforços. Uma baderna se formou naquela ala do presídio, os policiais que apareciam armados logo entravam em luta corporal com os presos.

Me esquivei dos empurrões de alguns enquanto procurava com o olhar o pau no cu que foi subornado para ajudar a gente a sair desse inferno. Ele estava parado na frente de uma porta de ferro, observando tudo em silêncio.

Poncho e Diogo brotaram do meu lado, com o canivete apontado para o pescoço dos dois reféns que arrumaram. Uma eu conhecia, era a cozinheira dessa porcaria. A vontade de matá-la só crescia quando eu me lembrava da gororoba ruim que ela servia para nós, papo reto.

Às vezes, dava até diarreia por conta da comida estragada.

— Cadê o cuzão de farda? — Sabiá indagou, e eu apontei discretamente com a cabeça para o comédia no canto. — Estamos esperando o que, caralho? Vamos dar o fora daqui, parceiro.

Dono do Morro 3 [M] [EM BREVE SERÁ RETIRADA PARA REVISÃO]Onde histórias criam vida. Descubra agora