23. Sorte no Jogo

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Abril de 1821 – Grécia – Finiki

O dia amanheceu, Georgiana saiu cedo e eu fui cuidar dos cavalos. Quando voltei fui preparar o café da manhã. Estava com vontade de comer panquecas e foi o que eu preparei, e também ovos mexidos e bacon.

— Como é bom acordar com esse cheiro de comida, Glykiá mou.

Me virei para vê-lo e ele estava sentado na cama com seus cabelos negros soltos, a barba por fazer e sem camisa. Seu lábio e seu olho direito estavam inchados.

— Bom dia Tasos, como se sente?

— Kaliméra Docinho. Me sinto como se uma carroça com muitos cavalos estivesse passado por cima de mim algumas vezes. — respondeu com cara de dor.

— Porque bateram tanto assim em você?

— Eu estava buscando informações sobre meu primo com os prisioneiros e os soldados de prontidão não gostaram da minha tagarelice e deu nisso. Mas valeu a pena.

— Você conseguiu descobrir alguma coisa? — perguntei esperançosa.

— Sim, me disseram que ele foi muito ferido e o enviaram para algum esconderijo em Finiki.

— Onde fica isso? É longe daqui?

— Fica algumas horas daqui. Chegando lá teremos que procurá-lo sem levantar muita suspeita.

— Eu tenho certeza que vamos encontrá-lo.

— Eu gosto do seu otimismo, senhorita.

— Você acha que os soldados que te prenderam vão ficar atrás de você?

— Eles não perderiam tempo correndo atrás de mim quando se tem uma guerra para vencer, Glykiá.

Terminei de preparar o café da manhã e levei para ele em cima de uma bandeja e coloquei na cama ao seu lado.

— Hum... panquecas. Eu pedia para a dona Gilde preparar para mim nos dias que você não fazia. — disse ele comendo faminto com calda escorrendo pela sua boca. — Sente-se e coma comigo.

Eu peguei um outro prato e enchi mais um copo com suco e me sentei na poltrona de frente para ele.

Tasos me serviu e me deu um pedaço de queijo na boca. Essa mania que eles tinham de cuidar do outro era de família.

— Glykiá, me diz uma coisa. Porque eu estou pelado?

— Bom... você estava muito sujo e Georgiana achou melhor limpar você. — respondi dando um gole no suco.

— É claro que vocês acharam melhor limpar o moribundo em seu leito de morte! — disse fingindo indignação e dando uma risada gostosa e depois colocando as mãos na costela sentindo dor.

— Eu juro que não olhei.

— Você também jurou que não iria se meter em confusão, mas veja só onde eu estou, senhorita!

— Eu estava cruzando os dedos quando jurei que iria para Pireus. Me desculpe.

— Agora quando eu for pedi para a senhorita me prometer algo vou ter que olhar para as suas mãos para ver se me fala a verdade!

— Não prometerei em falso novamente. — disse mostrando meus dedos abertos.

Tasos pegou minha mão e deu um beijo demorado.

— Eu nunca duvidei das suas habilidades Glykiá, veja bem, mas me tirar de uma cela trancada, dentro de um acampamento cheio de homens armados sem que um tiro fosse disparado é difícil de acreditar. Ainda mais se eu disser que duas mulheres me salvaram.

Koúkla Mou - Livro 3 - Novos DesafiosOnde histórias criam vida. Descubra agora