Cética no amor

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Eu nunca acreditei nos romances clichês que eu via na televisão. Sabia que tudo aquilo era uma farsa para as pessoas continuarem esperançosas quanto ao amor. Poderia dizer que todas aquelas eventualidades poderiam acontecer apenas com um ser em um milhão.

Não precisava ser especialista para notar isso, eu apenas via tudo a minha volta, em como o mundo deles era cinza e eles se espremiam para estar na vida do outro como se isso fosse amor.

Mas quem era eu para julgar algo assim? Nada. Ninguém. Quem é cética quanto a tudo isso simplesmente não opina sobre esse sentimento.

— Romina! — reviro os meus olhos quando escuto a voz fina da minha irmã mais velha. — Você vai passar o dia todo nesse sofá? Comendo essas porcarias? É dia dos namorados!

Eu queria ter conseguido me afundar nesse sofá. Ou simplesmente ter trocado a fechadura da porta para que minha família, com cinco mulheres casadas, não tenha que se meter na minha vida normal. Bem normal.

— Onde está o seu príncipe no cavalo branco? — encaro seus olhos cor de mel. — Se ele escapou eu vou fingir que estou triste.

— Meu marido foi levar as crianças para a casa da mamãe. Ele reservou aquele restaurante italiano que é completamente chique…

— E você veio jogar isso na minha cara?

— Vim aqui — ela pega o meu salgadinho debaixo de protestos. — Dizer que tenho um encontro para você. Hoje.

Eu a encaro completamente incrédula.

— Você me prometeu que ia parar com isso desde aquele cara estranho do T.I da empresa do seu marido, Rose! — bravejo quase sentindo fogo sair pelos meus olhos.

Ela dar de ombros indo até o meu quarto e eu a sigo.

— Esse é diferente, ele é novo na empresa do papai e viu uma foto sua na mesa. Eu vi que ele gostou daquela garota das fotos.

— Garota essa que não existe a um ano — eu arranco da mão dela as roupas que ela estava selecionando. — Eu não vou sair com um estranho, Rose.

— Ele não é um estranho — ela puxa as roupas novamente. — Ele tem jantado lá em casa desde segunda…

— E agora dá para conhecer alguém em quatro dias, Rose!?

Ela fica em silêncio e me puxa para sentar na cama arrumada. O seu suspiro é longo. Eu encaro seu cabelo castanho escuro bem liso, e vejo como somos diferentes.

— Eu sei que tudo mudou desde ano passado…

— Não quero falar sobre isso — a corto ríspida.

— Mas eu não consigo mais ver você desse jeito, Romina. Eu te amo, e só estou fazendo isso porque quero te ver feliz.

— Existe felicidade sem ser dos contos de fadas, ou da sua maneira estranha de ver a vida...

— Não estou pedindo para você casar com ele, Romina — ela faz uma pausa grande. — Só quero que você se divirta, converse, ria, beija na boca, transe... não estou pedindo para formar uma família. Só quero que você curta um pouco mais a sua juventude. Só tem vinte anos e já está fechada para o amor?

Eu fico em silêncio. Eu odiava admitir que Rose tinha razão. Isso acontecia bastante já que ela era a psicóloga da família. Mas ainda assim eu não queria me envolver com ninguém, eu estava bem sozinha, isso era apenas marketing. Dia dos namorados é apenas uma fachada pro consumismo. Todos sabem disso, e por que mesmo assim insistem em comprar coisas para outras pessoas? Eu não via sentido algum.

Contos para se apaixonar: porque amar é inevitávelOnde histórias criam vida. Descubra agora