As Cartas de Suguro para Okumura Rin

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× Ryuji Suguro ×

Fazia poucos dias desde o enterro do Rin, a uma semana as aulas pareciam sem vida alguma, a uma semana ninguém mais via aquele sorriso tão brilhante ou ouvia aquela risada, ou sequer tinham notícias de Kuro. 

Eu resolvi fazer cartas, se um dia encontrasse Rin novamente, faria questão de entregar cada carta que iria escrever. Separei um caderno inteiro só para aquilo, peguei uma caneta azul e comecei a escrever, ou batucar no caderno pensando em como começar.

Desculpa, sei que deve estar ouvindo muito isso de muitos, mas eu sinto muito. 

Eu falei que éramos amigos, mas no momento que precisou da minha amizade eu fui um dos que virou as costas para você. Sei que pedia para confiar nas suas chamas e agora eu entendo, as chamas são suas e não é sua culpa elas serem as mesmas que as de Satã. 

Agora eu entendo, cada chama é uma chama. Eu espero que você me desculpe algum dia, não posso pedir ou exigir algo de ti, apenas espero que possa me perdoar e olhar na minha cara sem puxar Kurikara. 

Inclusive, eu também gostaria de te atualizar de algumas novidades enquanto não volta. O Senhor Mephisto deu uma bronca em todos da turma e inclusive e principalmente no Yukio, se eu lembrar as palavras dele eu coloco no fim da carta. Amaimon partiu com Kuro e Kurikara, eu os vi de longe apenas e não tive coragem de me aproximar, eles pareciam tão ocupados que eu não quis me meter.

Lembrei o que o Senhor Mephisto disse e foi o seguinte: "Apontam uma arma na cara dele, dizem que as chamas dele matam pessoas, ignoram completamente ele, fazem um sapateado nos sentimentos dele, botam a culpa nele por tudo de ruim que acontece com cada um individualmente. Querem que eu explique o que? Querem que eu fale o que? Vocês pensam que os demônios não sentem absolutamente nada, mas estão enganados. Ele estava na borda do precipício e a cada coisa falada era mais um passo que ele dava para cair. Vocês choram agora, mas pensaram o quanto ele chorou? Pensaram em tudo que disseram? As chamas eram dele, e ele se matou com elas, ele preferiu morrer do que aguentar mais uma coisa maldosa vinda de vocês. Eu te pergunto Okumura-Sensei, onde você estava quando o Okumura Rin se matou? Onde você estava Shiemi? Onde você estava Suguro? Onde você estava Shima? Onde você estava Konekomaru? Onde todos vocês estavam? Exatamente, longe dele. Eu sabia que tinha alguma coisa errada e fui atrás dele, o dormitório estava vazio e o sangue já seco quando eu o encontrei. Vocês nunca foram amigos do Rin, e você Yukio nunca foi um irmão digno de Okumura Rin. Tantas pessoas foram mais que todos vocês juntos, o Padre Fujimoto teria vergonha de você Yukio, saiam da minha sala agora e parem com essa falsa cara de choro, aposto que vocês querem comemorar a morte dele, então apenas o façam."

Todos ficaram chocados e saímos da sala dele como fomos ordenados, menos Izumo, ela ficou na sala dele e depois de um tempo ela saiu. Inclusive eu acho que o senhor Mephisto está certo sobre isso, estamos todos errados e por isso vou pedir desculpas todos os dias.

Desde que você se foi, as nuvens estão extremamente carregadas, o universo parece odiar sua perda. Espero que independente de onde você esteja, você esteja bem. Você não tem culpa de absolutamente nada, a gente tem a culpa de ter tirado o seu sorriso.

E me desculpe novamente.

Encerrei a primeira carta e tirei a página do caderno colocando em um envelope azul o fechando para guardar no meio do caderno. Me levantei da cadeira colocando o caderno no lugar, sempre que estivesse com vontade iria escrever uma nova carta. 

∆ 

Meu dia sequer havia começado direito, estava na primeira aula. O caderno de cartas estava em cima da minha mesa aberto, eu já sabia os conteúdos da aula que estava sendo dada então resolvi escrever uma carta. 

Oi Rin, sou eu de novo. Desculpa antes de tudo, estou escrevendo essa carta na aula, ela parece tão chata que está me dando sono. Todos ainda estão com uma cara péssima, você não deixou uma carta eu acho. Mas pelo o que o senhor Mephisto disse você deixou uma carta sim, mas não merecemos ela e talvez nunca vamos merecer. 

Inclusive desculpas de novo, sério perdão. Espero que quando ler não queime as cartas, ou se queimar não seja com tanto ódio. As aulas no curso de exorcistas parecem tão monótona sem você, sabe quando só é ouvido o barulho de respiração e de um giz riscando na lousa? É isso que escutamos, ouvimos apenas respiração e o barulho agudo que vem da lousa. Seu lugar está vazio e tem dias que ficamos encarando a porta esperando você entrar com seu costumeiro sorriso. 

Talvez eu gostasse só um pouquinho do seu sorriso, você brilha bem mais que o Sol, seus olhos são o céu azul livre de imperfeições e o seu sorriso é o Sol. Desculpe por ser um dos causadores de arrancar o seu sorriso, eu deveria ter sido um amigo melhor afinal foi eu que disse que éramos amigos, espero que você possa confiar em mim novamente, algum dia. 

Ah, tenho que ir. Acabou a aula já e teremos outra, e se eu souber o conteúdo eu farei outra carta. Tchau Rin, me perdoe.


Dobrei a carta e guardei no meio do caderno e o fechei, agora prestando a devida atenção na aula ou tentando. A minha cabeça vagava para o que o Mephisto nos disse, esperava o dia que Mephisto deixasse a gente ler a carta do Rin, mas eu teria certeza que seria extremamente doloroso. 

As horas passavam mais rápido que o de costume, talvez fosse pelo extremo tédio que me encontrava no momento. Estava no refeitório revirando a comida olhando para o nada como se aquilo fosse mais interessante que a comida em si, e era na verdade, já que minha mente viajava nas lembranças de Okumura Rin. A pele tão pálida, os cabelos sempre bagunçados me lembravam um gato arrepiado, os olhos bem já era claro o que lembrava, o sorriso tão radiante com os caninos pontudos, o rabo todo preto com a ponta fofa, as orelhas pontudas e o uniforme todo bagunçado como se sempre estivesse atrasado para tudo. Aquele era o charme de Okumura Rin, e eu queria ver aquilo novamente, pelo menos mais algumas vezes antes de morrer.

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