Luísa Parker
Depois de limpar cada canto daquela lanchonete fui embora parecendo que um caminhão tinha passado por cima de mim.Além de tudo no ônibus tive que ficar em pé pois estava cheio. Parece que hoje não é meu dia de sorte.
Chego em casa e faço a primeira coisa que vem na minha cabeça, me jogo na cama.Liz vai chegar tarde hoje, então não vou esperar por ela acordada.Pensei em ir caminhar amanhã depois do trabalho, já que vou sair mais cedo.Abraço com força o travesseiro pegando no sono.
— Oque é isso mamãe? – a garotinha, que esta de costas para mim e virada para janela pergunta apontando para algo do lado de fora.
A mulher ri. — São apenas flores, querida!
— Flores? Oque é isso? – a menina que pelo tamanho deve ter em torno dos seus sete anos de idade, questiona sem realmente saber.
A mulher faz carinho no cabelo da menina. — São belas coisinhas, que para ficarem belas de fato, precisam de todo cuidado, carinho, água e luz do sol.
A criança franze o cenho. — Eu sou uma flor?
A mulher gargalha e a encara com os olhos brilhando. — Sim! Você é a minha florzinha.
— Cheguei. – a voz de um homem é ouvida e tanto a filha como a mãe ficam temerosas.
— Mamãe, quando o papai vai me deixar sair de casa? – a menininha pergunta em um susurro triste.
Sua mãe lhe dá o melhor sorriso e responde por fim. — Não vai demorar querida! Algum dia vamos ser tão livres quanto os pássaros.Agora vamos. – a puxa pela mão e agora vejo a garota de frente.
Era eu.
— Luísa! Acorde.
Pulo da cama assustada, fazia dias que não tinha esse tipo de lembrança.Passo a mão no rosto.
— Oque houve? Parece assustada. – Indaga Liz, parecendo preocupada.Me recompondo sorrio zombeteira.
— Você me acorda aos gritos e quer que eu esteja como? – Ela ri mas logo volta a falar.
— Ande, esta quase atrasada e não poderei lhe dar uma carona hoje.Sinto muito.
— Tudo bem. – sorrio agradecendo de qualquer forma.Corro para o banheiro jogando somente uma água no rosto e escovando os dentes rapidamente.Visto meu uniforme e faço um rabo de cavalo no meu cabelo.Ja próxima a porta me despeço de Liz e vou pegar um ônibus.
Já sentada na cadeira do mesmo, observo pela janela enquanto algumas pessoas correm, andam de bicicleta, alguns sozinhos apenas lendo um jornal, até mesmo alguns pais com seus filhos no parque.Sorrio sozinha vendo que as pessoas aproveitam o momento do jeito que podem.Acho que foi por isso que escolhi vir para Hudson, a cidade exala natureza, e se tem uma coisa que amo é a natureza.
Quando desço em minha parada, começo a andar em direção ao meu trabalho, do ponto de ônibus até lá deve ser somente alguns quarteirões.
— De novo, Parker. – Sky fala assim que abro a porta da lanchonete.Seguro a vontade de revirar os olhos, não gosto que as pessoas me chamem pelo meu sobrenome.
— Desculpe, perdi a hora hoje.
— Hoje e todos os outros dias. – alfineta e dou de ombros. — Os amigos de Karina chegaram agora pouco, se apresse para ir atendê-los. – amarro o avental em minha cintura, com meu bloquinho pronta para sair. — De preferência com aquele seu sorriso, que eu não sei como você consegue sorrir tanto trabalhando. – da um sorrisinho e aponta para a mesa.
Poucas vezes vejo minha colega de trabalho sorrir.Rio e nego com a cabeça andando até a mesa, que só vi agora estar com 4 homens, os amigos de Karina.
— Bom dia senhores! Oque vão querer? – indago ainda um pouco atordoada pelo sorriso de Sky.As pessoas deveriam sorrir mais.E com esse pensamento, sorrio pela centésima vez hoje.
