Melody - Shinkami

II

A música expressa o que não pode ser dito em palavras mas não pode permanecer em silêncio. - Victor Hugo

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A casa estava como quando seus habitantes saíram dela. A noite já estava ficando fria, enquanto o vento assobiava do lado de fora, fazendo as folhas das árvores balançarem numa lenta dança. Eri já estava bem cansada, estava quase dormindo no banco do carro, mas se manteve acordada o suficiente para conseguir tomar banho e vestir um pijama confortável antes de deitar na cama e capotar. Os mais velhos ainda tinham um pouco de energia, mas também queriam dormir, então fizeram o mesmo que Eri, deitando na cama e dormindo abraçados depois de conversarem um pouco mais. O único que não se encontrava no mundo dos sonhos era Shinsou. Já se fazia quase meia noite, mas ainda assim, seu corpo negava toda posição que ficava no colchão macio.

Ele bufou e colocou as mãos sobre os cabelos os bagunçando. Tinha insônia desde cedo, quando tinha 13 anos. A paralisia do sono também aparecia as vezes para o perturbar, mas não tão constante como a primeira citada. Mas sabia também que não era somente culpa da insônia, sua cabeça estava a mil, não conseguia parar de pensar naquela sensação que o pegou desprevenido, como se tivesse acabado de levar um raio no meio de uma tempestade e sua mente não descansava. Aquela melodia o atiçava cada vez mais, o perseguindo como um sequestrador achando uma pessoa valiosa. Se sentou na cama e decidiu fazer algo para se distrair, já que aparentemente não pegaria no sono fácil. Foi a cozinha em passos lentos, tentando não fazer barulho para não acordar os outros.

Fez um pouco de café silenciosamente, não sentia fome então não pegou nada para comer. Subiu as escadas do mesmo jeito que desceu e entrou no seu quarto, sentando na cadeira da escrivaninha e ligando o computador. Resolveu fazer o que tanto procrastinava, procurar um apartamento. Tinha 22 anos na cara e simplesmente morava na casa dos pais. Não gostava de ser fardo ou dar trabalho para ninguém, por isso já tinha arranjado um emprego em uma lanchonete perto de sua casa para ajudar nas despesas. Tinha algumas economias, além de que seus pais provavelmente o dariam dinheiro e mesmo que negasse, eles o obrigaram a pegar pegar pelo menos uns 5000 ienes (equivale a pouco mais que 250 reais). Pensava que deveria começar com um apartamento barato e dividindo o aluguel com alguém. Tinha que ser pelo menos um pouco perto da cafeteria que trabalhava, já que só tinha seus pés como meio de transporte. Pesquisava enquanto bebericava o café, não achava que poderia achar algo agora, mas pelo menos estava fazendo algo além de olhar para o teto em busca de sono que não viria cedo.

Enquanto navegava entre os diversos lugares, um chamou sua atenção. Se ajeitou na cadeira e olhou melhor e viu a descrição do apartamento. Era grande em consideração ao que imaginava, com 120 metros quadrados, não era grande, mas não se importava muito com espaço - a não ser pessoal - e também já é alguma coisa. Era de um prédio de 6 andares a 4 quadras de sua casa, era discreto e já vinha com móveis básicos, além de estar sendo ofertado por um preço que conseguiria pagar, além de que estavam oferecendo para dividir com alguém. Mais perfeito impossível. Foi repentino, mas não poderia fazer nada. Mandou uma mensagem para o privado da pessoa por meio do site dizendo estar interessado no espaço e rezando ao mesmo tempo para ninguém ter o conseguido primeiro.

Era quase meia noite e meia, não esperava ninguém responder, então já ia desligar o computador, mas depois de segundos chegou uma notificação, arregalou os olhos e deixou a xícara de lado para se concentrar naquilo. Ficaram conversando por um tempo, e por um milagre o apartamento ainda não tinha sido negociado. Decidiram conversar melhor sobre isso numa cafeteria do bairro, que coincidentemente é a que Shinsou trabalha, a tarde. A conversa cara-a-cara serviria também para conhecer melhor a pessoa e ter certeza que não seria um serial killer ou um cara de meia idade rabugento e falido. Torcia para que não. Por sorte amanhã,no caso hoje, não trabalharia e poderia ir sem problemas.