Capítulo 9

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        Alguns dias depois, Sarah apareceu.

         A chegada da Hufflepuff levantou os burburinhos do costume. Em vez de aparecer de forma discreta, a mulata parecia ter a tendência para chamar à atenção de si mesma, o seu corpo magro e alto caminhando pelo Salão Nobre em plena hora de almoço de queixo erguido, uniforme amarrotado, olheiras escuras e indiferente a quem a fitava. Ao vê-la, Cora pôs-se de pé, os olhos safira perscrutando-lhe o rosto.

        A ligação entre elas era deveras peculiar. Assim que os olhos âmbar da menina encontraram os da Ravenclaw, o rosto iluminou-se, acenando com entusiasmo. Cora ergueu uma sobrancelha, ciente de que Sarah era ousada o suficiente para se sentar na mesa dos Ravenclaw em vez de ir para a sua. Sem trocarem uma palavra, a mulata revirou os olhos, dirigindo-se contrariada para a mesa dos Hufflepuff.

- A Sarah Hufflepuff está com muito mau aspecto, não está? - comentou Clare, a jovem Ravenclaw cujo ego estava estampado nas suas feições - Aliás, ela já tinha aquela cara de macaca no ano passado, agora ainda está pior...

           Nos anos que se seguiram, Cora soube exatamente quando a sua máscara caiu. Sabia exatamente o segundo em que a perfeição que queria ser se desmoronava, sabia o que a fizera finalmente perceber o que ser uma Ravenclaw significava e sabia exatamente o preço do que fizera a seguir.

         O som do murro que deu no tampo da mesa ecoou pelo Salão como se uma onda de magia o tivesse amplificado. Cora sentia as bochechas ficarem vermelhas, o corpo em pé a tremer de raiva, os olhos fixos na menina da sua turma que acabara de abrir a boca. Ainda assim, a Ravenclaw manteve a expressão perfeita, os lábios movendo-se de forma automática enquanto dizia, na voz mais perigosa que já saíra da sua boca:

- Repete.

        Clare arregalou os olhos castanhos, olhando para o lado para perceber que os seus colegas partilhavam a mesma confusão que ela sentia. A Herdeira de Ravenclaw permanecia impávido e serena, o punho ainda cerrado sobre a mesa, a máscara perfeita substituída pela total inexpressão. Na mesa dos professores, Dumbledore segurava o braço de McGonagall, que se levantara mal o murro de Cora soara, a preocupação evidente no seu rosto. Os outros professores cochichavam entre si, os olhos fixos na aluna mais promissora da escola. Não eram os únicos; todos os alunos tinham parado para assistir a cena.

        Afinal de contas, era a Princesa dos Ravenclaw a atracção principal.

- D-Desculpa? - gaguejou Clare, vermelha que nem um tomate - E-Eu n-não estou a entender...

- Eu disse... Repete.

- D-Desculpa, e-eu esqueci-me que ela era tua am-miga e...

- Minha amiga? E só porque ela é minha amiga podes dizer o que queres e bem te apetece?!

- Cora, não tens de fazer isto.

        A ruiva ergueu os olhos, encontrando Sarah perto de si. A menina estava de facto com mau aspecto mas Cora sabia o que ela enfrentava, sabia que algo grave acontecera e sabia que, se fosse ao contrário, Sarah nunca deixaria que aquela idiota saísse impune. Nos anos que se seguiram, Cora diria sempre que Sarah lhe ensinara a ser corajosa, justa, uma guerreira contra tudo e contra todos. Por outro lado, Sarah sempre diria que fora Cora que a ensinara a racionalizar, a usar a estratégia e o pensamento a seu favor em vez de se guiar apenas pela sua impulsividade.

Naquele momento, porém, Cora não queria racionalizar.

- Repete o que disseste... em frente aos professores. Alto e bom som. Agora.

        Clare ergueu-se, o rosto ruborizado e os olhos fixos em Cora com raiva. O rumo dos acontecimentos poderia ter sido diferente se Cora tivesse controlado. Ou se Clare tivesse feito o que lhe estavam a dizer para fazer. Talvez aí as coisas não tivessem tido o rumo que tiveram nos momentos que se seguiram.

DIAMOND [6] ⚡ MARAUDERS ERAOnde histórias criam vida. Descubra agora