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J U N G K O O K


Duas coisas: (1) eu virei fumante passivo; (2) eu estou, basicamente, em cárcere privado.

A maior burrice da história da minha vida, foi ter acreditado cegamente que meus pais iriam me desculpar assim, de cara, sem mais nem menos. Sem nada em troca.

Aconteceu o seguinte: a primeira semana de volta, foi como voltar pra casa depois de um passeio de escola, daqueles que só acontecem em dias quentes, com crianças correndo de um lado pro outro, suando, e tudo o mais. Foi como se eu finalmente tivesse me conectado de volta a uma peça do meu quebra-cabeça da qual estive longe por muito tempo. Só que com o passar dos dias, eu entendi que, com certeza, era melhor ter continuado com algumas peças faltando. Elas me garantiam um direito humano: o direito de ir e vir.

Nesse momento, estou enfiado no quarto, quieto, fingindo estar dormindo pra evitar ouvir os tipicos discursos e lições de moral que sempre carregam o tópico "falta de responsabilidade do Jungkook". Eu quero que se foda que fui irresponsável, justamente porque estou ciente das merdas que faço. Mas isso não é motivo o suficiente para eu não poder nem ir na esquina.

Sabe em Harry Potter, quando ele fica preso na casa dos Dursley, com grandes na janela do quarto e esses roles? Eu estou definitivamente na mesma situação, só não tenho uma coruja branca, uma cicatriz em forma de raio, e amigos com carros voadores que possam vir me salvar. E antes que você pergunte, eles conseguiram fazer a proeza de pegar meu celular enquanto eu dormia, então, eu não tenho mais nenhum contato com o mundo lá fora. Tudo agora se resume a ver as horas passarem em casa, e pensar se vou cometer suicídio ou homicídio primeiro quando estou trabalhando junto com meu pai.

A empresa é uma merda. O trabalho é uma merda. O que tenho que fazer é uma merda. As pessoas que trabalham lá são uma merda. Meu pai ser fumante é uma merda. E é mais merda ainda por ser da mesma marca de cigarros que Jimin fumava.

Ah, Jimin... por onde você anda?

Lembrar dele faz eu me remexer na cama, desconfortável, sentindo o espaço pequeno demais para dois corpos, e grande demais pra mim, que estou a sós com meu vazio interior, minhas crises de ansiedade e de existência, e minha tosse persistente por precisar inalar a porra da fumaça irritante dos cigarros. Às vezes me da vontade de mandá-lo enfiar os cigarros no cu e fumar por lá, e na verdade, não sei o que me impede.

Enquanto sinto vontade de morrer apenas para parar de tossir, vejo minha mente viajando até alguns meses atrás, quando eu sequer perdia tempo pensando que toda essa merda viria a acontecer. Um nome, um nome muito específico, reaparece, ressurge de cinzas que eu queria que não fossem nada além disso: cinzas.

O nome ainda parece mel escorrendo dos lábios, melodia para os ouvidos, e a senha para um paraíso que só Jimin em pessoa conseguia me levar. E não sei nem se poderia chamar de paraíso, porque ele parece te arrastar pelo inferno, te ensinar a voar no céu, e ainda te leva para provar do fruto proibido. Eu sequer sou religioso.

Também me remete, ainda, às borboletas se debatendo em meu estômago, mesmo comigo as acorrentado a certeza de não sentir nada por ele. Ainda me remete as borboletas que eu me convencia que estavam mortas, dentro de mim, quando na verdade brincavam de pega-pega entre os órgãos.

Tudo me remete a ele, porque em tudo ainda tem uma parte dele. Eu ainda carrego uma parte dele. É como se ele fosse alguma droga injetável que, uma vez na corrente sanguínea, não abandona seu corpo nunca mais. Seu cheiro ainda está impregnado nas roupas que ainda não tive coragem de tirar da mala que trouxe para casa, e a sua blusa – que roubei justamente com o intuito de lembrar de seu cheiro —, permanece dobrada e guardada num saco plástico. Me sinto o Elio, de Call Me By Your Name, que mesmo depois de tantos anos, permaneceu com a camisa de Oliver guardada. A diferença é que o que eles tiveram foi recíproco, já o que eu tive, não. Mas não passo pano pra pedofilia, não.

Where Are You? | jjk + pjmOnde histórias criam vida. Descubra agora