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Jungkook

Yoongi ligou para o colégio fingindo ser meu pai e disse que eu estava doente. Quinze minutos depois, ele ligou fingindo ser o pai dele e disse que ele perderia as aulas por causa de uma emergência familiar.

— O seu sotaque é impressionante, Sr. Min.

Ele segurou um prêmio invisível.

— Eu gostaria de agradecer à Academia.

Dei uma risadinha.

— Tá bom, precisamos andar meia hora até a próxima cidade para chegar na estação de trem. Acha que consegue? — perguntou ele timidamente, fechando o zíper de duas mochilas. — Não pensei em todos os detalhes.

— Tudo bem — respondi. — Vou ficar bem.

Não contei que minhas costas vinham doendo ultimamente, nem que meus pés estavam inchados, porque tenho certeza de que ele teria cancelado a nossa aventura secreta. E cancelar uma viagem em que veríamos os quadros abstratos de Jackson Pollock era ilegal. Ou pelo menos deveria ser.

Ele olhou para mim, receoso, então abri um sorriso e mudei de assunto.

— O que tem nas mochilas?

— A h — disse ele, a preocupação se transformando em animação. — São nossos kits de arte. L i na internet que a galera descolada leva kits de arte para os museus e reflete profundamente sobre tudo.

— O que tem neles?

— O básico. Um caderno de esboços, canetas e lápis, uma garrafa d’água, uma revista pornô para mim, um livro da Jane Austen para você, e Oreos com recheio duplo.

Eu ri.

— Parece ótimo.

Quando chegamos à estação, eu já tinha comido todos os meus Oreos e dois de Yoongi. Ele me ofereceu todos, mas eu recusei dizendo que não era ganancioso. Meus pés latejavam, e ficar em pé era uma tarefa infernal. Eu nunca fiquei tão feliz ao ver um trem chegar à estação.

Embarcamos no trem, sentamos, e eu comi o resto dos Oreos dele. Ele riu dos meus dentes pretos.

N o museu, eu queria ver cada quadro e ficar até a hora de fechar. Eu queria me esconder e ficar lá dentro mesmo depois que fechasse, para ficar diante dos Pollocks e me perder completamente neles para poder me encontrar de novo.

Uma pessoa que nunca se perdeu de verdade nunca pode se encontrar de verdade.

A arte era tudo que havia de certo e de errado no mundo. A arte entende coisas que as palavras não são capazes expressar.

— Oximoro — disse Yoongi enquanto estávamos sentados, admirando uma das obras de Pollock. — Greyed Rainbow. “Arco-íris acinzentado.” — Talvez também seja a palavra preferida dele.

O quadro em questão era uma mistura de preto, branco, cinza eprata, mas na parte de baixo da tela havia pequenos fios em tons de amarelo, verde, laranja, azul e roxo.

— Ele quase não usava pincéis, sabia? Ele usava varetas, facas e várias ferramentas diferentes em suas técnicas para fazer a tinta pingar e respingar.

— A gora estou entendendo, Arte. É por isso que você ama o abstrato: primeiro, parece apenas uma confusão, depois você percebe que é de fato uma confusão, mas, ao mesmo tempo, não é. É um caos controlado.

— Sim. Sim, sim, mil vezes sim.

— É isso que a gente devia fazer para a nossa obra final. Três pinturas abstratas ao vivo na frente da plateia. C ada uma será um oximoro diferente. No primeiro você vai pintar ruidosamente e eu toco a música baixinho. No segundo, podemos fazer um quadro cheio de raiva enquanto eu toco algo feliz. Depois, podemos fazer um quadro de amor e eu toco algo que tenha a ver com ódio. E você pode pintar usando gravetos, pedras e folhas do bosque. Estimulando o seu próprio Pollock.

Arte & Alma°° YoonkookOnde histórias criam vida. Descubra agora