As Cartas de Suguro para Okumura Rin

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Suguro se sentia triste e extremamente culpado desde a morte de Okumura. Talvez tudo o que ele havia feito devesse ter sido feito de outra forma; se ao menos tivesse pensado nos sentimentos do garoto antes de se fixar na ideia de matar demônios – especialmente um portador das chamas. Tantas coisas passavam pela mente de Suguro que, em certo momento, ele resolveu parar de pensar e começar a escrever.

As aulas estavam chatas desde a morte de Okumura. Ninguém mais atrapalhava, e as missões pareciam sem vida – ninguém era imprudente, ninguém se sacrificava primeiro. Tudo era estranho para Suguro e para alguns dos outros, embora talvez nem todos compartilhassem os mesmos sentimentos.

As cartas que ele escrevia, uma após a outra, formavam um pequeno monte em seu dormitório. Naquele momento, Suguro escrevia mais uma carta. Ele havia decidido que, se algum dia encontrasse Rin novamente, faria questão de entregar cada uma das cartas que estava escrevendo. Pegou um caderno reservado só para isso, uma caneta azul, e começou a escrever, depois de bater a caneta repetidamente no caderno, pensando em como começar.

E quando começou, foi da seguinte forma:

"Desculpa. Sei que deve estar ouvindo isso de muitos, mas eu realmente sinto muito.


Eu disse que éramos amigos, mas, no momento em que você precisou da minha amizade, fui um dos que virou as costas para você. Sei que você pedia para confiar nas suas chamas, e agora eu entendo. As chamas são suas, e não é sua culpa elas serem as mesmas que as de Satã.
Agora entendo que cada chama é única. Espero que um dia você possa me desculpar. Não posso pedir ou exigir nada de você; apenas espero que consiga me perdoar e olhar na minha cara sem puxar Kurikara.

Inclusive, também gostaria de te atualizar sobre algumas novidades enquanto você não volta. O senhor Mephisto deu uma bronca em toda a turma, especialmente no Yukio. Se eu lembrar exatamente o que ele disse, coloco no fim da carta. Amaimon partiu com Kuro e Kurikara; eu os vi de longe e não tive coragem de me aproximar. Eles pareciam tão ocupados que preferi não me intrometer.

Lembrei o que o senhor Mephisto disse, e foi o seguinte:
'Vocês apontam uma arma na cara dele, dizem que as chamas dele matam pessoas, ignoram completamente ele, fazem um sapateado nos sentimentos dele e botam a culpa nele por tudo de ruim que acontece com cada um individualmente. Querem que eu explique o quê? Querem que eu fale o quê? Vocês pensam que os demônios não sentem absolutamente nada, mas estão enganados. Ele estava à beira do precipício, e cada coisa que vocês disseram foi mais um passo que ele deu em direção à queda. Vocês choram agora, mas pensaram no quanto ele chorou? Pensaram em tudo que disseram? As chamas eram dele, e ele se matou com elas; preferiu morrer a suportar mais uma palavra cruel de vocês. Eu te pergunto, Okumura-Sensei, onde você estava quando Okumura Rin se matou? Onde você estava, Shiemi? Onde você estava, Suguro? Onde você estava, Shima? Onde você estava, Konekomaru? Onde todos vocês estavam? Exatamente, longe dele. Eu sabia que algo estava errado e fui atrás dele, mas o dormitório estava vazio e o sangue já seco quando o encontrei. Vocês nunca foram amigos do Rin, e você, Yukio, nunca foi um irmão digno de Okumura Rin. O Padre Fujimoto teria vergonha de você, Yukio. Saiam da minha sala agora e parem com essa falsa cara de choro; aposto que vocês querem comemorar a morte dele, então apenas façam isso.'

Todos ficaram chocados e saíram da sala como ele ordenou, menos Izumo, que ficou lá por um tempo e depois saiu. Inclusive, acho que o senhor Mephisto está certo sobre isso. Todos erramos, e é por isso que vou pedir desculpas todos os dias.

Desde que você se foi, as nuvens estão extremamente carregadas; o universo parece odiar sua perda. Espero que, onde quer que você esteja, esteja bem. Você não tem culpa de absolutamente nada; somos nós que tiramos o seu sorriso. E me desculpe novamente."

Com a primeira carta finalizada, ele a dobrou e guardou em um envelope azul, colando um pequeno adesivo de comida, o mesmo tipo que Okumura costumava colocar em sua própria mesa.

O dia de Suguro estava começando quando ele colocou a carta debaixo da mesa. O conteúdo da aula era desinteressante; a escola normal se tornava entediante quando se sabia de tantas outras coisas. Quando tudo ficou monótono em sua mente, ele começou a escrever novamente.

"Oi, Rin, sou eu de novo. Antes de tudo, desculpa. Estou escrevendo essa carta durante a aula — está tão chata que me dá sono. Todos ainda estão com uma cara péssima. Acho que você não deixou uma carta, mas o senhor Mephisto disse que sim, só que não a merecemos, e talvez nunca mereçamos.

Desculpa mais uma vez, de verdade. Espero que, quando ler, você não queime as cartas... ou, se queimar, que não seja com tanto ódio. As aulas no curso de exorcistas estão tão monótonas sem você; sabe quando só se ouve o barulho da respiração e o risco do giz na lousa? É isso que ouvimos: respirações e aquele som agudo da lousa. Seu lugar está vazio, e em alguns dias ficamos apenas encarando a porta, esperando você entrar com seu sorriso de sempre.

Talvez eu gostasse só um pouquinho do seu sorriso. Você brilha mais que o Sol, seus olhos são um céu azul livre de imperfeições, e seu sorriso é o próprio Sol. Me desculpe por ter sido um dos que apagaram esse sorriso. Eu deveria ter sido um amigo melhor — afinal, fui eu quem disse que éramos amigos. Espero que, algum dia, você possa confiar em mim novamente.

Ah, tenho que ir. A aula acabou, e já vamos para outra. Se eu souber o conteúdo, faço outra carta. Tchau, Rin. Me perdoe."

Uma nova carta dobrada e guardada em um envelope, e Suguro tentava se concentrar na aula, mas sua mente vagava, viajando para longe daquela sala, esperando que Mephisto surgisse com alguma ideia maluca que, de alguma forma, fizesse sentido no final.

As horas passaram, talvez o tédio ajudasse o tempo a fluir, mas ninguém imaginava que era Mephisto quem acelerava o tempo sem parar, fazendo os minutos correrem como se não fossem nada, como se o resto do mundo não precisasse daquele tempo para viver um pouco mais. Enquanto o tempo passava, todos que conheciam Okumura deixaram a mente viajar até ele: sua pele pálida, o cabelo sempre bagunçado, lembrando um gato arrepiado, os olhos azuis como o céu, o sorriso radiante com os caninos pontudos, o rabo preto com a ponta peluda, as orelhas pontudas e o uniforme desarrumado, como se estivesse sempre atrasado para tudo. Esse era o charme de Okumura Rin, e todos desejavam vê-lo de novo. Mas nem todos mereciam essa visão novamente.

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