Capítulo 1

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Parece que eu estava andando na direção errada

Eu mal reconheço o meu próprio reflexo,

 não com medo do amor, mas com medo da vida sozinha

  Ready To Love Again - Lady Antebellum (tradução)



Quando completei seis anos, meus pais me presentearam com um livro Peter Pan e a Terra do Nunca. Naquela época eu esperava conhecer esse lugar, sempre deixava a janela aberta aguardando o menino que nunca envelhece para me levar aquela terra mágica. Assim teria várias aventuras, conheceria os meninos perdidos, a Sininho e o Capitão Gancho, enfim, todos os personagens que ouvira falar de todas aquelas histórias.

Sorrio fechando a janela. Meu quarto antes decorado com rosa, ursos de pelúcia e brinquedos famosos, perderam os ares de infância para paredes cor de gelo e lilás. Minha cama de casal não tem mais a colcha com desenhos de bonecas. O guarda-roupa antes cheio de babados, agora tem uma vasta quantidade de vestidos, calças, sapatos de salto e bolsas. E na cômoda as coisas de princesa perderam espaço para  maquiagens, escova, prancha. Secador, perfumes, cremes, tantos itens hoje essenciais.

Olho em cima da poltrona, cadernos, livros, pastas que deveriam estar na escrivaninha, onde se encontra minha câmera fotográfica. Caminho até a cama jogando as almofadas ao chão.

Houve um tempo, esperei meus pais entrarem para me dar boa noite. Como de costume meu pai leria a história já decorada, enquanto minha mãe deitaria ao meu lado acariciando meus cabelos, que naquela época batiam na cintura, até eu adormecer. Hoje descanso a cabeça no travesseiro sabendo que isso nunca mais aconteceria.

E se aconteceu  realmente não me lembro.

Naquele mesmo ano iríamos fazer uma viagem para Disney, como presente pelo meu sexto aniversário, eles viajaram primeiro, pois tinham um compromisso de trabalho. Só não esperávamos que o avião por uma falha mecânica caísse no mar.

Meu irmão Gabriel com treze anos se tornou minha única família, depois dos nossos avôs maternos. Não foi fácil! Às vezes acordo com as imagens nítidas do cemitério, todos vestidos de preto, alguns seguravam guarda-chuvas, sinto as mãos do meu irmão segurando meus ombros. Dois caixões com coroas de flores estão sendo colocados dentro da cova,  jogam terra por cima voltando a parecer como um solo normal.

Eu não entendia o motivo de ter jogado um punhado de terra em cima deles ou como seria dali para frente. Por que não pude ver seus rostos pela última vez? Por que as pessoas repetiam que deveríamos ser fortes?

Ainda não sou capaz de compreender meu súbito interesse pela expressão: Naquela época...

Até os meus doze anos fui obrigada a fazer terapia, preocupados com a minha ausência de sofrimento. Contudo, não chorei por meus pais, sinto saudades,  nem por isso derramei lágrimas.

Quem sabe eu tenha algum problema que não consigo expressar os sentimentos, minhas emoções, talvez tenha sido o caminho que escolhi inconscientemente para não sofrer ou me acusar. 

A verdade é que não tenho essas respostas.

Fecho os olhos abraçando um travesseiro, lá fora há um silencio tranquilizador. Todas as lâmpadas apagadas, me sinto calma, é reconfortante. Esqueço por um momento minhas dúvidas e mergulho na escuridão.

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