crepúsculo and harry potter

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Já se passava das dez horas da noite, e nenhuma das duas queria voltar para suas casas.

Poucos carros passavam nas ruas, e os postes de iluminação do pequeno parque já estavam ligados. Elas estavam lá, sentadas em um banquinho de madeira, Lisa em uma ponta e Chaeyoung na outra, distantes fisicamente.

Lisa olhava tudo com atenção, para o gramado verde, as mesinhas de xadrez um pouco distantes, para o parquinho e a caixa de área. Enquanto Chaeyoung fitava o céu azul escuro, coberto por estrelas brilhantes, satisfeita com a presença daquela garota que conheceu naquele mesmo dia.

Lisa fechou os olhos por instantes, concentrada no barulho que o grilos faziam, feliz com a paz que aquilo lhe trazia, mas a voz sussurrada dela a trouxe de volta.

— Me conte sobre você, seus interesses...

A tailandesa mordeu o lábio inferior, ainda sem olhar para ela. Queria ignorar aquela sensação de conforto que sentia ao lado dela.

Lisa não tinha interesses. Ela não tinha interesse por nada. E ela não sabia como escapar desse diálogo.

Os outros, ao menos, tinham gosto pela vida, ou pelo menos aparentavam ter. Pareciam entender e ter algo que para Lisa era inacessível. Ela se achava esquisita. O que era possível ao seus olhos. Frequentemente ela se sentia inferior. Lisa apenas queria encontrar um jeito de se afastar do mundo. Mas não tinha lugar para a ir.

Suicídio? Ela já pensou nisso, na verdade, passou uma boa parte da sua adolescência pensando em suicídio. Mas os livros a salvaram de desistir da própria vida, e isso é algo que Lisa nunca contou a ninguém, nem mesmo para a Jennie.

O ideal para Lisa seria dormir por uns 10 anos, mas ela sabe que isso é humanamente impossível.

— hum, Crepúsculo e Harry Potter. — ela diz e não espera a risada baixa que sai da boca de Chaeyoung.

Ela olha Chaeyoung de relance, apenas para confirmar a sua ideia de que ela fica linda sorrindo.

— Eu nunca assisti esses filmes e nunca li o livro deles. — ela comenta como se fosse a coisa mais normal do mundo. Chaeyoung tenta ignorar o olhar surpreso de Lisa e como ela fica fofa balançando as pernas no ar descontraídamente.

— Como assim você nunca leu Crepúsculo e Harry Potter? — Lisa fala assustada, e Chaeyoung percebeu que aquela era a primeira vez que ela demonstrava alguma emoção. Lisa sempre pareceu séria demais e neutra demais.

Chaeyoung tentou fingir que não havia gostado disso.

— Nunca me interessei por bruxos e vampiros. — ela disse dando de ombros.

— Então acho que não temos nada em comum. — Lisa disse baixinho, voltando a olhar em volta. Parecia decepcionada.

Chaeyoung sorriu enquanto olhava para ela. Tudo que Lisa fazia deixava Chaeyoung risonha.

— Talvez.

E elas ficaram quietas outra vez.

Na verdade, elas não conversaram muito naquela noite. Lisa não tinha capacidade alguma de socializar, e Chaeyoung, estava focada demais em não assusta-la e impressiona-la.

Roseanne queria impressionar Lisa, mas não sabia como.

Ela havia ido com as suas melhores roupas, estava sem seus óculos e até passou um pouco de maquiagem. A questão é que ela nunca fez isso. Chaeyoung nunca quis impressionar tanto alguém como agora. Mas ela estava perdida. Seus olhos estavam perdidos.

Ela estava perdida na forma como os olhos de Lisa brilhavam ao olhar as estrelas, ela estava perdida na forma como os dedos de Lisa fazia movimentos em sua própria coxa, como se ela estivesse desenhando algo em si mesma sem perceber. Roseanne estava perdida no rosto dela, e em como ela era bonita.

Ela queria pedir o número de Lisa.

