Capítulo 3

2K 198 32
                                    

Estou novamente revivendo o pior dia da minha vida.... O dia em que aquela maldita fera me tirou a única coisa que me restava.

Volto às pressas com a espada que meu pai me deu dias antes de morrer na floresta com minha mãe, preciso avisar meus tios e colocar minha irmã em um local seguro, pois ela não vai conseguir se proteger sozinha por causa de sua deficiência nas pernas, aqueles malditos demônios estão fazendo uma guerra que não sei o por que e estão por perto, fiquei sabendo por uma mulher que estava indo embora com seu esposo para um local seguro, meus tios moram em um local muito escondido, não teria como eles serem avisados, e esse é o horário em que estão cuidado da plantação que fica perto da casa e Ananda deve estar na frente de casa esperando a minha volta, os malditos além da guerra destruindo tudo estão também soltando bestas! Nunca vi uma, mas a mulher me avisou que são criaturas mortais, preciso avisar eles logo para podermos fugir, já estou perto de casa, ainda bem! 

Escuto minha tia gritando e logo em seguida meu tio, começo a correr o mais rápido que consigo, passo por pedras, galhos caídos, lama e finalmente avisto a casa.

 No começo da entrada vejo a criatura mais horrenda, isso só pode ser brincadeira...

A criatura possui  asas encouraçadas e presas afiadas, está  perto dos meus tios... estraçalhados no chão, empalideço e meu corpo todo está tremendo, a criatura está andando lentamente em direção a minha irmã, preciso fazer algo!

 Ela está chorando, gritando com medo e se arrastando pelo chão tentando fugir, reúno toda a força que me resta e começo a correr com a espada, ele não pode atacar ela, ela não, eu prometi que cuidaria dela para sempre, paro de correr e pego uma pedra atirando com toda força na cabeça da criatura grito: 

 —Vem aqui seu imundo, lute com alguém que consegue se defender! 

O monstro se vira e me olha, endireito minhas pernas e seguro mais firme a espada e a criatura monstruosa simplesmente dá de ombros, merda!  e continua indo na direção  da presa que está com medo, começo a correr novamente segurando a espada com força, estou quase lá, quase... Grito para Ananda que vai ficar tudo bem, e ela balança a cabeça dizendo que não, seus olhos em completo terror, quando estou quase alcançando a criatura ela avança minha irmã e enfia uma garra enorme em seu coração tirando sua vida, seus sonhos, sua alegria, seu ar e a minha única irmã, não paro de correr, minha mente se tornou gritos e rugidos, eu a perdi...

 A criatura pagará por isso, consigo alcança-la   enquanto a mesma continua com suas garras enfiadas em minha irmã,  com   raiva e dor  minha espada  encontra o couro rígido  da criatura que grita e cai sobre meu corpo, não acredito... A criatura é muito pesada, tento sair de cima dela, um cheiro diretamente dos infernos feéricos preenchem meus sentidos, consigo me levantar e atacar a criatura sem vida com a espada, mutilo cada parte de seu corpo, ela me tirou tudo, merece isso, monstro nojento, eu odeio cada criatura daquele lado, odeio! 

Algum tempo depois, totalmente manchada de sangue, olho para a criatura destroçada, sem vida como Ananda e meus tios, não acredito que ela se foi.... Pego seu corpo com um buraco enorme no coração e abraço, me sujando com seu sangue, misturando o seu e o da criatura em um só, o sangue de quem me trazia felicidade juntamente com o de quem me tirou, passo meus dedos sobre seus cabelos e coloco minha boca sobre seu ouvido e digo com a voz falha:

— Volta, por favor... por favor... Olho para ela e vejo que ela não vai voltar... Lágrimas descontroladas descem sobre a minha face, o que mais eu poderia fazer? Eu falhei com ela, eu falhei em protegê-la, falhei quando disse que seria suas pernas e correria por ela, falhei quando disse que daria a minha vida para fazer ela viver mais um dia, falhei em tentar salvá-la, se eu tivesse corrido mais rápido, começo a gritar e chorar porque é a única coisa que consigo fazer, dói muito, minha irmãzinha, minha menininha, minha alegria....

Acordo gritando, esse maldito dia me persegue! Estou sem ar, preciso respirar, preciso respirar, não consigo... Não consigo respirar! Olho em volta, a floresta com raios de sol, olho para cada árvore, começo a contar uma a uma, não posso deixar isso me destruir, 36 árvores depois e finalmente consigo respirar, sinto a brisa da manhã em meu corpo, a terra úmida com folhas sobre meus pés, olho para o chão em que estava dormindo, o chão que se tornou a minha cama desde que perdi minha casa, de alguma forma, durante esse pesadelo, eu afastei os lençóis que havia colocado sobre a terra...

Pego os lençóis e retiro a terra e folhas que estavam sobre ele, preciso lavá-los, hoje eu não tenho tempo para sofrer por isso...

Olho meu corpo e toco meu cabelo, preciso tomar um banho! Meu cabelo está mais imundo que o normal! Pego minha bolsa com as poucas roupas que me restam e escolho uma calça preta que costumo usar para ir ao mercado, uma camiseta cor vinho e peças íntimas e dentro de uma bolsa menor meus itens de higiene.

Amo caminhar por essa floresta, ela é muito linda, me faz lembrar de antigamente, quando eu ainda tinha papai e mamãe comigo, antes de eles terem sido assassinados por uma criatura no meio da noite, costumávamos vir aqui para banhar no rio que se tornou o meu banheiro, sinto falta deles... Mas o que eu poderia fazer? Pelo menos não me tiraram as memórias, isso nunca vão tirar de mim.

Avisto o rio, ele é muito lindo, nunca vou me acostumar com sua linda água cristalina e azul, tão clara que consigo ver a terra embaixo, começo a me despir e fico com minhas roupas íntimas, toco meus pés na água para ver se está boa, está perfeita, resolvo dar uma cambalhota ao entrar na água, definitivamente essa é a melhor parte do meu dia, faço tudo o que deveria fazer, me visto, e volto para o meu simples acampamento que se resume a alguns tocos de madeira com panelas vazias , colheres, dois copos de alumínio, dois lençóis que coloquei para secar em cima de um galho de árvore, e não poderia esquecer de mais madeira ao redor, que é o que sustenta o fogo durante a noite que me dá tanto medo.

Pego minha bolsa média que uso só para ir no mercado, a comida acabou tem dois dias, minha barriga está doendo de tanta fome... Preciso encontrar alguma forma de conseguir dinheiro, então vamos lá, coragem Aislin!

Corte de Imaginação e LuzOnde histórias criam vida. Descubra agora