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— Já tentou escrever pra ele? — A voz de Hermione é escutada, rouca e fina como sempre.
— Já.
— Já tentou ir até lá? — Dessa vez é Rony que pergunta, em um fio de voz.
— Eu não, tá doido.
— Vá até ele conversar, Harry. Se explica. Você não disse que ele apanha do pai? Ele não é bom da cabeça, vai falar com ele! — Ron praticamente implora, batendo em meu braço levemente algumas vezes.
— Se ele quer conversar, ele que venha até aqui! Das últimas vezes eu que fui falar com ele, agora é a vez dele de desistir do orgulho. — Digo, já nervoso. Se eu estivesse em um dia bom, com certeza teria mais empatia pelo Draco e tentaria ir falar com ele, como sempre faço, mas não é um bom dia.
Minhas notas em poções estão ruins, a grifinória perdeu alguns pontos injustamente e não aguento mais as pessoas olhando para mim o tempo todo. É como se eu fosse de outro mundo.
— Tenta, Harry. Você sabe que ele não vai dar o braço a torcer. Ele é um sonserino. Pelo menos tenta escrever outra carta ou sei lá. — Ron insiste, sua expressão gritando pena.
É incrível como o mundo gira. Antes se eu falasse que Draco Malfoy é legal eles me julgariam, diriam que é coisa da minha cabeça ou me perguntariam sobre drogas. Hoje, nesse exato momento, consigo ver o olhar de pena no rosto dos dois. Eles estão criando, inconscientemente, cada vez mais empatia pelo Malfoy; mesmo que Hermione diga que quer socá-lo as vezes.
— Você sabe que se ele tentar fazer algum mal de novo, vamos revidar, né? Então não custa tentar. No final quem perde é ele, Harry. Não você. — Hermione chega mais perto, tocando meu rosto com os dedos. Eles sabem o que aconteceu. Tudo. Não tive vergonha de dizer no dia, mas hoje, pensando bem, é constrangedor.
Hermione Granger é muito gentil, não só comigo. Ela sorri para todo mundo, tenta fazer as pessoas ao redor se sentirem confortável e é por isso que eu sou amigo dela.
E Ronald Wesley quer fazer todo mundo rir. Quer fingir que é uma pessoa que sente ódio das outras, mas ele, no fundo, não sente ódio por ninguém. Ele é um bom amigo por isso.
Neville quer sempre estar à disposição para ajudar e por isso sou amigo dele.
Mas Draco Malfoy... Ele é só Draco Malfoy. Sempre trata os outros mal. Parece querer ver o sofrimento alheio para se sentir bem. Draco é tão inseguro que para se sentir confiante usa do seu poder para ser superior. O que mais eu vi nele? Por que me interesso tanto?
— Obrigado, Mione. E obrigado você também, Rony. Mas acho que eu cansei de tentar. Já escrevi muitas cartas e ele nem deve ler. Acho que ele não se importa... deve ser realmente do mal. — Digo, sem esperanças.
Quero realmente acreditar que Draco Malfoy não é tão ruim. Quero acreditar que todo o abuso psicológico e físico que ele sofre que causou isso tudo; mas e se ele não tiver mais como ser salvo? Ele tentaria, ao menos, me contactar se não fosse tão orgulhoso?
Eu sinceramente não sei o que ele faria. Acho que um sonserino não abaixaria a cabeça para falar com o inimigo.
— Ei, Harry. Ele não é do mal. Eu sei que você viu algo nele e mesmo que você não saiba o que foi, deve ser importante. Você foi o primeiro a acreditar que ele era mais do que só um sonserino, e agora vai desistir dele? Nós somos do bem, Harry. Não desistimos das pessoas. É claro que eu ainda quero muito socar a cara dele por tudo que ele nos fez passar, por toda a dor que nos fez sentir, mas sei que ele deve se arrepender, lá no fundo. Sei que ele tinha um motivo. Sei de tudo isso porque aprendi com você, Hazz. Você que nos — Aponta para Rony — ensinou a ver ele com outros olhos. E eu acho, sinceramente, que deveria ir até lá. Contar toda a verdade, até mesmo sobre os sonhos. Desde o começo. Talvez ele saiba o que fazer com isso. — Hermione para de falar com calma, olhando em meus olhos. Ela sorri. — Se você não conseguir falar pessoalmente, escreva uma carta. Se ele vale a pena mesmo, ele está lendo todas.
Eu sorrio.
Hermione tem razão. Não desistimos das pessoas e mesmo que eu não saiba o porquê de repente Draco Malfoy se tornou uma pessoa atraente que quero estar junto, deve ser importante. Até porque, se conheço bem Malfoy depois de todos esses anos, sei que ele nunca me responderia se eu falasse com ele. Mas ele respondeu, depois de tanto tempo, e isso não é algo comum. Talvez seja o destino, né?