Chaeyoung não sabia como pedir. Ela achava que isso já era automático em encontros, mas Lisa não parecia que iria, de forma voluntária, dar seu número a Chaeyoung. Na verdade, aquilo não parecia um encontro, já que elas quase não conversaram, e Lisa nem sequer quis sentar perto dela.

Então, para Chaeyoung, esta claro que, se ela quiser alguma coisa, teria de faze-la com as suas próprias mãos. Ninguém podia ajuda-la, e se ela fracassar, bem, teria que se contentar com isso.

— Eu queria seu número. — ela disse rápida, e aquilo definitivamente escapou de sua boca involuntariamente. Chaeyoung respirou fundo quando Lisa a olhou de cenho franzido. — Desculpa... — ela riu sozinha, olhando para o próprio colo. Em momento algum Lisa tirou os olhos do rosto dela. — seria errado eu pedir seu número?

Lisa riu. Ela não tinha a intenção, mas o barulho acabou escapando de sua boca. Chaeyoung a olhou e sorriu timida, e de alguma forma, o momento se tornou...

Confortável.

Lisa estava confortável.

O que é o tipo de descrição que não significa nada para a maioria das pessoas, mas, para alguém que tem TOC, que não gosta de multidões, que não gosta de socializar, que não gosta de conhecer novas pessoas, que não gosta de ter experiências estranhas, estar confortável era uma coisa maravilhosa. Confortável era o melhor tipo de momento que Lisa poderia ter.

— Não... não seria errado.

Elas sorriram uma para a outra e Lisa percebeu que fazia muito tempo que não sorria verdadeiramente para alguém. Mas parecia fácil sorrir de verdade com Chaeyoung por perto, e chegava a ser estranho.

Lisa ditou se número enquanto Chaeyoung o salvava em sua lista de contato. Logo em seguida elas se levantaram do banquinho e ficaram séculos apenas se encarando, poucos passos uma da outra. E quando Lisa percebeu aquela troca de olhar ela sorriu tímida e começou a chutar algumas pedrinhas, algo que ela nunca fazia, mas Chaeyoung a deixava nervosa.

— Achava esse telefone uma porcaria... — Chaeyoung falou, olhando seu celular que estava ligado agora no contato de Lisa. — mas agora é meu bem mais valioso.

Lisa a olhou e sorriu pois tudo que Chaeyoung fala parece ridículo e ela se sentia em um filme idiota de romance no Natal. E elas nem estão no Natal.

— Quando chegar... me mande mensagem. — Lisa disse tímida, ela encolhe os ombros ao escutar o que ela mesma falou, que ridícula, ela pensou.

— Pode deixar! — ela disse sorridente, esticando o braço e fazendo um "beleza" com a mão.

Lisa riu baixinho e só ali que ela percebeu que os olhos de Chaeyoung se transformavam em duas linhas quando ela sorria.

— Então, eu acho que já vou indo. — ela sussurra, olhando como Chaeyoung pareceu triste ao assentir.

Ela girou os calcanhares e foi na direção oposta de Chaeyoung. Lisa ainda sentia que Chaeyoung estava olhando para ela, ela ainda sentia isso porque toda vez que a garota loira a olhava, uma onda elétrica passava por seu corpo e fazia cócegas em suas mãos. Era uma sensação estranha, mas Lisa gostava.

— Tchau Lisa!

A tailandesa se virou e viu Chaeyoung acenando para ela compulsivamente, com um sorriso no rosto. Lisa foi irradiada por aquele sorriso, e ela quis fingir que não havia gostado disso.

Lisa apenas sorriu para ela e voltou a caminhar. Ela estava tão letárgica que não sabia nem para onde estava indo, aquilo realmente foi surreal para ela.

Chaeyoung era surreal.

Naquela noite, quando Lisa chegou em casa e encontrou Jennie dormindo no seu sofá outra vez, seu mau humor enrolou todo o seu ser, mas quando ela ouviu o barulho de notificação do seu celular, ela sorriu.

Era Chaeyoung, mandando um emoji de panda e um boa noite.

Obsessive Compulsive Disorder ;; Chaelisa Onde histórias criam vida. Descubra agora