A francesa Carpolli

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Tinta rubra.

Soberba imunda de ganância!

Era em primórdios dos governos-gerais em seio brasileiro. Ano de 1612. Uma expedição francesa, com entrada pelo que hoje se conhece como Maranhão, invade a península. Lá, é fundado um prelúdio colonial e, posteriormente, uma vila.

Vinham lá pelo horizonte um povo de navio. Era uma manhã clara. Garças sobrevoavam este céu alegre da América. As asas eram como um telhado sólido e alargado. Era em março. Após uma longevidade de anos, vinha outra vez, pela costa, gente movida pela exploração de riquezas naturais das terras brasileiras, — dentre tantas, o pau-brasil. Eram gente em companhia de La Touché, marinheiro e colono francês. Pretendiam estabelecer-se em terras nordestinas, ainda mais em específico, terras maranhenses.

Haviam por ali tribos indígenas Tupinambás —, os quais, por sua vez, eram já amigados aos franceses. Sucede que estes eram já mandados, quando em quando, à estas terras férteis e, portanto, os índios eram já habituados à visita deles.

Fatigados pela viagem de dias, pousaram à orla nordestina. Ao longe, viam-se dois a três navios pesados apinhados de imigrantes. Nobres. Sumariamente nobres e alguns franciscanos trazidos pelo colono a fim de que rezassem a primeira missa para que só então a vila de Saint-Louis fosse erguida.

Pousaram também em terra. Saindo em levas, atropelando-se, pisando nos dedos dos pés alheios e em seus próprios. A um gesto de mãos e arguição em um francês perfeito, Daniel de LaTouche pede ordem às tripulações. Todos acatam a seu mando. Bom, ou quase isto: as impressões à nova América não passam agora de cochichos incompreensíveis entre o restante, que olha tudo com um vislumbre ora emudecido, ora menos.

Aquelas terras recebem estrangeiros. E parece que até de bom grado. A fauna de coqueiros permite que suas folhas largas e espaldadas pelos rígidos troncos fixos enterrados na areia finíssima balancem e silvem com a aragem vinda de longe, de muito longe. Do imensurável e inalcançável à força da criatura humana.

Demonstrando tamanho acolhimento, isto é.

Fato é que, por ter vindo aqui outras duas vezes, o marinheiro francês tinha já uma ideia de para qual direção seguir a fim de que avistasse a aldeia. Apontou orla adentro e desde ali seguiriam por um sem-número de quilômetros até alcançarem destino. Mandou então que as tripulações se dividissem e que um grupo de homens contados o acompanhasse; o restante deles ficaria por ali, a cuidar das provisões que os manteriam. E lá foram. Consegues ver mais adentro? Não, não consegues.,. É adentro. Muito adentro... Escondido. Inviolável. Oculto.

Aldeia. Uns índios vieram recebê-los. Os frades capuchinhos, como conviveram em seu meio noutras ocasiões, sabem compreender seu dialeto. Vá lá: receptivos do jeito como eram, os acolheram, deram de beber e comer. Os produtos brilhantes e afiados que traziam os da França aos Tupinambás tinham lá sua misteriosa beleza. Seu luxo desconhecido. Ora, inegável.

Contos para se apaixonar: porque amar é inevitávelOnde histórias criam vida. Descubra agora