Capítulo 32

575 103 12
                                    

— Se acalme Hélê— digo enquanto retiro os lençóis ensanguentados.

— Eu...— Hélê diz com dificuldade, sua cara está pálida, olhos fundos, sua pele negra se aparenta com o cinza, tem a aparência de um corpo perdendo a vida— perdi os dois, primeiro Edu e depois a criança que nem sequer sabia da existência...

— Não fale assim querida— digo passando delicadamente a mão por sua cabeça gélida.

Hélê grita em agonia, afundando suas grandes unhas na colcha de cama.

Olho para os lençóis... um pequeno corpo, um pouquinho maior que a minha mão está entre o sangue, não tem braços porque ainda estão dentro dela....

— Vou pedir ajuda— digo isso correndo para a porta, encontro Edurne e Lucien em frente a porta.

— O que aconteceu Lin— Lucien me olha arregalado e segurando meus braços tentando ver onde estou ferida.

— Hélê— grita uma voz em agonia... Edurne entrou no quarto e viu a amada ensanguentada— o que aconteceu com você meu raio de sol.

— Lin— Lucien me sacode— o que aconteceu?

— Ela esta sofrendo um.... aborto... esse sangue é dela... precisamos ajuda-la ou ela vai morrer, ja perdeu muito... muito sangue.

— Não — grita Edurne— Já perdi uma pessoa hoje... ela não vai morrer.. você não pode morrer — ele olha para Hélê fraca na cama e então vê.... os restos da criança no colchão, pega o corpinho despedaçado e o abraça dizendo:

— Meu sangue... minha criança este mundo era cruel demais para você... vá que nossos ancestrais lhe mostraram o caminho sem crueldade... o caminho das estrelas gélidas....va

— Lucien— digo entre o choro— Vá buscar a curandeira...corre

Ele nem sequer escuta... já está correndo atrás da curandeira.

Entro no quarto... dessa vez não vejo de longe... vejo de perto e dói muito mais...Edurne está entregando para Hélê abraçar os restos mortais da criança.

Ela está fraca demais... não tenho nada para ajudar... nunca me senti tão inútil como agora...

****

Consegui trocar os lençóis da cama enquanto Edurne segurava Hélê nos braços...

— Onde está ela?— diz a voz da curandeira indo diretamente ao corpo desfalecido de Hélê...espero que ela consiga cuidar dela.

— Preciso de espaço agora, o Edurne pode ficar, vocês dois— ela aponta para eu e Lucien— Vão buscar água quente..

E assim fizemos várias vezes, buscamos água, ervas em vários lugares, depois de um dia inteiro conseguimos resposta da curandeira... a vida de Hélê foi salva, ela está bem fraca mas vai se recuperar e daqui uns três dias já estará "como nova" como uma mãe fica "como nova" depois de perder um filho? e ainda temos um porém... e eu odeio poréns.. por que sempre tem que ter uma consequência? as coisas não podem simplesmente serem algo e pronto? sem poréns?

Foram usadas ervas fortes... Feéricos já não são férteis e agora que Ela não terá chance alguma...não vai nunca mais gerar uma criança no ventre...

A curandeira disse que realmente não entende... cachaça faz mal ao bebê mas não ao ponto de abortar... ela até perguntou se Hélê havia se machucado mas na verdade ela não tinha corrido nenhum risco, estava tudo muito bem... coisas ruins acontecem e não somos capazes de descobrir o porquê e as vezes parece que quando tudo está bem algo precisa dar errado, nunca podemos ser felizes.. algo sempre precisa acontecer.

— Lin— Lucien me interrompe e se senta comigo na mesa da estalagem— quero fazer algo...mas não sei se é certo— ele me mostra um papel.

— O que você quer fazer raposinha?— pergunto olhando para seu semblante triste e preocupado.

— Feyre é amiga dos Grãos-senhores da Corte Invernal, talvez ela pudesse pedir a eles para conversar com a família que quer casar Edurne... talvez ele ainda possa ficar com Hélê.... mas tenho medo de estar me intrometendo.

— Não, claro que não está! isso é uma ótima ideia... será que pode mesmo fazer isso?

— Posso sim, ja que você aprova posso escrever agora mesmo e enviar— dou um beijo na bochecha de Lucien como agradecimento o que o faz corar, pulo da mesa e digo:

— Então comece logo, escreva, vou sair para você se concentrar.

Lucien ainda está paralisado , o deixo com o papel de carta enquanto isso vou pegar algo e levar para minha amiga comer.

Corte de Imaginação e LuzOnde histórias criam vida. Descubra agora