O Recomeço

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Há pouco menos de um ano, não cabia tanto espaço para a ansiedade e medo presente em um garoto de 17 anos que recebera a notícia de que seus pais estavam a procura por uma nova casa, sendo longe o suficiente para não terem chances de voltar tão facilmente para o antigo lar que, agora, deixava apenas uma memória dolorosa.

Depois da morte de sua irmã mais nova, um crime relembrado como o mais tortuoso que sua família tive que lidar, seus pais não viram mais sentido em continuar morando em um lugar que os trazia muita dor. Partindo para uma cidade desconhecida, a fim de seguir um caminho desesperadamente desejado, onde poderia encontrar um possível recomeço, Osaki Shotaro tinha o pensamento de se ver longe de qualquer ocorrido injusto, como uma vez presenciou.

Ele sabia que, para um recomeço, haveria de ter muitas coisas para enfrentar. Ao se estabelecer na nova casa, Shotaro estava prestes a caminhar para uma das fases mais difíceis de suportar: a escola. O garoto de cabelo loiro acastanhado estava encarando o relógio ao lado de sua cama até finalmente chegar o horário esperado de pegar sua mochila, atravessar a porta de seu novo quarto e descer as escadas para a sala de estar. Encontrou somente sua mãe que terminava de ajeitar um quadro com uma pintura de paisagem na parede. Ela parecia tão alheia que mal notou o garoto se aproximando de si para lhe deixar um beijo na bochecha e dizer que estava na hora de ir para a escola.

- Estou indo, mãe – disse ele, atraindo o olhar na mais velha depois de breves segundos. Ela mantinha um olhar perdido há um bom tempo e quase não esboçava um sorriso. Shotaro entendia sua mãe e não se mostrava incomodado em sua frente. Aprendera a ser paciente com ela. Por isso, não se importou quando recebeu somente um aceno vindo dela. – Até mais tarde!

Como seu pai ainda estava saindo do trabalho, o garoto apenas seguiu para fora de casa. Olhando para o céu, pôde ver a claridade do dia dando o lugar para o início da noite. Shotaro preferira estudar no período da noite para ajudar sua mãe a cuidar da casa durante o dia. Contudo, o principal motivo era ficar atento a saúde da mais velha.

Há tempos que Shotaro não gostava de se enturmar como os outros alunos. Quando chegou na nova escola, procurou evitar qualquer tipo de interação com aqueles jovens agitados que, felizmente, ignoraram sua existência na primeira noite de aula. Não ser notado era o que o garoto mais queria. Passava pela sua cabeça somente o objetivo de estudar muito em seu último ano de aula e não deixar se distrair com outras coisas.

Apesar de parecer adorável e simpático, era difícil de fazer amizades. Ele era um aluno dedicado em tirar notas perfeitas, mas em questão de se comunicar com o resto da turma, podia considerar isso como um dos problemas que carregava consigo há anos.

Dessa forma, ele passou as duas primeiras semanas em sua nova escola praticamente se escondendo dos outros alunos. Além disso, diria que também procurava não olhar diretamente para eles. Porém, em uma dessas noites, enquanto andava por um corredor no horário do intervalo, acabou vendo alguns garotos do time de basebol importunarem outro aluno, aparentemente mais novo que eles.

Ao presenciar aquela cena, bateu aquela dúvida se deveria interferir ou não. A vítima parecia tão indefesa perto dos jogadores. Então, silenciosamente, Shotaro se virou e saiu de perto daquele corredor apenas para ir até diretoria da escola.

Podia ser tímido o suficiente para não se envolver em confusão, mas não aguentaria deixar aquele outro garoto naquela situação.

Quando chegou no corredor da sala da diretora, pôde ver uma mulher alta que vestia blazer cinza, camisa branca, uma saia até os joelhos da mesma cor e um salto fino preto, segurando um copo de café. Era a diretora Choi Sooyoung, uma das únicas pessoas com quem Shotaro trocou mais de três palavras. Havia gostado dela desde o primeiro dia de aula.

Antes que ela entrasse em sua sala, Shotaro correu para alcança-la.

- Diretora, espere! – conseguiu chamar sua atenção a tempo.

- Oh, Shotaro, certo? – perguntou a ele que assentiu em seguida. – O que houve?

Então, o garoto começou a contar o que viu. Disse que não sabia como intervir e, por isso, escolheu ir à direção manifestar o que os jogadores do time de basebol estavam fazendo com um outro aluno. Assim, não esperando mais nem um minuto, a diretora se apressou em ir até o local dito por Shotaro.

Enquanto a mais velha se distanciava, abismada o suficiente para aplicar uma punição severa, Shotaro notou que alguns alunos puderam ouvir o que havia acabado de denunciar. E foi nesse momento que o garoto percebeu que estava ferrado.

Não restavam dúvidas sobre isso. Três dias após o ocorrido, os mesmos jogadores que estavam envolvidos descobriram quem fora a pessoa que os dedurou para a diretora. Era o que faltava para Shotaro se tornar praticamente invisível para todos. Em tão pouco tempo, o garoto ajudou a resolver um problema para depois criar outro.

O que era para continuar parecendo apenas um aluno reservado e longe de confusão, agora estava contando com a sorte para não ser encontrado. Algumas vezes não tinha como evitar. Ele sentia olhares sobre si e podia imaginar o quão ameaçador eles eram.

Estava sendo perigoso para ele andar sozinho pelos corredores daquela escola. 

Foi assim que, em mais uma noite que ele procurava se esconder desses valentões, Shotaro esbarrou em outros dois alunos.

- Cuidado, garoto! – um deles disse. Seu cabelo castanho caía sobre seus olhos, fazendo ele os afastar impacientemente. – Até parece que alguém morreu.

- Se me acharem, talvez isso aconteça mesmo – Shotaro olhava apreensivo para os lados.

- Você está fugindo de quem? – perguntou o outro garoto, este que tinha os fios cor de rosa. Shotaro reconhecia os dois, visto que eram de sua turma. Lee Donghyuck e Wong Hendery eram amigos e, apesar de terem personalidades diferentes, não se desgrudavam.

- Dos jogadores. Eles não me deixam em paz! – suspirou pesadamente. – Estão esperando o momento para me encontrar sem ninguém por perto. Não sei mais onde me esconder.

Os dois garotos se entreolharam preocupados. Imaginavam que alguns alunos podiam ser cruéis quando queriam, mas aquele time tinha apenas garotos procurando por encrenca. Ao verem o desespero no olhar de Shotaro, perceberam que precisavam se aproximar dele.

Haviam o notado algumas vezes durante as aulas. Era curioso o fato do garoto não interagir com os outros colegas e essa parecia ser sua escolha. No entanto, diante de uma situação como aquela, puderam enxergar uma oportunidade de o conhecer.

- Vamos ficar com você, Shotaro – disse Hendery, passando seu braço pelos ombros do garoto. – Não precisa mais ficar sozinho.

- Isso é sério? – olhou surpreso para os dois, logo abrindo um sorriso extremamente fofo quando eles concordaram.

A partir desse momento, os três começaram a andar juntos, só que com Shotaro ficando na maioria das vezes com o gorro da jaqueta para esconder seu rosto. Ele não queria que os novos amigos contassem nada para alguém da direção sobre o que ele sofria na escola, porque seus pais tinham problemas o suficiente para se preocuparem. Era um conflito a menos que deixaria de levar a eles. 

Young and Pure - SungtaroOnde histórias criam vida. Descubra agora