Capítulo dois

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Vinte e quatro horas perturbadoras na minha mente, pensamentos e mais pensamentos a par de tudo que ouvira no alto daquele lugar, muitas coisas ainda não faziam completo sentido para mim, eram perguntas que não teriam respostas imediatas e isso fazia meu corpo surtar em ansiedade.

Em uma cúbica sala situada no mesmo lugar subterrâneo, tendo suas paredes totalmente transparentes pelas vidraças- apesar de resistentes como um tanque de guerra-, os sons das temporárias facas minhas e de Runa estrondavam

- esquerda- diz a garota ao arremessar uma delas em minha direção, pude senti-la passar milimetricamente pelo meu rosto

- ei! - digo- que eu saiba o objetivo é não acertar verdadeiramente

- o objetivo é você desviar, outro alguém não vai se importar em derramar seu sangue- ela então troca nossas armas para os bastões de metal

- certo, mas você sabe que eu poderia simplesmente sumir da reta né?

- e é exatamente por isso que esses sensores inibem seus poderes- diz apontando para os objetos retangulares postos ao teto do lugar, foram projetados pela própria garota que disseminava palavras enquanto tentava acertar golpes em mim enquanto eu tentava revidar- precisa aprender combate corporal, não vai poder usar suas habilidades sempre, sabe disso

- eu sei, limitações

- eu diria, precauções- diz- cuidado com os pés

- hãn? - antes que pudesse fazer meus reflexos funcionarem, caí ao chão

- Ana, o que houve? está totalmente sem foco- diz me ajudando a levantar, minhas costas doíam pelo baque

- está mesmo perguntando o motivo? tipo, você por acaso estava no mesmo ambiente que eu? - meu tom sarcástico pareceu irritar Runa, que revirou os olhos

- sim Ana, eu estava, mas pelo mesmo motivo que peço foco para desviar de um bastão, peço foco para não deixar isso tudo controlar suas ações e pensamentos, quanto mais deixar te consumir, mais louca fica

- não é tão fácil quanto parece

- guarde seus impulsos para liberá-los na hora certa- diz dando uma piscadela

- ainda está se referindo ao treinamento?

- idiota- ri balançando a cabeça- direita!

Novamente, desprevenidamente, meu corpo foi ao chão.

Runa e eu treinávamos três vezes na semana, como ela mesma disse incansáveis vezes, eu precisava aprender combate corporal, e isso também a ajudava de certa forma, não a lutar -conheço poucas pessoas que conseguiram arrancar uma gota de sangue daquela garota- mas com seus poderes. Todas as armas que usávamos, ela quem materializava, isso a desgastava obviamente, mas como já devem ter percebido, Runa não era bem o tipo que deixava limite impedi-la de se aprimorar, alguns chamariam isso de autopunição, eu discordo. A admirava incansavelmente, suas habilidades iam além do que se poderia ver externamente, seu jeito era dócil, otimista e com poucas palavras era capaz de buscar sua alma de volta a quietude, tenho certeza de que seus elementos espirituais eram totalmente alinhados. Um pouco antes de criarmos a aliança, nós duas saíamos todos os dias, às vezes para conversar sobre toda a loucura que estava se passando, dançar em algum clube ou simplesmente observar tudo do alto, as luzes dos prédio, o tráfego incansável e seus diversos barulhos carregados do brilho da lua, adorava passar o tempo com ela, e com a aliança tudo isso foi obrigatoriamente intensificado, apesar da responsabilidade e compromisso com os demais, ainda era eu e ela. Todos os cantos do universo me ouviam pedir para que se um dia o colapso do mundo viesse novamente, permanecêssemos sentadas à borda do caos, ouvindo algumas das músicas estranhas dela.

Nascentes do poderOnde histórias criam vida. Descubra agora