Ⓒⓐⓟⓘⓣⓤⓛⓞ ①①

10 2 1
                                    

Yoongi

Quando eu tinha 11 anos, visitei meu pai durante o verão. Num dos primeiros dias, ele me levou para Busan. Alugamos um barco de madeira na doca e ficamos sentados no meio do riacho o dia inteiro, torrando ao sol. Nossos anzóis estavam no fundo da água, e nenhum peixe parecia ter interesse em ser capturado. Meu pai tinha levado um pack de seis cervejas bem geladas para ele e, para mim, um de seis refrigerantes igualmente gelados.

Ele me repreendeu porque eu não quis colocar minhocas de verdade nos nossos anzóis, dizendo que as minhocas de plástico nunca davam certo. Mas minha mãe me ensinara que era preciso respeitar a natureza, ela dizia que, se não precisávamos comer o animal, não devíamos causar nenhum mal a ele.

Ficamos tomando nossas bebidas e pegando aquele bronzeado todo irregular.

Eu sempre me lembrava do silêncio do riacho. Lembro que mal nos mexíamos no barco, que a água ondulava somente de vez em quando e que um pássaro mergulhou à procura de uma refeição rápida. Depois de cinco horas de suor, a minha vara de pescar se mexeu e meu pai pulou para perto de mim, me ajudando a puxar o maior peixe que pesquei na vida.

— Puxe! — ordenou ele, e eu obedeci.

Eu puxei, puxei e puxei mais um pouco.

A hora da verdade foi quando o peixe emergiu das profundezas da água. A gente riu tanto que achei que minha barriga fosse explodir e que o refrigerante fosse sair pelo meu nariz. Na verdade, o peixe não era um peixe — era uma bota de escalada enorme. Ainda rindo, meu pai se encostou na lateral do barco.

— Acho que o jantar de hoje vai ser um pouco difícil de mastigar, Yoongi.

A gente continuou rindo — eu segurava minha barriga e ele ria das minhas gargalhadas.

Aquela foi a última vez que caímos na gargalhada juntos. Foi a última vez em que fomos felizes juntos.

Eu queria saber o que tinha acontecido.

Queria saber o que tinha mudado, o que o fizera parar de me amar.

Agora, o mais perto de nós dois rindo juntos era quando ele via comédias antigas em preto e branco na televisão da sala de estar todas as noites. Ele nunca me convidava para me juntar a ele, e eu percebia que ele ficava um pouco irritado quando eu me sentava. Então, eu preferia sentar no canto da varanda todas as noites para que ele não me visse nem me escutasse. Quando ele ria, eu ria.

Quase parecia que estávamos recriando um relacionamento de pai e filho que estava perdido no tempo e no espaço.

Eu nunca tinha gostado tanto de comédias em preto e branco na minha vida.

Continua....

Arte & Alma°° YoonkookOnde histórias criam vida. Descubra agora