Eu nunca achei que em pleno século vinte e um conseguiria algo na vida além de dívidas, boletos e choro de bebê no meu ouvido todas as noites, mas tudo mudou quando fui contratada para um casamento falso, onde tudo que eu faria era morar com meu marido falso e fingir ser feliz com ele.
Não devia ter orgulho disso, eu sei, mas precisava urgentemente de fazer alguma coisa para não ter que voltar para o interior da Bahia com uma filha nos braços e me ajoelhar aos pés de minha mãe e pedir desculpas por não ter escutado ela quando ela disse há três anos que eu não conseguia nada vindo para o Rio de Janeiro.
No início da proposta achei um absurdo, parecia que estava me vendendo, mas o valor que me ofereceram era impossível de negar. Com o dinheiro, poderia cuidar bem da minha filha de dez meses.
Ísis, o nome da minha filha, era uma homenagem a uma amiga baiana que morreu quando éramos ainda adolescentes. Desde a morte dela fiquei completamente abalada e decidi que mudaria minha vida e viria para a cidade maravilhosa, mas alguns anos depois eu estava na merda morando em um apartamento sujo com outras cinco pessoas que conheci no caminho e fazendo sexo com um cara chamado Marlon, ele era um idiota completo, mas eu estava apaixonada e achava que ele era o cara mais legal do planeta. Quando soube da minha gravidez, ele simplesmente desapareceu, deixando-me sozinha e com dívidas.
E agora, quando eu estava começando a aderir a ideia de voltar e dizer à minha mãe que ela era uma avó e que eu estava completamente arrependida por minhas escolhas, a luz no fim do túnel apareceu.
Então lá estava eu, de vestido branco, cabelo com penteado diferente, maquiagem não muito forte e mil convidados ao meu redor me vendo entrar na igreja acreditando que tudo isso era real. Meu noivo estava no altar e olhou para mim sem expressar nenhuma reação, porque ele não tinha razão para estar sentindo algo, mas as pessoas juravam que ele me amava muito.
O jogador, atacante do Flamengo de apenas vinte e quatro anos, havia se metido em muita encrenca que estava prejudicando a si mesmo e ao nome do time, então seus assessores decidiram que se ele encontrasse uma figura feminina para casar, as pessoas iriam deduzir que ele havia sossegado e eles parariam de gerar fofoca com seu nome.
Todo o casamento tinha sido lindo e alguns meses se passaram, eu era "oficialmente" esposa de ninguém menos que o Pedro Guilherme, mas não nos dávamos bem.
— Essa menina não cansa de chorar nunca? — indagou Pedro segurando Ísis em seus braços enquanto andava de um lado para a outro na sala de estar tentando fazê-la parar de chorar.
Desde o primeiro contato que tivemos ele deixou claro que tudo o que estávamos fazendo era profissional e que nem precisaríamos conversar, então tentei fingir que ele não existia na casa quando estava, mas Ísis parecia querer fazer de tudo para eu e o Pedro conversarmos.
Na cozinha acabei de fazer a mamadeira dela, já tinha perdido a conta de quantas vezes eu e ele brigávamos justamente pela situação que estávamos passando no momento. O Pedro não era muito fã de filhos e quando soube que eu tinha, tentou fazer de tudo para que a assessora mudasse de esposa, mas ela disse que assim daria mais credibilidade.
— Obrigada por segurar ela. — disse ao chegar perto, tirando minha filha dos braços dele e sentando-me no sofá para dar a mamadeira.
Pedro esticou os braços e logo subiu, me deixando finalmente sozinha no grande andar de baixo. A casa era enorme e confesso que sentia um pouco de medo de ficar só com minha filha enquanto ele viajava, mas eu nunca daria o braço a torcer que me sentia mais segura com ele em casa. Às vezes Thaísa vinha me ajudar e ela era um amor de pessoa, completamente diferente do irmão.
Pelo menos de todo o caos que eu estava vivendo, havia conseguido ajustar minhas dívidas e nunca mais vi a cara das outras cinco pessoas que moravam comigo anteriormente.
E mais uma vez éramos só eu e minha garotinha de quase um ano. Um fato que aconteceu comigo e que tenho certeza que acontece com a maioria das mulheres é que a criança nasce com a cara do pai e com a Ísis não foi diferente, ela tinha olhos azuis, pele muito clara e cabelos pretos. Ela era linda como seu pai idiota.
Os seguidores do Pedro a amavam desde o primeiro momento que ele postou uma foto e ela estava no fundo, então ele percebeu que realmente dava engajamento ter uma esposa com filha e passar a imagem de um bom padrasto. Mal sabiam como era na vida real. Rezava todos os dias para que minha mãe nunca descobrisse o que eu estava me tornando no Rio de Janeiro.
Quando Ísis terminou de mamar, caminhei com ela por alguns minutos para colocá-la para dormir e finalmente consegui. Subi as escadas até o segundo andar e coloquei-a no berço que tinha no meu quarto. Mesmo com outros quartos sobrando, optei por não ficar longe de minha filha.
Já passava de uma da manhã e eu estava exausta, mas ainda tinha que terminar de arrumar toda a bagunça que deixei na cozinha.
Era engraçado como minha vida foi de fracassada pobre para fracassada rica, mas extremos eram comigo mesmo.
— Não vai dormir? — ouvi a voz do jogador e virei-me vendo Pedro se aproximando da cozinha.
— Tenho que limpar tudo isso. — mostrei a pia cheia de louças e o fogão sujo depois que o leite espirrou todo para fora da leiteira enquanto eu o esquentava.
— Temos empregada para essas coisas.
Fácil falar, mas não conseguia dormir sem limpar tudo antes. Era quase uma mania.
— Eu sei, mas vou limpar mesmo assim.
Ele deu de ombros e foi até a geladeira, onde pegou um pouco de água. Nossas conversas eram curtas e eu não fiquei mais surpresa com o quão arrogante ele era, o que eu não pensei que ele fosse quando descobri quem ele era. Aparências enganam.
— Amanhã vou viajar cedo, acho que volto só na segunda.
— Boa viagem. — sorri amarelo e continuei ajeitando tudo depois que ele subiu novamente para o segundo andar.
Quando ele viajava, a paz se estabelecia em casa, embora ele não fosse tão barulhento, quando não estava assistindo a um jogo na televisão estava na academia.
Quando finalmente deitei meia hora mais tarde, peguei meu celular e atualizei algumas redes sociais. Eu não parava de ganhar seguidores e curtidas em minhas fotos, inclusive até mesmo de alguns outros famosos. Não gostava disso, pois uma hora ou outra eu sentia que minha mãe iria descobrir.
E aquela estava sendo a minha nova vida desde dois meses atrás, quando assinei um falso contrato de casamento com um famoso para conseguir me sustentar.
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Eita que o bicho vai pegar!
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Contrato de Casamento | Pedro Guilherme
FanfictionDepois de ter ido para o Rio tentar sua vida de modelo, Laura, acaba conhecendo um rapaz mas ela acaba ficando grávida, e desde então o mesmo acaba sumindo repentinamente. Entretanto, a agência de modelos resolve entrar em contato com Laura para que...