17. Nostalgia

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Agosto de 1820 – Grécia – Porto de Pireus

Acordei, mas fiquei deitada na cama pensando em tudo o que tinha me acontecido desde que fui parar ali na Grécia. Minha vida tinha tomado um rumo totalmente diferente do que eu tinha planejado. Não que eu fizesse muitos planos, mas eu tinha minha rotina, meus amigos, uma lista de lugares para conhecer, comer, beber...

Estava me sentindo um pouco deprimida, com o corpo todo dolorido e sentindo falta do meu canto, da minha época e da minha tranquilidade. Saudades da Lori, queria tanto falar para ela o que estava acontecendo. O que será que estava acontecendo por lá? Será que ela estava bem? Minhas costas estavam doendo de ficar deitada, eu tinha que levantar e dar um jeito de enfrentar mais um dia. Precisava ao menos tomar um banho urgente para tirar o cheiro daquele filho da puta de mim, da minha pele, do meu cabelo, do ar que eu estava respirando! Eu nem queria imaginar o que teria acontecido se Dimitri não tivesse chegado a tempo! Melhor não pensar mais nisso.

Koúkla mou. — disse Dimitri batendo na porta.

Minha voz ainda não saia, isso de sumir a voz ainda não tinha acontecido comigo.

— Vou entrar.

Sentei na cama, estava de camisola e ajeitei meus cabelos que estavam bem cheios. Dimitri entrou com uma bandeja cheia de comida e bebida. Ele estava com os cabelos dourados soltos, espalhados pelos ombros largos, e a camisa com alguns botões abertos por causa do calor. A barba estava por fazer e ele cheirava a sabonete e a grama molhada. Agora pela manhã dava para ver suas olheiras, o rosto triste com a testa franzida de preocupação.

— Ainda não consegue falar?

Neguei com a cabeça, ele colocou a bandeja em cima da cama ao meu lado, me deu um beijo na testa e se sentou na cadeira ao lado da cama.

— Como você está se sentindo moça? — perguntou me analisando. — Vim aqui algumas vezes e você estava dormindo profundamente. E já passou da hora do almoço e você deve estar com fome.

Eu lhe dei um sorriso e passei a mão na barriga. O cheiro estava tão gostoso e tinha tudo que eu gostava, não fiz cerimônia e comecei a comer. Lhe dei um pedaço de queijo na boca e indiquei a comida para ele comer junto comigo, e foi o que ele fez, começou a comer e a me dar pedacinhos de queijo e pão. Senhor! Eu poderia me acostumar fácil em acordar ao lado desse homem todas as manhãs e tomar café na cama depois de um amor matinal bem gostoso e demorado.

— Porque você ficou vermelha, moça? — perguntou ele me olhando curioso com a sobrancelha levantada.

Levantei meus ombros indicando que não era nada, ainda bem que eu não conseguia falar.

— O Dr. Krystos vai chegar daqui a pouco para examiná-la.

Concordei. Talvez o médico me passasse algum remédio para dor, eu não achava que tinha quebrado algo em meu corpo.

— Me dói o coração vê-la assim machucada de cama e sem conseguir falar, moça. — disse ele pegando minha mão e beijando. — Eu faço tudo para fazê-la se sentir melhor, é só me dizer do que precisa.

Eu o abracei apertado sentindo seu cheiro, e lhe dei um beijo no rosto tentando tranquilizá-lo. Eu precisava de tempo para melhorar e as feridas cicatrizarem, e também precisaria de anos de terapia para entender tudo isso que estava acontecendo comigo, e como superar.

— Primo. — disse Manus batendo na porta.

Dimitri se levantou e olhou para mim, eu assenti.

— Pode entrar, primo.

— Com licença, senhorita, primo. Vim avisar que o médico chegou. — disse Manus entrando no quarto.

Graças a Deus ele estava com a aparência boa, tirando o olho roxo e um corte na sobrancelha. Seus cabelos loiros estavam presos, os olhos castanhos atentos e com a postura impecável dos Kardakos. O chamei com as mãos, ele veio para perto de mim, eu levantei meus braços até onde conseguia e ele veio se encaixando no meu abraço. Eu tinha que agradecê-lo muito pela coragem e pelo plano que nos tirou daquele navio. Dei vários beijinhos em seu rosto e lágrimas incontroláveis corriam pelo meu.

Koúkla Mou - Livro 3 - Novos DesafiosOnde histórias criam vida. Descubra agora