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  — Você não ia viajar? — a voz era conhecida, mas ainda estava tão distante que você insistia em manter os olhos fechados.

— Teu celular não para de tocar desde de manhã. Você precisa acordar, esse quarto tá um fedor de bebida.

— Mais cinco minutos. — resmungou muito sonolenta. A cabeça latejava e o estômago estava revirado.

— Já volto. — a voz falou e você pode escutar barulhos de passos cada vez mais longe.

Saeko havia passado ali depois da festa, pois ela estava bêbada demais para voltar para casa e sua casa era a mais perto. Como ela já estava muito bem acostumada com a ressaca ela acordou cedo, tomou um banho gelado e comeu algo, e assim a ressaca dela passou mais rápido.

— Pega. — Saeko diz tentando te acordar para você pegar o remédio.

— Obrigada Asahi.

— Puta merda [Nome]. Toma aqui que eu vou encher a banheira e pagar uma roupa limpa.

Você apenas assentiu tomando o remédio com dificuldade. Saeko fez o que havia dito, foi até seu guarda roupa pegando um roupão simples que havia ali, uma calcinha, e uma toalha no banheiro. Enquanto a banheira terminava de encher, Saeko foi até você, tirando sua roupa, ela quase fez isso à força, pois era só você tentar sentar que caía para trás em seguida.

— Agradeça que fui eu que te encontrei nessa situação. Você já pensou se fosse Aone ou Sugawara? — tentava falar, mas não conseguia e apenas murmurava.

— Agora você precisa me ajudar [Nome]. Vamos erga o braço. — fez tudo que ela pediu. Se sentia mal por Saeko estar fazendo isso e te tratando como criança, mas não tinha forças para reclamar agora.

Ela te carregou até a banheira, a água estava morna, quase gelada, e por isso você hesitou bastante antes de entrar, a loira quase teve que te jogar dentro da banheira. Você dava bastante trabalho quando estava nessas situações.

— Por que fez isso? – sabia que tinha esquecido de guardar tudo no lugar, não deu tempo para isso, óbvio que Saeko viria. Ela sabia da sua dependência em heroína, mas ela não espalharia por aí sua recaída depois de tantos meses.

— Só queria descontrair.

— Você tá agindo como uma criança. Cadê aquela [Nome] de antes? Durona, sem medo de viver, que saia todas as noites, e mesmo acordando no hospital às vezes sempre sorria. Eu nunca te vi assim. Você nunca foi assim.

As palavras de Saeko foram como tiros no peito. Suga, Aone, Asahi e agora Saeko, todos te avisando e falando o quão infantil você estava sendo. Chega. Você precisa mudar, porque essa palhaçada toda já estava afetando pessoas ao seu redor.

— Eu vou melhorar. Eu prometo. – disse encarando ela. Ela apenas agradeceu com um sorriso voltando a te ensaboar.

Você demorou mais alguns minutos, logo já colocou o roupão que Saeko havia separado e desceu até a cozinha. Saeko te esperava com um almoço caprichado com comida de verdade, nada de fast food.

— Obrigada. E desculpa pelo..

— Viu, eu falei que você mudou. No máximo você me xingaria por ter te acordado sem nenhum compromisso. Você está deixando seu lado emocional agir, e eu nem sabia que esse lado existia.

— Obrigada pelo esporro. – falou com os lábios estreitos em uma linha.

— Já olhou seu celular? Ele não parava de tocar.

— Puta merda eu tinha que ir viajar. – disse correndo para pegar o celular e voltando em seguida. — Ué, mas esse número não é conhecido.

— Retorna a ligação. – Saeko diz tomando um gole de suco.

— Agora não. Seja lá quem for pode esperar.

Saeko ficou ali até às cinco da tarde, te ajudando com tudo que precisava, te ajudou com as malas principalmente, não levaria tanta coisa só o essencial, então uma mala e uma bolsa pequena deu para tudo.

Já era perto das sete da noite quando resolveu sair, estava anoitecendo e como gosta de viajar a noite já partiria.

— Ok hora de ir. – disse para si mesma pensando alto.

— Não deixem absolutamente ninguém entrar enquanto eu estiver fora. – falava para o chefe da segurança. — Se algo acontecer e alguém precisar vir aqui eu mesma vou ligar, só então você libera, mas com supervisão também.

— Não se preocupe senhorita, vá tranquila, vamos manter tudo em ordem.

— Assim espero, obrigada. – disse entrando no carro e dando partida.

Antes de sair de Tokyo passou em um posto para abastecer, aproveitando para pegar alguns salgadinhos e bebidas, dessa vez sem álcool.

O caminho era longo, já eram oito e meia da noite e você não estava nem na metade do caminho. Estava andando acima da velocidade permitida como de costume enquanto escutava num volume absurdo um remix de Sweater Weather, The Neighbourhood.

A noite estava bem nublada e os relances das árvores deixavam a paisagem incrível. Tinham pouquíssimos carros durante a viagem,  como você estava indo ao interior era comum não ter muitos carros até lá.

Perto das dez da noite você já estava no território do pequeno distrito, de longe enxergava um posto e logo parou ali.

— Boa noite. – disse firme ao atendente que veio na direção do carro. — Qual é o hotel mais perto?.

— Boa noite senhora, fica há menos de cinco minutos, é só ir reto nessa estrada que logo você vai chegar. Visitante?

— Sim. – respondeu de forma educada.

— Tem uma pousada perto do mar, acho que lá tem vaga também, mas não tenho certeza se está aberto ainda, a dona Karina costuma fechar cedo.

— É lá meu destino, mas vou só pela manhã, obrigada. – o atendente deu um aceno de cabeça e você saiu até o hotel indicado.

Era interior e às vezes você esquecia disso, pois o pequeno distrito vivia cheio de turistas devido a sua beleza, as praias eram encantadoras, principalmente nas noites de luau ou rodas de lendas típicas, essas noites eram duas favoritas quando criança.

(...)

O dia já amanhecia e por sorte você havia conseguido um quarto no tal hotel. Agora estava a caminho da pousada, lá você as encontraria.

— Ou eu vou ser bem recebida, ou eu vão me expulsar a vassouradas daqui. – disse antes de sair do carro, já na frente da pousada.

— Bom dia, a senhora Karina se encontra?

— Bom dia, eu posso chamar ela, mas quem é a senhorita, pra mim avisá-la?. – a recepcionista perguntou simpática, conferindo o telefone.

— Sou a…

— Ai meu Deus! Você veio mesmo. – Emily falou derrubando uma xícara de café que tinha em mãos.

— Emily!. – disse se virando surpresa.

Emily era sua irmã mais nova, e a única, ela era só dois anos mais nova mas não parecia. Em questão de aparência ela lembrava você mais nova , mas o estilo dela era bem diferente, bem praiano.

A relação de vocês era ótima, até seu pai falecer e sua mãe te culpar pela morte dele, foi aí que você se afastou e sua mãe e sua irmã se mudaram para o interior, reconstruindo a vida do zero -se não fosse pela parte da herança que ficou para elas-, e você que se foda sozinha na capital comandando uma coisa que para você, naquela época, era impossível fazer.

— Eu estava com muitas saudades.

— Você está tão...linda. – diz girando Emily.

— Vem! A mãe está ali.

— Mas, ela quer... sabe, falar comigo?

— Sim. – naquele momento seu coração disparou, uma sensação estranha de alegria com medo.

Será que ela havia pensado melhor e aceitou que a culpa não foi sua? Ou só queria te punir novamente?

Stαrry Night ~ Asahi AzumaneOnde histórias criam vida. Descubra agora