O lenço branco

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O gélido sopro daquela manhã de inverno levava embora consigo mais do que as tardes amenas correndo pelas estradas de ladrilho... Aquele dia frio, levava também, Polianna para longe do alcance dos braços de Matteo. Ele, a partir dali, teria a quase certeza do nunca mais, mas também a segurança do para sempre.

Era fato que aquele era o último dia dos namorados que passariam juntos e então, nunca mais ele tocaria em Polianna, mas em contrapartida, a amaria durante todas as manhãs de sua vida e a levaria em seu coração e pensamentos, por todos os anoiteceres, dali até a eternidade.

A sua doce menina estava partindo para Genebra naquela manhã com os seus avós, de onde um navio perdido no oceano, a levaria até a terra tão desconhecida da África do Sul. Matteo a seguiria até o porto, para abanar o seu lenço branco em despedida, e depois retornaria aos prantos, em uma locomotiva tão envelhecida quanto às suas memórias.

De nada adiantava terem recolhido provisões durante todo o tempo de colheita, pois não saboreariam mais juntos todas as nozes que recolheram, mas mesmo assim, ele havia pedido para que Polianna levasse uma consigo em sua viagem, para guardar como lembrança, se fosse possível, para sempre.

Os momentos de amor que eles viveram juntos, Matteo tinha certeza que acabariam em algum momento já não tão distante, mas as memórias desse romance, seriam revividas para sempre em suas lembranças... E quem sabe se ele não escrevesse algo em torno dessa juventude que viveu ao lado de Polianna, essas memórias não durassem mais tempo?! Talvez resistissem até a eternidade!

Todavia, entre lágrimas invisíveis de dores notáveis, Matteo apenas carregou as malas de sua doce amada, — aquela que entregaria não só ao leito da despedida, mas também nos braços do destino e no vão do esquecimento. Afinal, ela ia o esquecer um dia, e disso ele tinha certeza.

Matteo então caminhou de mãos dadas com Polianna e em um pequeno papel pardo, escreveu aquela fatídica data, sem que ela pudesse ver: 14-02-1900.

Dia de São Valentin.

Aquela era uma data importante; um dia que ele jamais esqueceria, até a sua morte. Matteo e Polianna não mais correriam juntos entre as oliveiras, também não se beijariam mais, escondidos entre os balanços nas árvore e os chafarizes da tão adorada Itália, pois agora apenas se distanciariam o bastante, para congelarem o que sentiam no peito.

Polianna, contudo, parecia animada com a viagem e Matteo não a culpava por isso, pois ela iria desbravar os mares pela primeira vez. A sua adorada menina, iria conhecer o mundo e dar asas à imaginação, em um novo lugar. Mas o rapaz, todavia, agarrava a mão da moça com força, sempre que sentia que ela iria escapar do seu lado; mesmo com os dois já estando sentados em um vagão de trem, frente a frente com os avós da jovem, que acabara de completar os seus dezesseis anos.

Em um minuto o casal se entreolhou, pois os idosos haviam se distanciado em busca de um chá. Os lábios deles estavam molhados em busca das palavras certas, mas a secura daquele instante, os havia calado, até ali.

— Matteo, — Polianna o fitou então de maneira preocupada — você irá me visitar, não é? — Ela apertava as mãos dele entre as suas. — E um dia, você vai me buscar para ficarmos juntos para sempre, não é mesmo? — Os seus olhos brilhavam em desespero naquele instante, pois o momento da despedida se aproximava cada vez mais.

— Estaremos juntos para sempre, Poli — Matteo a fitou bastante hesitante —, mas isso não quer dizer, que estaremos próximos como agora! — Ele então abaixou a cabeça.

— O que quer dizer com isso, Matteo? — Polianna questionou, enquanto gotículas de lágrimas já cintilavam em seus olhos. — Quer dizer que não vai ir me ver?

— Quer dizer que o destino nos afasta fisicamente agora, Polianna, — ele lhe limpou gentilmente as lágrimas que escorriam — mas, em compensação, ele também uniu os nossos corações para sempre! — Matteo então apertou as mãos da namorada. — Só que talvez nós nunca mais nos encontremos também, meu amor.

— Não pode ser assim! — Polianna estava desesperada. — Nós nos amamos!

— O amor é incondicional, Poli! — Matteo disse e sorriu, tentando aliviar a dor dos dois naquele momento. — O amor independe de qualquer coisa e sobrevive a qualquer adversidade, — ele então baixou os olhos — mas muita das vezes também, não é forte o bastante para quebrar certas barreiras.

— Não pode ser assim, Matteo! — ela chorava convulsivamente, enquanto dizia.

— Não chore, minha Poli! — Matteo pediu, enquanto lhe abraçava com discrição — Nós estaremos sempre juntos, mesmo que um dia nem mais nos falemos.

Calaram-se então com a chegada dos avós de Polianna. Afinal, o romance deveria sempre ser discreto. O jovem casal então apenas se aproximou um pouco, de modo com que as suas mãos ficassem unidas até o final daquela viagem; que parecia curta demais, elevando desse modo, a importância daquele último momento concretamente juntos.

Ao pararem então em Genebra, o porto já estava repleto e as pessoas se enfileiravam decididas a embarcar logo. O mar, no entanto, parecia trazer uma triste maresia para os olhos dos dois apaixonados. Polianna se agarrou a Matteo, que não se soltara da amada nem por um sequer instante, mas mesmo assim, o momento do adeus se aproximava e eles sabiam perfeitamente disso.

E não demorou mesmo quase nada, para que enfim se abraçassem bem apertado e sussurrassem um leve "eu te amo", um no ouvido do outro. E então não tardou até que Polianna já estivesse no alto daquela gigante embarcação, que a levaria para bem longe de Matteo. E logo após isso, não demorou até que o rapaz estivesse acenando lá de baixo com o seu lenço branco, para que a garota nunca o perdesse de vista, na multidão de pessoas que se despediam dos seus entes queridos.

E Matteo ficou ali, até o navio começar a se deslocar nas águas frias do oceano, e ele se manteve no mesmo lugar, até que fosse o único a permanecer; quando o navio já se transformava em um solitário ponto de saudade, ali na linha daquele horizonte tão azul. O rapaz sabia que Polianna já não o podia ver mais, mas ele também tinha a certeza, que de alguma forma, ela ainda podia o sentir.

— Feliz dia dos namorados, meu amor! — Matteo disse, enquanto ainda acenava o seu lenço branco para o vazio. — Eu vou te amar para sempre, Poli.

Em seguida, o rapaz se retirou, voltando para os montes da Calábria fisicamente sozinho, mas em compensação, com o coração sempre acompanhado da lembrança de sua doce Polianna.


Por: Thays Marques

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⏰ Última atualização: Jun 14, 2022 ⏰

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