ATO 2

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O mundo não está ameaçado pelas pessoas más, e sim por aquelas que permitem a maldade.

O mundo não está ameaçado pelas pessoas más, e sim por aquelas que permitem a maldade

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     Cristinne estava sem saída. Ela olhou a enorme criatura se aproximar e resolveu ficar imóvel, desistindo de qualquer tipo de fuga. Ela escorregou seu corpo na porta e sentou. Tapou o rosto com as mãos e esperou seu amargo fim. Dentre todas as possibilidades que poderia ter ocorrido naquele momento, a mais imprevisível acontecera.

     O grande cão havia parado no meio do caminho, bem próximo de Cristinne. Ele não a encarava mais. Olhava para cima, atrás dela. Quando a garota olhou também, viu parado na porta um senhor obeso, que olhava para Cristinne por baixo de sua enorme papada. O senhor possuía uma barba média, branca, e uma barriga tão grande que sua camiseta xadrez não conseguia tapar tudo. 

     — O que está acontecendo aqui? — perguntou olhando diretamente para Cristinne.

     — Esse... cachorro ia me matar — respondeu ela, tremula. 

     — Está acompanhada de quem, garota?

     — Ah... eu me perdi do meu adulto, estou procurando ele...

     — Astor, pode sair, já me entregou um belo presente — Disse o velho para o grande cachorro, que logo voltou para a floresta — e você, minha querida... tem um novo adulto, agora. Entre.

     Cristinne levantou e engoliu seco a saliva. Se ela fugisse de novo seria devorada por Astor, mas se ficasse, jamais conseguiria chegar até a fabrica e se reencontrar com David. Não havia escolhas se não obedecer o senhor robusto. 

     Entrando no casarão, Cristine tapou o nariz com a mão ao sentir um cheiro podre de carniça. Parecia que muitos cadáveres estavam ali, mas não dava para distinguir o que era podre e o que não era. Tudo estava uma completa bagunça naquela sala mal iluminada. Pilhas de roupas suja decorava um dos cantos, restos de comida espalhadas no carpete, o sofá com seu centro afundado, no formato perfeito de um traseiro grande, uma televisão antiga de tubo, que passava um programa em preto e branco e varias outras tranqueiras que Cristinne não pode observar direito.

     O senhor pegou no braço de Cristinne com uma certa grosseria e a arrastou para um corredor. Caminhou até a ultima porta e a abriu.

     — Olha só Emy, temos uma nova ajudante — dizia enquanto empurrava Cristinne para dentro — A instrua. Quero essa aí fazendo as tarefas que sua incompetência não permite.

     — Sim, senhor! — respondeu Emy sem desprender os olhos de Cristinne. Parecia muito mais surpresa do que deveria. Ao fechar a porta, ambas escutaram o barulho de chaves tilintar e a fechadura sendo trancada.

     — Só pode estar brincando. Era para você ter morrido! Olha só o que você fez. Ele trancou a merda da porta. Sabe quanto tempo me custou para que confiasse em mim e deixasse essa porcaria destrancada? Muitos anos. E você arruinou tudo em um segundo, parabéns.

     — Ei, respira aí, garota. Eu não tenho culpa — justificou Cristinne enquanto olhava ao redor. O quarto em que estava era pouco mais organizado, porém precário. Parecia uma cela. Em um canto, uma cama de madeira, com um colchão repleto de rasgos, no outro, uma privada e pia — é aqui... que você dorme?

     — É aqui que eu moro  respondeu franzindo a testa — e pode esquecer, essa cama é minha. Você vai dormir no chão, obviamente, e a comida, se meu senhor não te arrumar um pote, tem jornais ali no canto.

     — Não. Eu não pretendo ficar muito tempo, obrigada — respondeu Cristinne devolvendo a atenção para Emy.

     — Como é? 

     — Não vou ficar aqui. Tenho que encontrar o... ah... meu adulto. Isso aqui é sequestro! 

     — Adultos fazem o que bem entendem. Se meu senhor te pegou, você não pode mais fugir.

     — Como tem tanta certeza? Estava tentando fugir também?

     — Eu jamais faria isso! — bradou Emy.

     — Então o que fazia na floresta?

     — Esse aqui é o meu lugar e só eu faço as perguntas, está bem?

     — Não mesmo! A minha pergunta é muito válida. A impressão que estou tendo é que você está querendo escapar.

     — Jamais trairia a confiança do meu senhor!

     — Bom, se você diz... — provocou Cristinne.

     — Vamos ao que interessa. As regras aqui são muito simples. Ele come de uma em uma hora. São dois cafés da manhã, dois almoços, dois cafés da tarde e três jantas. Ele tem alergia a muitas comidas então tem que ser atenciosa. Os pratos principais são: Salmão grelhado, macarrão ao molho pesto, cebolas bem douradas e refogadas, torradas com manteiga, café bem forte, sem açúcar e costela de porco. Existe a lista de todas as coisas que precisa comprar bem aqui... — Emy sacou um rolo de papel que guardara debaixo de sua cama e estendeu até os pés de Cristinne.

     — Ele... come bem, não?

     — Isso não é da nossa conta. Apenas faça as comidas direito. Compras é apenas uma vez por semana e provavelmente ele não mandará você para sair da fazenda. Ficará na cozinha enquanto eu faço isso.

     — Quando era só você... como dava conta de tudo?

     — Não fomos treinadas a vida toda para isto? 

     — Ele te chamou de incompetente...

     — Tem vezes que eu não consigo preparar tudo certo, não sou muito alta e... isso é uma droga. Mas me viro do jeito que posso — Emy demonstrou desaponto e não estava muito confortável com aquele pequeno desabafo. Cristinne, por outro lado estava pouco interessada em sua vida e em sua rotina, que agora, seria rotina dela também. Enquanto Emy explicava as demais tarefas, Cristinne pensava em milhares de formas de escapar dali, porque Já estava certo em sua cabeça que aquele lugar não a pertencia. 

     Poderia ela, em todos esses anos dando trabalho no instituto, fazer uma boa comida para o grande senhor que estava esperando faminto, na sala? E caso contrario, o que aconteceria se falhasse? Esses dilemas preocupariam qualquer criança que zelasse por suas vidas. Cristinne parecia não se importar muito com o que estava por vir, e sim com o que não estava por vir.

     — Vocês vão tagarelar até quando?! Minha barriga está roncando! — vociferou o senhor abrindo a porta — Costela de porco, agora  ordenou.

     Aquela era a primeira vez na vida de Cristinne em que serviria um adulto fora do instituto. 

 

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Todo Monstro que Há em NósOnde histórias criam vida. Descubra agora