XXIII

271 34 61
                                    

A música expressa o que não pode ser dito em palavras mas não pode permanecer em silêncio - Victor Hugo

×××

Hitoshi estava em casa, com o celular na mão enquanto a outra ficava de vez em quando acariciando o pelo já crescido e fofinho de Nora.

Tentava não se preocupar tanto com Denki, mas não poderia fazer nada se não conseguia controlar seus sentimentos pelo loiro exagerado. Ele era como um cachorrinho de Denki, sempre fazia tudo o que ele queria - com limites claro. Talvez o mimasse demais, mas não se importava. Seu coração ainda dizia que ele era uma pedra preciosa a ser cuidada e protegida. Uma bela e dourada jóia que trazia alegria e mais luz a sua vida. E ela merecia ser lapidada o quanto fosse.

Foi aí que ouviu a porta da frente abrir. Se levantou na hora e colocou a cabeça para fora do quarto, vendo uma cabeleira loira tirando seus sapatos e fechando a porta. Saiu e começou a seguir até sua direção no corredor.

— Denki? — o chamou e viu ele levantar a cabeça para lhe olhar

Ele sorriu, com as bochechas coradas, olhos úmidos e um pouco vermelhos. As íris âmbar pareciam ter um brilho a mais.

×××

O ar estava gelado e seco, trazendo arrepios para Denki. Ele sentia o coração na boca e o cu na mão. Seu pai olhou para si do outro lado da mesa e soltou um suspiro. O loiro abriu a boca para falar, mas Takeshi foi mais rápido.

— Olha, eu meio que já sabia que você vinha aqui — ele disse num tom calmo

Denki levou alguns segundos para entender o que ele falou. Sua cara de tacho era muito presente no momento.

— Como? — perguntou depois de um suspiro

— A Nariko me contou — ele colocou a mão sobre a nuca

Denki ficou furioso, mas tentou não demonstrar o tamanho de sua raiva.

— Sério?

— É...

— Entendi.

O ambiente não parecia mais tão tenso depois disso, mas ainda estava lá. Denki estremeceu quando viu o homem levantar e mostrar o quanto era alto, caminhando até o seu lado devagar e sentando meio desajeitado na segunda cadeira do outro lado da mesa. Takeshi passou a mão para deixar o cabelo para trás, olhando frustado para o filho depois.

— Antes de tudo, eu queria que me ouvisse um pouco. Sei que não é muito justo já que você que fez o trabalho todo de vir aqui, mas-

— Tudo bem pai, — sorriu tranquilo — pode falar.

Acima de tudo, queria falar e queria que ele ouvisse, mas também queria entender seu lado. Na verdade, queria entender os dois lados. Por mais sofrido que fosse.

O mais velho assentiu e ficou pensando em suas palavras, e Denki esperava ele falar. Tinha que ter paciência ao menos.

— Sabe — ele finalmente começou a falar — quando tudo isso começou, ou seja, quando eu e sua mãe nos conhecemos tudo pareceu tão mágico — sorriu pequeno — O jeito que ela tocava me encantava, ela toda me encantava na verdade. Na primeira apresentação dela que eu vi, eu chorei. Chorei como um bebê. Ela aceitou me dar um autógrafo e ainda por cima me deu seu número de telefone. Éramos do ensino médio na época. Ela era perfeita. O jeito que ela falava, tocava... Até o jeito que ela andava era único e só dela — ele virou o rosto, olhando para o atento de Denki — Mas acho que agora, esse jeito também pode ser chamado de seu.

Melody - ShinkamiOnde histórias criam vida. Descubra agora