— Porra, Dulce, está bebendo de novo? — Tomei um susto quando ouvi a voz dela atrás de mim. — Ainda são nove horas da manhã, amiga.
Despejei o líquido rapidamente no ralo da pia e me virei para ela com um sorriso, tentando não parecer nem um pouco afetada com a sua presença repentina.
— Era água. — Dei de ombros e fui me afastar, mas Anahí segurou um dos meus braços.
Fiquei em silêncio enquanto ela se aproximava para sentir o hálito da minha boca, deixando uma grande lufada de ar escapar quando percebeu que eu estava mentindo para ela.
— Não sei mais o que fazer pra te ajudar, cara. — Ela negou com a cabeça e me encarou nitidamente decepcionada.
Mas o que eu podia fazer? O álcool me acalmava e fazia todos os meus problemas parecerem bem simples e pequenos diante da situação. A verdade era que, eu meio que perdi o controle da minha vida e estava agindo no automático, sem me dar conta que minhas atitudes refletiam indiretamente nas pessoas à minha volta.
— Você já faz muito por mim, Any. — Suspirei, e tentei dar o meu melhor sorriso para tranquilizá-la. Troquei um pouco os pés ao caminhar até a sala e me jogar lá no sofá. Alice ainda estava dormindo, e eu aproveitava aqueles momentos para me entupir com bebidas que fariam eu esquecer da minha realidade.
Ela completaria dois anos no próximo mês e só Deus entendia o meu lado, toda vez que eu olhava para a minha própria filha eu lembrava de algo que eu queria esquecer, pelo menos um pouco. Eu precisava passar pela fase que eu apelidei de "desintoxicação do Relíquia", mas o rosto de Alice não deixava.
Como esquecer do Christopher se a cada vez que eu olhava para Lis eu o via ali?
Uma coisa que eu agradecia, e muito, era que Alice já não perguntava tanto pelo Relíquia como antes. Quatro meses pra mim era pouco tempo para superar o luto, mas para a cabecinha dela era uma eternidade.
Ouvi um barulho estranho vindo lá de fora e caminhei até a janela, sentindo o sol escaldante queimar as minhas vistas. Essa semana em si foi toda estranha, a polícia estava espalhada em monte pelo morro e parecia que hoje em particular tinham se fixado em cada canto daquele lugar, inclusive na frente da casa da Anahí.
Três policiais discutiam entre si e olharam feio na minha direção quando perceberam que eu estava olhando para eles. Segurei para não revirar os olhos e voltei a sentar no sofá. Estava ficando insuportável morar no Chapadão depois da pacificação, ainda mais depois que espalharam para os PM que eu era a mulher do Relíquia, e já estava cogitando a hipótese de me mudar com Alice para outro lugar.
Pulei de susto quando a porta de casa abriu, mas forcei um sorriso assim que vi meus amigos entrarem.
— E aí bicha. — Leandro se jogou do meu lado e não precisou de cerimônias para ligar a televisão da sala. Folgado até demais! — Cadê a barbie favelada?
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Dono do Morro 3 [M] [EM BREVE SERÁ RETIRADA PARA REVISÃO]
Fanfiction+18| Já teve a breve sensação de que sua vida estava escorrendo por entre seus dedos, como meros grãos de areia, e você não pôde fazer nada? Foi com aquele tipo de sentimento desesperador que Dulce Maria sentiu ao abrir os olhos numa cama de hospita...