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Yoongi

popular |adjetivo| po.pu.lar|[popul'ar]

1.              que tem a aprovação ou apreço de muitas pessoas.

2.                adequado para a maioria.

3.               encontrado frequentemente ou amplamente aceito.

Eu não sabia como me enturmar com a turma popular. Sentava com eles durante o almoço, escutava suas conversas sobre festas e fazia o meu máximo para sorrir o tempo todo, mas a verdade era que não tínhamos nada em comum. Todos vinham de famílias ricas, tinham vidas de luxo. Eu morava numa casa no meio do bosque. Todos praticavam esportes e faziam outras atividades escolares. Eu tinha minha mãe e não podia me juntar a nenhum clube fora da floresta. Eu só tinha meu violino, e era minha mãe quem me ensinava a tocar.

Nenhum daqueles garotos tocava nada, e apesar de as garotas dizerem que achavam sexy eu tocar violino, não sabiam nada sobre os melhores violinistas nem queriam conversar a respeito da ideia interessante de misturar sons clássicos com música moderna.

Falavam mais sobre sexo, bebidas e a próxima festa.

O colégio me irritava. Desde que eu chegara, eu tinha sido rotuladoe jogado numa caixa por causa de características que não tinham sido minha escolha. Eu tinha sido encaixado em um grupo que não tinha o menor desejo de me conhecer, pois eles só se preocupavam com o exterior das coisas. Por fora, eu me enturmava. Por dentro, era uma anormalidade.

Era perturbador o quanto transavam e ficavam entre si, como se fosse normal. Seung Woo namorava Su Bin, que tinha ficado com Seung Sik, que tinha transado com Han Se, que tinha chupado os dedos dos pés de Se Jung, que fizera sexo oral em Heo Chan depois que ele transou com Seung Woo, que continuava namorando Su Bin (Membros do grupo Victon). Era como se fossem um desses clãs familiares estranhos e emaranhados com relacionamentos consanguíneos.

Além disso, com base na definição de popular, aquelas pessoas eram o oposto do significado da palavra. Elas eram cruéis por nada. Formavam uma panelinha muito mais fechada do que a maioria do colégio. Claro que eles se amavam entre si, mas a maioria do pessoal do colégio os odiava.

impopular |adjetivo| im.po.pu.lar|[ĩpopul'ar]

                     1.   que não é popular: que desagrada ao povo.

Quando eu dava uma olhada pelo refeitório, sempre via Jungkook e Taehyung rindo juntos. Jungkook não era muito de sorrir, e suas risadas eram poucas e espaçadas, mas seu amigo sempre conseguia.

Eu estava pensando na risada dele desde a manhã em que conversamos na floresta sobre oximoros, câncer e outros despropósitos.

Gostei muito mais daquela manhã do que das conversas sobre sexo, bebidas e festas.

Eu gostava de natureza, de cervos e de Jeon Jungkook — que era um garoto triste e feliz ao mesmo tempo.

Às vezes, nossos olhares se encontravam e nenhum dos dois desviava. Parecia uma competição para ver quem passava mais tempo encarando. Quem vai desviar o olhar primeiro?

Eu nunca perdia. Ele sempre se virava.

Certa madrugada, 03h45 da manhã, meu celular começou a tocar.

Grunhi e estendi o braço para pegá-lo.

— Alô? — respondi com a voz sonolenta e falhando.

— Quero saber o que você acha de uma coisa. Estou pensando em abrir uma loja de discos na cidade, e quero que você venha para casa para me ajudar a administrá-la. Podemos fazer isso juntos, Yoongi. Podemos ter os melhores vinis e tal. Aposto que tem um armazém velho ou algo assim que a gente pode usar. E...

Ela parecia tão distante pelo telefone — tão longe da realidade. Queria que aquele som não fosse familiar. Mas foram aqueles sons e aqueles pensamentos que me levaram de Daegu a Seoul.

— Mãe. São quase quatro da manhã.

— Ah. Você estava dormindo? É que estou aqui na internet procurando alguma loja abandonada na cidade. Eu até fiz logotipos e tal no Photoshop que a gente podia usar na loja. O que acha de azul e fúcsia? Precisamos criar um nome também. Sei que o pessoal da cidade vive dizendo que sou uma fracassada e que nunca vou ter sucesso...

— Ninguém da cidade pensa isso, mãe.

— Eu sei o que as pessoas pensam, Yoongi. Eu sempre escuto. Ah! E gravei uma música nova. Quer ouvir?

Ela não me deu a chance de responder que eu tinha aula na manhã seguinte. Continuou falando e falando. Coloquei o celular na barriga depois de uma hora escutando aquele falatório despropositado e fechei os olhos. Aposto que ela não estava mais tomando os remédios.

A ligação da madrugada era o que eu precisava para lembrar por que decidira passar o ano com meu pai e não com ela.

Continua...

Arte & Alma°° YoonkookOnde histórias criam vida. Descubra agora