Koúkla Mou - Livro 3 - Novos Desafios

7. Noitada da Pizza

Julho de 1820 – Grécia – Pireus

Com o passar dos dias pensei que Dimitri fosse aceitar mais o fato deu estar trabalhando, só que eu não poderia estar mais enganada. Os rapazes revezavam todos os dias para ficar comigo na pensão e me trazer de volta para casa em segurança. Como não adiantava falar com Dimitri, tive que aceitar, e em troca eu dava bebida na faixa para eles.

Quando era a vez de Dimitri me buscar, ele marcava de fechar negócios com os comerciantes, na pensão da madame, e isso envolvia muita bebida e mulheres se divertindo em sua mesa. Ele recusava atenção extra da mulherada e sempre ficava de olho em mim, e a melhor parte era voltar cavalgando junto com ele em cima de Léke. Esse era um dos poucos momentos que tínhamos para ficarmos juntos e abraçados sem ter que justificarmos para os outros e para nós mesmos o quanto gastávamos um do outro. E não vou negar que eu me aproveitava da situação porque eu me aproveitava. Relaxava meu corpo deixando Dimitri sustentá-lo com o seu, que era quente e se encaixava tão bem no meu. Ele ficava com os braços em torno de mim segurando as rédeas, e eu o sentia cheirando meu cabelo, eu não o censurava porque eu adorava sentir o cheiro de seu pescoço que me era muito gostoso e familiar.

Eu também já estava acostumada a trabalhar na pensão de madame Louise, sempre tinha uns engraçadinhos que achavam que garçonetes eram fáceis e tentavam passar a mão em mim ou me beijar, mas eu dava um jeito de desviar e não arrumar briga. Já tinha feito amizade com todos os funcionários e aprendido alguns macetes. As garçonetes eram legais comigo, cada uma ao seu jeito, a que eu me dava melhor era Mary.

E fora que eu adorava morar naquele lugar, acordar e dar de cara com aquele mar azul que se perdia na imensidão do céu, realmente não tinha preço. E tinha o cheiro de sal, a brisa do mar, era um lugar muito gostoso de morar, totalmente diferente da vida que eu levava. Apesar deu ter uma vida agitada aqui também, a vista, o lugar e Dimitri faziam tudo valer a pena. E o melhor de tudo era trabalhar perto de casa, eu sempre quis isso para mim, qualidade de vida. E eu estava tendo tudo isso em pleno século 19 com todo aquele glamour de galanteios, cavalheirismo e boa comida. Várias vezes me senti dentro de algum filme com cenário e figurino antigos.

Acordei a semana toda tarde porque chegava de madrugada em casa cansada e com as pernas doidas. Precisava voltar a treinar novamente, estava bem preguiçosa. Coloquei meu robe azul marinho, ajeitei o cabelo num coque e desci. A casa estava silenciosa, com certeza os rapazes já não estavam, eles sempre levantavam cedo para trabalhar, era raro tomarmos café ou almoçarmos juntos agora. Tomei banho e fui comer alguma coisa, Dimitri tinha pedido para dona Gilde fazer panquecas todas as manhãs. Creio que ele pediu isso para me agradar e me fazer sentir em casa, e era assim que eu me sentia.

Passei a tarde toda com Mávro, cuidei dele e depois cavalgamos pelos campos ali perto junto com Manus e seu cavalo. Ele era encarregado de me vigiar, era obvio que ele queria estar com seus primos, mas Dimitri quando se tratava da minha segurança era bem rígido e mandão. Manus era uma companhia agradável, não falava muito, estava de cabelo preso o rosto sério e a postura impecável.

— Sinto muito Manus, por seu primo ser tão cabeça dura e te deixar de babá.

— Não se preocupe senhorita, ele teme pela sua segurança.

Quando chegamos em casa deixei Mávro com Manus, me arrumei e fui correndo trabalhar. Estava gostando muito de ocupar meu tempo trabalhando, me sentia com mais autonomia sobre mim, mais independente. Se Deus me livre um dia Dimitri e eu tivéssemos que nos separar, eu saberia me virar naquela época. E cada dia era uma aventura diferente naquela pensão, é claro que tinham acontecido alguns acidentes de trabalho. Sim, eu já tinha deixado cair cerveja em um cliente, mais a culpa foi dele por ter apertado o meu traseiro! Também já tinha escorregado no vômito nojento de alguém e caído em cima sujando minha saia, ainda bem que Mary tinha uma saia reserva e me emprestou.