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Yoongi

Maluco | adjetivo| ma.lu.co| [mal’uku]

1.       Aquele que é mentalmente desequilibrado, louco, doido.

Insensato, ilógico; totalmente insano.

2.       Que tem probabilidade de se despedaçar.

3.       Fraco, enfermo ou doente.

 

Minha mãe era a melhor mãe do mundo. Menos quando não era. Eu a odiava da mesma maneira com que a amava: intensamente. Os dois sentimentos surgiam em ondas. Quando eu a amava, amava muito. Quando a odiava, não suportava olhar para ela.

 
Mas minha mãe nunca me odiava, e talvez esse fosse o problema. Talvez me amasse demais. Era difícil ser tão amado assim por alguém, porque, à medida que o tempo foi passando, aquele amor começou a parecer um mata-leão. Eu me preocupava demais em não a desapontar ou decepcionar, porque, sempre que isso acontecia, ela desmoronava. Ela entrava em pânico, se sentia desprezada. Resumindo, ela ficava maluca.

 
Ser amado por um certo tipo de pessoa era difícil, nem todo mundo sabe lidar com isso.

 
Eu nem sempre soube que ela era instável.

 
Ao longo dos anos, sendo criado ao lado da floresta com apenas ela

 
E a natureza como companhia, foi difícil notar qualquer coisa errada. A gente se divertia, rindo e cantando e tocando nossos instrumentos.

 
Quando minha tia Lisa nos visitava, as duas sempre riam e tomavam muito vinho que Lisa levava. Depois, minha tia passava semanas longe, e minha mãe e eu voltávamos à nossa rotina normal. Lisa foi a única pessoa que eu vi por muito tempo, exceto quando ia à cidade para fazer compras, onde as pessoas sussurravam sobre minha mãe e eu.

— Será que é genético? — perguntavam-se.

— Será que ele é maluco como ela?

 
Precisava me controlar ao máximo para não me aproximar dos desconhecidos e esmurrá-los por terem falado da minha mãe. Eles não a conheciam. Eles não conheciam a gente. Nós vivíamos sozinhos em nosso mundo feliz. Por que não cuidavam das próprias vidas? Por que achavam que eram melhores do que nós?

 
Eu voltava para casa irritado por eles nos odiarem sem nem saber quem éramos. Porém minha mãe fazia a raiva passar quando estava com a cabeça boa.

 
— Palavras, Yoongi. São só palavras vazias e insignificantes vindas de pessoas vazias e insignificantes.

 
Foi só quando comecei a visitar meu pai no verão que percebi que talvez nossa vida não fosse assim tão normal. Talvez as pessoas que sussurravam na cidade tivessem alguma razão.

 
Limpar as janelas da casa durante uma tempestade não era normal. Minha mãe tinha se convencido de que usar água da natureza era a única maneira de realmente limpar as janelas. E se não as limpasse bem, ela achava que eu não a amava.

E aí ela entrava em pânico.

Começava a falar das vozes na sua cabeça, alegando que eram reais. Começava a ver coisas que não existiam.

Lisa me contou depois que isso se chama transtorno esquizoafetivo. Eu não sabia o que era, mas parecia assustador, por isso fiquei preocupado.

 
Minha mãe passou a tomar remédios para neutralizar o efeito desses pensamentos problemáticos, e durante um bom tempo isso funcionou. Ela não tinha mais tanto medo das coisas. Tinha voltado a ser minha mãe — bem, mais ou menos. Ela sorria muito menos, mas dizia que as vozes tinham desaparecido.

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