Eu vou mudar a narrativa, ao invés do Rin falando, vai ser eu, o autor da obra. Lembrando, se está em itálico não é o presente.
Okumura tinha acordado cedo naquela manhã fria e solitária, como sempre. Yukio, seu irmão mais novo, tinha apontado uma arma para a cabeça de Okumura inúmeras vezes, culpando-o e julgando-o, como sempre fazia. Quem um dia tinha sentado ao seu lado para comer, agora passava direto e fazia o sinal da cruz. As chamas que tanto abominavam não eram de seu pai, Satan, mas dele mesmo, Okumura Rin.
Sua vida não fazia sentido havia muito tempo. Ele tinha perdido alguém que considerava como um pai, seu irmão agora o via como um monstro, e seus amigos nem sequer se aproximavam mais. Estava sozinho com os demônios de sua própria mente; pensamentos de acabar com a própria vida tinham passado milhares de vezes pela sua cabeça, torturando-o e consumindo-o, como um fungo que devora uma fruta esquecida na fruteira.
Talvez, para Okumura, aquilo tivesse sido um ato corajoso, mas, para os outros, que observavam de fora, podia parecer uma tolice. Para ele, no entanto, não havia outra saída; ele queria deixar de ser um fardo. Morrer, para ele, o filho de Satan, seria um alívio gigantesco para todos — ao menos, era o que ele acreditava. Era o que sempre tinha passado em sua mente, até a Kurikara atravessar seu peito, consumindo seu corpo com a dor e entorpecendo seus sentidos, até ele finalmente parar de sentir. Ali ficara a imagem de seu corpo sem vida no banheiro do dormitório.
Naquele banheiro frio, um belo garoto tinha sucumbido às próprias chamas. Um jovem que tinha tanto a viver partira ali, sendo esquecido por todos — ou talvez por quase todos. Uma pessoa cheia de vida já não estava mais entre eles, mas nem tudo estava perdido. Porém, demônios bons não voltavam para Gehenna, especialmente Okumura, que permanecia preso pela tristeza.
Mephisto Pheles, meio-irmão mais velho de Okumura Rin, resolveu visitar seu irmão, afinal, seu futuro não era mais possível de visualizar. Com todas as suas cores vibrantes, Mephisto decidiu procurar Rin, revirando a escola, a academia, o local onde ele havia vivido na infância e, por último, seu dormitório. Procurou por todos os cantos até finalmente encontrá-lo, seguindo o chão branco manchado de um vermelho rubro até o banheiro. Ao entrar, avistou o corpo sem vida e pálido de Rin. Mephisto se aproximou e, com cuidado, retirou a Kurikara de seu peito, estalando os dedos para que tudo fosse limpo. Tentou reviver o garoto, mas, pela primeira vez, seu poder de ressuscitar alguém não funcionou. O corpo permaneceu pálido e frio, mas um sopro quente passou por sua bochecha, como se algo estivesse partindo com sua chegada.
O irmão gêmeo de Okumura Rin estava ausente, e Kuro, o animal de estimação de Okumura, provavelmente estava dormindo em algum lugar. Mephisto, no entanto, estava absorto em melancolia, e seu estado mental apenas piorou ao olhar para onde ficavam as pias, onde viu uma carta manchada de lágrimas. Era possivelmente uma carta onde Okumura explicava como chegou àquela situação, mas Mephisto não saberia naquele momento; afinal, ele apenas guardou a carta em seu bolso. Em sua mente, ninguém merecia ler aquela carta, nem ele mesmo, sob sua própria perspectiva. Não havia remetente, apenas dor, que parecia emanar pelos poros de Mephisto.
O corpo de Okumura foi levado por Mephisto para ser enterrado junto ao pai adotivo do garoto, Shiro. Mephisto levou consigo a Kurikara para sua mansão, deixando-a em um quarto que pertenceria a Okumura mais cedo ou mais tarde, bastando ter paciência para aguardar o que finalmente aconteceria. O dia em que a grande caixa, como Mephisto chamava, desceria ao subsolo, guardando por um tempo aquele corpo jovem, seria alguns dias após sua morte.
O dia seguinte amanheceu com uma chuva tão forte que parecia capaz de derrubar árvores inteiras, arrancando-as pelas raízes de maneira surpreendente. Perder um ser com tanta luz e poder deixou o universo com um peso a menos, mas, entre as gotas frias de chuva, havia uma pequena bola de luz flutuando, afastando-se cada vez mais, como se fugisse da escuridão trazida por aquele dia nublado. Para todos, a morte do jovem Okumura seria uma surpresa, e Mephisto faria questão de expor as coisas ruins que haviam feito, como se apontasse uma arma à cabeça de cada um deles.
Mephisto fora informado por seu secretário que os alunos exorcistas, Yukio e Shura, estavam em sala, provavelmente conversando sobre algo que não lhe interessava naquele momento. Nada mais interessava a Mephisto, exceto suas pesquisas para descobrir se conseguiria trazer Okumura de volta.
As roupas chamativas, rosas, com laços e babados, haviam sido substituídas por um preto e branco que sangrava junto com o mundo e expunha seu ódio a todos, enquanto as horas passavam como se não fossem nada. Mephisto pensava em milhares de coisas enquanto entrava na sala, seu jeito espalhafatoso substituído por um único empurrão com a bengala, abrindo a porta com um som incômodo e irritante.
– Meus parabéns a todos vocês, exorcistas, e também a Okumura. Vocês conseguiram fazer um demônio se suicidar, algo jamais feito por nenhum humano — ele dizia, batendo palmas enquanto os presentes ficavam visivelmente confusos. Para ele, era melhor contar aquilo de costas; se olhasse para aqueles que o mataram, seria capaz de acelerar suas vidas até que morressem de velhice naquele exato momento. – Okumura Rin se suicidou com a Kurikara. O enterro é hoje após a aula.
Saindo da sala com a mente tão perturbada quanto o ambiente, ele se foi, caminhando por aquele lugar frio e úmido em direção à saída, sumindo lentamente pelos corredores até estar de volta ao seu escritório. Com um simples movimento, ele disse:
– Eins, zwei, drei. – E então, um grande relógio cuco surgiu, cuspindo uma pessoa para fora: era Amaimon, senhor da terra e meio-irmão de Okumura e Mephisto. Com o jovem de cabelos verdes situado, Mephisto ligou para Neuhaus, convocando-o para pesquisar sobre o antigo laboratório escondido sob a academia e solicitando a criação de um novo corpo para Okumura Rin – idêntico ao primeiro, mas mais poderoso e livre de interferências.
Com tudo em seu devido lugar, Mephisto partiu com Amaimon para se despedir de Okumura. Afinal, para Mephisto, a morte nunca seria um adeus, mas sempre um até logo.
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A Fênix de Chamas Azul
FanfictionE se tudo tivesse sido diferente? Se Rin tivesse morrido? Se Mephisto tivesse adiantado o renascimento da Fênix? E se Rin não tivesse suportado o ódio dos amigos e do irmão? E se ele tivesse retornado tratando todos com frieza? Se agora ele não se a...