𝙲𝚊𝚙𝚒𝚝𝚞𝚕𝚘 𝟿 - 𝙳𝚞𝚛𝚊𝚗𝚝𝚎

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Observei do outro lado do pátio o moleque que o chefe deu a ordem pra eu matar. O garoto era novo e facilmente deixou as ideias dos outros subir pra mente, tinha tudo pra desenrolar aqui dentro, mas vacilou feio quando decidiu abrir a boca para contar informações da facção em troca de diminuição de pena.

Agora viria a consequência, era foda demais ir contra o movimento e mais inevitável ainda era tu não ser morto por conta disso. Quando entrava nesse mundo, o bandido tinha que ter consciência que se caso viesse a cair, morreria, mas não abriria a boca pra entregar ninguém.

Só ia esperar o melhor momento para matá-lo sem a interrupção dos botas. Ontem arrumei um canivete com o Sabiá, e apesar do chefe querer que eu torture o traíra antes, comigo não tinha essa não, vou ser preciso e cortar logo o pescoço. Já não bastava tá colocando minha cara na reta, a última coisa que eu precisava era ser mandado pra solitária de novo.

Bagulho cabuloso, era uma semana toda sem comer ou beber alguma coisa. Todo dia levando porrada dos polícias até não se aguentar mais em pé.

— E aí perna de pau, vai jogar não? — Poncho chegou me dando um toque de mão, e apontou para os caras jogando futebol no canto do pátio.

Neguei com a cabeça e traguei meu cigarro em silêncio. Poncho, diferente do que aconteceu comigo, engordou pra caralho aqui dentro. Não sei como, já que a gororoba que serviam aos presos era ruim pra merda e ele recebia pouca visita, na verdade só das putas que ele usava para aliviar as bolas.

— Mandaram apagar, não foi? — Perguntou, percebendo meu olhar insistente no garoto. Assenti e continuei a observar com atenção todos os movimentos dele. Estava deslocado e até olhava com desconfiança para todos, acho que ele entendia que o que ele fez uma hora ou outra teria consequência. — Esse mano mó comédia, pô. Pediu pra morrer na cara dura mesmo. — Negou com a cabeça e cruzou os braços em cima do peito.

— De amanhã ele não passa, pode crê. — Falei simplesmente e apaguei o cigarro com a sola do sapato.

— Cadê o Jax? — Estranhou em não o ver ao meu lado. Contei a ele sobre a surra e de que eu estava sem celular agora pra falar com o Christian lá fora. — Sua mulher não te dá essa fortalecida porque mesmo?

— Não quero ela envolvida nisso, tu sabe muito bem. — Respondi serinho e Poncho deu de ombros, fazendo maior cara de otário. — Mas fala tu aí, boca de veludo veio fazer o que aqui? Rata pra caralho, mermão. Abre o olho com essa aí, falô?

— Ela veio com um assunto torto aí, primeiro vou desenrolar o bagulho pra ver se tem procedência e depois eu conto.

Neguei com a cabeça. Esse daí quando se tratava da vacilona lá da Anahí, ficava todo de caô para o meu lado. Parecia uma mula, pô. Se não ficasse esperto, ela ia botar ele facinho no bolso de novo.

O banho de sol acabou pouco tempo depois. A aparência de Jax estava bem melhor, mas ele ainda sentia dificuldades para ficar em pé e respirar. Se pá devia ter quebrado algumas costelas aí.

Era meio da tarde quando um cana apareceu na frente da nossa cela para me dizer que eu tinha visita no particular. Jax me olhou estranho e eu balancei a cabeça. Ah pronto, agora virou festa, todo dia alguém vindo encher a porra da minha paciência aqui dentro.

O cana ficou me empurrando pelo corredor em direção a sala de visitas, a última vez que usei ela foi quando o advogado incompetente que Dulce contratou veio me dizer que a redução da minha pena tinha sido negada.

Assim que o filho da puta me jogou dentro da sala reservada e fechou a porta, fiquei puto com quem eu encontrei do outro lado da sala, me esperando. Meus punhos cerraram ao lado do corpo e juro que eu vi somente vermelho na frente dos meus olhos, tudo que eu mais queria era matar e torturar aquela imunda lentamente em minhas mãos.

Dono do Morro 3 [M] [EM BREVE SERÁ RETIRADA PARA REVISÃO]Onde histórias criam vida. Descubra agora