— Aguenta firme Dul, pelo amor de Deus! Aguenta! — A voz angustiada de Anahí tocou meus ouvidos, e pude me sentir um pouco mais segura. Mas peraí... eu estava viva? Não morri? — Vai ficar tudo bem, eu prometo.
— Relíquia... — Ouvi outra voz dizer em seguida, tão distante. Parecida com a minha. Será que tinha sido eu a falar aquilo? — Relíquia, por favor.
Meu peito doía muito e a sensação mórbida ainda tomava boa parte do meu corpo, mas achava que aquilo era real. Eu não tinha morrido, eu estava viva. Viva, porém não conseguia mover meu corpo, era como se eu não tivesse mais controle sobre ele.
Senti mãos macias me tocarem os braços e logo depois entrelaçarem os dedos aos meus, enquanto a pessoa sussurrava em meu ouvido como eu era forte e que tudo ficaria bem. Mas, eu queria que tudo ficasse bem? A sensação do vazio gigantesco ainda estava ali, me atormentando, mostrando que minha vida não tinha mais nenhum sentido.
— Relíquia — Voltei a repetir, inconsciente.
— Ele está morto, querida. Não se preocupe, agora você está segura. — Franzi a testa. Tentei abrir a boca e gritar, implorar para que aquela pessoa respeitasse a dor da minha perda, o meu luto por perder o homem que eu amava, mas eu não conseguia. — Ele se foi, você está livre.
Acordei do pesadelo com um sobressalto e quase cai da maca. Meu peito subia e descia em um ritmo frenético, e minha respiração estava ofegante, como se eu tivesse acabado de correr uma maratona de dezenas de quilômetros. Não pude evitar o gemido de dor que soltei assim que balancei o braço que ficava próximo a ferida da bala no meu peito. Ainda estava inflamado o ferimento, e eu dependia dos anti inflamatórios para não sucumbir a dor.
— Está tudo bem? — Maite segurou em minha mão e me encarou com os seus grandes olhos. Engoli o choro e concordei com a cabeça, em silêncio. Eu sempre concordava, apesar de sentir que tudo estava em colapso e desabando dentro de mim.
— Alguma notícia? Encontraram? — Perguntei esperançosa, mas o rosto franzido e decepcionado de Maite me deu um banho de água fria. Era sempre assim, dia após dia nesse sofrimento.
— Infelizmente, ainda não. — Ela voltou a negar com a cabeça e acariciou meus cabelos com uma mão, abaixando-se para deixar um beijo na minha testa.
Tentei sorrir para tranquilizá-la, mas o que saiu foi mais parecido com uma careta forçada de felicidade.
Era pedir demais para encontrarem o corpo de Relíquia? Há semanas estávamos a sua procura e eu só queria enterrar o meu marido de forma digna, dar o meu último adeus.
Mas, como fazer aquilo se não encontravam o corpo dele de forma alguma?
— Relíquia dando trabalho até depois de morto. Bem digno do legado dele. — Maite brincou, tentando amenizar um pouco o clima estranho que estava. Dei um risinho fraco e respirei fundo, observando a cidade pela janela do hospital.
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Dono do Morro 3 [M] [EM BREVE SERÁ RETIRADA PARA REVISÃO]
Fanfic+18| Já teve a breve sensação de que sua vida estava escorrendo por entre seus dedos, como meros grãos de areia, e você não pôde fazer nada? Foi com aquele tipo de sentimento desesperador que Dulce Maria sentiu ao abrir os olhos numa cama de hospita...