A música expressa o que não pode ser dito em palavras mas não pode permanecer em silêncio. - Victor Hugo
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Shinsou olhava o namorado preocupado. Denki não parecia nem ao menos querer comer, somente dava uma ou duas mordidas no hambúrguer que não tinha chegado nem a metade. Ainda não queria pressiona-lo a nada, mas estava sendo difícil quando não podia tratar a situação como realmente deveria. Não sabia o que fazer sem ao menos saber o que aconteceu.
Desde de manhã na cafeteria, ele não falou nada mais do que o nescessário - algo muito incomum - e ficou olhando para o nada na maioria das vezes. Ele sempre lhe lançava um sorriso calmo quando percebia a atenção dobrada, mas aquilo só servia para piorar a situação para o mais alto. Era uma tortura não poder cuidar de alguém que ele ama.
- Não quer comer, amor?
- Não estou com fome agora - ele respondeu vago e colocou a cabeça deitada em seu ombro
Suspirou discretamente e pegou o hambúrguer alheio e deu uma mordida frustada. Ficaram em silêncio até ouvirem a campainha. Hitoshi virou a cabeça para a porta e se perguntou quem estaria ali a este horário. Os amigos de Denki normalmente não vinham agora e ele não parecia a disposição de conversar com ninguém. Denki também levantou a cabeça em direção a porta.
- Vou atender - disse, se levantando da cadeira
Mas quando chegou a porta e não viu ninguém quando a abriu o fez fechar o semblante. Será possível que era algum adolescente atrevido?
Mas aí baixou os olhos e se deparou com um pacote em cima do tapete de boas-vindas. Engoliu em seco e pegou o conteúdo e percebeu que não era pesado. Voltou para dentro e Denki lhe esperava mais a frente com um sorriso sem graça.
- Acho melhor eu lhe contar tudo, né?
×××
Hitoshi olhava deveras surpreso para o namorado, que contava o dinheiro que tinha descoberto ter dentro do pacote.
Denki suspirou e soltou o dinheiro em cima da mesinha, voltando a sentar direito no sofá e esticando as costas.
- É... - soltou um som satisfeito quando terminou de estralar as costas - Tá do mesmo jeito.
- O quê que tá do mesmo jeito, Denki? - perguntou o olhando perplexo - Não me diga...que tá vendendo drogas?
- Claro que não! - ele olhou assustado para o outro - Só por que me viu fumar alguma vezes já pensa assim?
- Não! É que... Eu não sei. - suspirou desviando o olhar e voltando depois
Denki soltou um suspiro inebriado
- Pra falar a verdade nem sei direito como falar isso com você - sorriu sem graça, voltando a guardar o dinheiro no envelope - Bem, nunca falei isso a ninguém que não fossem meus amigos.
Hitoshi pegou na sua mão e levou até os lábios, beijando a palma delicadamente para tentar passar o máximo de tranquilidade que conseguia. Denki virou seu rosto para ele e sorriu mais.
- Não, eu não vendo drogas - deu uma risadinha - O motivo do dinheiro é o meu pai, - a voz dele era mais suave agora - ele sempre deixa na porta assim no final do mês.
- E por que ele não te entrega pessoalmente? - perguntou, mesmo tomando cuidado para não trazer alguma pergunta gatilho para ele
- ...faz muito tempo que não nos vimos sabe, - ele olhou triste para o envelope - sempre achava que ele tinha medo de mim ou algo do tipo.
- Mas você é um anjo, - tentou tranquiliza-lo - não tem como alguém ter medo de você.
Denki riu
- Mas não é isso, é só que... Acho que ele não está pronto. - Hitoshi esperou ele continuar - Quando eu nasci, minha mãe morreu no parto.
- Sinto muito por te fazer falar isso - disse passando as mãos lentamente no cabelo dele
- Nhe, nunca a conheci a não ser por palavras do meus parentes. Eles disseram que o pai gostava muito da mãe e aí, quando ela morreu, ele ficou bem triste - entrelaçou os dedos com os de Shinsou
Levou sua mão livre até o bolso traseiro, e tirou a carteira. De lá retirou uma foto pequena de uma mulher loira e entregou ao namorado. Ele pegou e facilmente reparou na semelhança que ela tinha com Denki.
