ATO 5

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Ás vezes, a gente acha que atingiu o fundo do terror, desiste, e mesmo assim não morre.


     Os braços de Cristinne pareciam que desgrudariam de seu corpo

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     Os braços de Cristinne pareciam que desgrudariam de seu corpo. Além de cansados, estavam machucados, com furos de unhas afiadas. O lago era realmente grande e a neblina atrapalhava significativamente. Com pouca paciência, ela pegou um remo e bateu com força no chão do barco, acordando Emy. A mesma abriu os olhos, mas demorou para se levantar.

     — Olha, eu sei que você está toda arrebentada, mas se não me ajudar vamos ficar nesse lago para sempre.

     — O que? Estamos... no lago? Eu disse para você me deixar na praia, sua idiota! Eu só queria morrer quieta!

     — É mas não vai. Pega esse remo e começa a remar. Seus braços não estão piores do que os meus — e mostrou os furos que o grande cão havia feito. Um rastro de sangue escorria dos ferimentos. A realidade era que ambas estavam debilitadas, mas não tinham outra escolha se não continuarem avançando.

     — Que inferno — murmurou Emy.

     E remaram. Cristinne viu resultado deste trabalho em equipe, já que o barco ficou mais veloz. Enquanto se ajudavam, a força, permaneceram em silencio. As aguas faziam um barulho confortante conforme mergulhavam o remo, e o lago ondulava e refletia em sua negritude as poucas luzes do céu. Cristinne olhou para cima e apertou a vista. Realmente havia luzes lá em cima. Eram pequenas e redondas. Pareciam estrelas, brilhavam como estrelas mas não eram. Uma das dezenas dali acabou dando um estouro e apagando. Algumas faíscas saíram da luz, mas jamais alcançariam as meninas, estavam muito acima delas.

     — O que foi aquilo? — perguntou Cristinne.

     — É normal. Elas queimam com frequência.

     — As luzes... estão queimando?

     — Está assim em toda parte. A cidade toda. Por isso construíram a Grande Fábrica. Você não vê os noticiários, não?

     — Eu vejo... mas ultimamente não tive tempo.

     — É bom que essa Fábrica resolva esse problema de energia, ou ficaremos na escuridão.

     — É o meu objetivo. A fábrica é o ponto final. Preciso entrar lá — afirmou Cristinne.

     — Entrar sem ser recrutada? Você é mesmo maluca.

     — Eu... ah... fui recrutada sim — Mentiu — Só me perdi no caminho. Se o seu adulto não tivesse me sequestrado eu já estaria na Fábrica.

     — Se perdeu no caminho, é? Pelo que eu saiba, as crianças recolhidas de um instituto são colocadas em uma vã.

     — Eu... me perdi da vã.

     — Isso só mostra que você já nasceu dos avessos — respondeu com tom debochado.

     Cristinne não continuou a conversa. Ainda não tinha confiança suficiente para revelar a verdade. Ambas continuaram remando. Hora ou outra, Emy soltava uns gemidos de dor. Cristinne rasgou uma parte de sua camiseta velha e tapou o ferimento que sangrava em seu braço. Também ajudou Emy a limpar os ferimentos que tinha nas costas, com a agua doce do próprio lago.

     — Emy... antes de me encontrar na floresta, você estava tentando fugir, não estava?

     — De novo esse assunto? Eu já disse que não.

     — Você não precisa mais mentir. Está aqui, agora. Conseguiu fugir — Emy não a respondeu. Parecia incomodada. Remou com mais força que o normal.

     — Olha, garota, eu não sei de qual instituto você veio, mas posso dizer que é a pior criança que já educaram. Por sua culpa eu apontei uma arma para um adulto, explodi a cabeça de um animal e agora estou foragida no meio de um lago.

     — Você fez tudo isso e eu sou a pior?

     — E tem mais! Você é chata, persistente e se não bastasse, salvou a minha vida. Que criança faria isso?

     — Você também salvou a minha. Se não tivesse explodido o cachorro eu teria virado janta.

     — Não, aquele tiro era para você — respondeu quase de imediato. 

     Antes que Cristinne pudesse continuar a discussão, ambas sentiram o barco brecar. Alguma coisa á frente o impediu de avançar. Emy parecia ter batido o remo em alguma coisa também, como se vários obstáculos surgissem de repente. A questão é, que nada ali havia surgido. Sempre esteve lá. Quando as garotas olharam para fora do barco, diretamente na agua, puderam ver muitos corpos flutuando, pútridos.

     Emy tapou a boca com as mãos, horrorizada. Cristinne arregalou os olhos e sentiu um arrepio em toda a espinha. Era muitos corpos que flutuavam ali. Todos de crianças, sendo meninos ou meninas. As peles já estavam roxas, e muitas delas, com manchas esverdeadas. Os olhos, completamente brancos. O odor veio logo na sequencia.

     — Meu Deus... o que aconteceu aqui...? — questionou Cristinne encarando Emy.

     — Eu não sei... só sei que agora, somos inimigas do estado, foragidas. É por isso que estar morta, seria a nossa melhor opção. Se voltar contra um adulto nos torna inimigos deles. Não é uma regra que aprendemos no Instituto, mas é o obvio a se pensar — deduziu Emy — Seja lá o que essas crianças fizeram para estarem boiando neste lago, pode ter certeza que somos iguais a elas, agora — Emy, com frieza, empurrou os cadáveres para o lado, dando espaço para o barco continuar seu percurso. Cristinne voltou a remar com a cabeça a milhão.

     Quais perigos elas enfrentariam na Metrópole? O lago dos mortos seria um aviso para crianças rebeldes? Ou apenas um deposito de corpos que já serviram seus propósitos? Dentre tantos pensamentos ruins, Cristinne olhou para Emy e sentiu um pouco mais de conforto. Mesmo Emy não concordando com nenhuma de suas atitudes e aparentemente não suportando sua presença, ela estava lá, ajudando a remar para o desconhecido. 

 

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Todo Monstro que Há em NósOnde histórias criam vida. Descubra agora