Esses dias tenho andando tão pensativa que tinha esquecido em como um sorriso é importante.Até quando você está triste, um sorriso sincero pode fazer um outro alguém feliz.Nem me pergunte o porquê de eu sorrir tanto, nem eu sei ao certo.Talvez seja pelo fato de ter tido poucos sorrisos sendo lançados para mim ao longo de minha vida ou seja talvez por eu simplesmente gostar de ser a felicidade de outra pessoa, nem que isso dure por somente alguns segundos.
Acho que meu apelido deveria ser coringa.
— Você está ouvindo? Moça? – vejo o homem loiro mais próximo perguntar acenando com a mão para me despertar talvez.
Os olho com o rosto vermelho. — Perdão.Pode repetir?
— Meu amigo disse que vamos apenas querer sucos, enquanto sua chefe não chega. – responde o outro sorrindo, zombando da minha falta de atenção.
Balanço a cabeça positivamente e me viro mas antes. — Calma, temos que falar os sabores dos sucos!
— Claro, desculpem! – falo realmente envergonhada, estou muito alienada hoje.Sorrio para amenizar meu nervosismo. — Então? Quais os sucos que irão querer?
— Morango.Para os quatro. – fala o mais sério dos quatro.
— Tudo bem.Algo mais? – questiono por precaução, chega de vergonhas por hoje.Eles parecendo perceber apenas riem e acenam que não com a cabeça. — Quatro sucos de morango. — digo a Sky que depois de alguns minutos traz em uma bandeja.
— Aqui. – deixo na mesa e saio quase correndo suspirando de alívio.
Nunca fui boa em ser o centro das atenções, sendo até mesmo por algum tipo de vergonha ou um motivo bom.Quando cheguei para trabalhar aqui, Karina não queria me contratar, disse que eu era muito atrapalhada com os clientes, tenho para mim que foi apenas uma desculpa para "Não fui com sua cara"
Mas depois de alguns dias de treinamento com Sky, eu peguei o jeito e como Karina precisava de alguém para dividir todo o trabalho, ela me contratou.Bom e não querendo me gabar, mas as pessoas gostam de mim, me acham simpática.
Quando trabalhei no bar, eles disseram que eu poderia ganhar bem mais dançando do que atendendo mesas, de início eu gostei da ideia pois eu sabia dançar, sempre fiz tal coisa escondida no meu quarto e a ideia de fazer isso livremente era algo como um sonho para mim, mas tudo que é bom parece durar pouco tempo.
Eu dancei umas três vezes, sempre ficava envergonhada pelo jeito que as pessoas me olhavam, mas meu antigo chefe disse que isso era bom.Depois de um tempo ele veio com a brilhante ideia de me fazer dançar todos os dias com uma roupa tão desconfortável quanto toda aquela situação.Eu neguei e me demiti.
Estou no interior da lanchonete secando a louça quando Sky entra.
— Karina está vindo e não parece coisa boa. – diz agitada
Sem minha colega poder falar mais nada, Karina entra com o olhar pegando fogo em cima de mim. — Esta demitida. – solta como se tivesse tirado um peso de suas costas. — Ficou toda atrapalhada com o pedido deles, quer que essa lanchonete seja o motivo de alguma piada? – abro a boca tentando falar algo, mas a mesma apenas sorri continuando a jogar tudo em mim. — Não precisa dizer mais nada.Eles me falaram, boa sorte pra você.
Sky me olha atordoada e corre para segui-la, mas seguro seu braço sabendo que ela queria intervir por mim.Tento sorrir. — Tudo bem.Não queremos que ninguém mais seja demitido. – ela me olha com pesar e me abraça de surpresa.Fico um pouco confusa por seu gesto inesperado, afinal estamos falando de Sky.
Por fim, retribuo tentando não me deixar chorar.
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Corações Em Chamas (EM ANDAMENTO)
RomanceLuísa Parker, uma mulher cheia de sonhos, que vê a vida como um bem precioso.Uma pessoa que emana simpátia, sorri por simples motivos, apesar disso, tem um passado triste que pretende deixar no passado. Mas o passado não pretende deixá-la. Mattia Gr...