- Eu sou parecido com ela. E acho que ninguém gosta de relembrar da esposa falecida quase toda hora, né? - seus olhos marejaram um pouco, mas engoliu o choro o máximo que conseguiu - Ela também tocava piano... E quando eu comecei a tocar também, acho que meu pai não aguentou.
Fungou e abraçou o outro, que o apertou no afeto como um sinal de segurança. Denki sentia seus batimentos desacelerando naquela posição.
- Fui mandado para a casa de meus tios e só recebia notícias do meu pai por meio deles. E ainda tinha o babaca do Raiden.
- O que tem ele?
- Ele me batia às vezes, pra me ensinar a "ser homem" - deu uma risada amarga - Sabe, eu era um daqueles meninos bem chorões.
- Ele não tinha o direito de fazer isso com você, Denki! - tentou não demonstrar a raiva que lhe apossava, falhando no processo
Denki riu de sua voz emputacida
- É, acho que não - concordou e sentiu uma lágrima fina descer em sua bochecha - Mas enfim, desde que comprei o apartamento e sai da casa dos meus tios recebi esse dinheiro todo mês. Depois descobri que era o meu pai que entregava através de alguém ou ele mesmo. Eu... só queria ver e conversar com ele - sua voz falhou um pouco - Mas acho que ele ainda não tá pronto.
- Denki... - virou o rosto para poder beijar as bochechas molhadas pelas lágrimas que saíam de vez em quando
Aproveitou e roubou um selinho barulhento dele, ainda vendo ele com um sorriso frouxo e as bochechas coradas.
- Mas hoje eu vi ele - disse o pegando de surpresa - Foi logo antes de eu entrar na cafeteria, ele estava indo embora, mas ele não me reconheceu por causa do boné.
Nesse momento, Hitoshi teve um lapso de memória. O único que saiu da loja antes de Denki entrar era o homem moreno que atendeu. Soltou um som meio desacreditado.
- Ele tem cabelo preto?
Denki olhou para si e baixou o olhar mais chateado, se afastando um pouco e limpando os cantos dos olhos com as costas das mãos.
- É-é
- Acho... que atendi ele - disse e ficou triste por não ter feito nada
- S-sério? - ele fungou de novo e olhou para si ainda sem o sorriso
Hitoshi franziu a testa e o puxou de novo para um abraço. Sentiu ele apertar seus ombros e costas com força enquanto soluçava em seu peito.
- Eu só queria conversar Toshi... Só ver ele mais uma vez e ele me ver de verdade.
- Shh, tá tudo bem amor - beijou várias vezes os fios loiros - Vai ficar tudo bem, ok? Eu vou te ajudar o quanto você precisar. Vou estar sempre com você, loirinho...
E continuaram ali por um bom tempo, com Denki chorando baixinho no peitoral de Hitoshi, que tentava o acalmar com palavras carinhosas e beijos que sabia que não reverteriam nada, mas era o que conseguia no momento.
Depois de mais um tempo, Kaminari adormeceu em cima de si, e o mais velho o levou para o próprio quarto, deitando-se com ele debaixo de uma coberta grossa, que os protegia do frio assim como Shinsou o protegeria do mundo.
×××
Não sei o que é mais triste, o cap, ou eu estar fazendo e ouvindo girl in red :')
Quem mais chora pelo nosso Kami?
Kkkkkkk (lágrimas)
Enfim, bye bye e até o próximo capítulo!
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Melody - Shinkami
Hayran KurguAs águas de felicidade podem ser tristes... As chamas podem ser frias... O coração pode não ser mais como antes... Coisas podem aparentar ser o que não são. Quase todos tem um jeito de expressar ou captar sentimentos e sensações, sejam os seus ou de...