Quinze

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Minha mãe me entregou a minha bolsa e eu botei a alça do lado do meu ombro. Me olhei mais uma vez no espelho do guarda-roupa do meu quarto; meu cabelo estava penteado para trás, eu vestia um short jeans, uma camisa do Flamengo que ganhei de Pedro antigamente e calçava sandálias rasteiras. Meu irmão encostado no batente da porta de braços cruzados não estava gostando nada do que via, mas ele não falaria para mim.

Durante as duas semanas seguintes do dia em que fui ao bar com as meninas, elas começaram a me incomodar com mensagens dizendo para irmos àquele jogo e tentei dar todas as desculpas, mas elas estavam decididas a fazer isso.

— Você vai mesmo fazer isso? — minha mãe perguntou, ela estava preocupada comigo desde quando voltei do Rio e nunca mais deixou de se importar com os meus sentimentos.

Eu assenti, embora não quisesse realmente fazer. Pode ser que no meu subconsciente eu quisesse ver Pedro novamente, mas enquanto eu permanecesse lúcida negaria até a morte.

— Toma cuidado, torcida de futebol é uma confusão. — foi tudo que meu irmão falou.

Quando cheguei na sala encontrei minha filha brincando com minha irmã na cabana, Ísis, ao me ver, correu em minha direção e agarrou minhas pernas.

— Mamãe você está linda! — seus olhinhos brilharam.

E foi aquela voz suave que me acalmou sempre que pensei que poderia desmoronar. Ela seria minha companheira para sempre.

— Obrigada, meu amor. — abaixei-me e a abracei. — Vai se comportar com sua tia?

— Sim, mamãe. Eu sou grande já.

Todos nós rimos e ouvimos o toque do interfone. O meu irmão saiu para atender e logo voltou com as minhas duas amigas, a Luana tinha até uma bandeira nas costas.

— Pronta? — Valéria indagou.

— Não. — sorri amarelo e balancei a cabeça em negação.

Elas foram quem pagaram o meu ingresso e Luana dirigia até a capital que ficava há uma hora e meia da nossa cidade. Era muita vontade mesmo de fugir da família.

Durante toda a viagem, as meninas ficaram conversando no banco da frente sobre o quanto estavam animadas para ir a um jogo, já que nunca haviam ido a um estádio. Eu também não tinha ido, embora o Pedro já tivesse me convidado algumas vezes, nunca tive coragem de vê-lo jogar pessoalmente.

Quando chegamos estacionamos o carro bem longe por recomendação do meu irmão, ou alguém poderia passar e arranhar o veículo com uma brincadeira de mau gosto. Caminhamos por alguns minutos até chegarmos à fila que se formava para entrar no local, havia muitos torcedores, alguns cantando, outros gritando. Era uma bagunça total.

— Eu escolhi o melhor lugar do mundo! — Valéria balançou os ingressos conforme a fila andava.

Eu não queria saber onde ela escolheu os assentos, mas vindo dela, se ela pudesse se sentar ao lado do gol, ela estaria lá.

Cerca de quarenta minutos depois finalmente entramos e ela nos conduziu escada abaixo, bem perto do campo e um pouco para o lado onde ficam os reservas e o treinador.

— Não vamos enxergar nada. — Luana reclamou.

— Relaxem, meninas. — rebateu a outra, terminando de pagar por três copos de cerveja. — Nós viemos para nos divertir acima de tudo.

O mais estranho é que de repente todo o estádio se encheu rapidamente, como se todos tivessem aparecido do nada. Aí todos os jogadores, árbitro, reservas, técnico começaram a entrar em campo e meu coração disparou quando vi o motivo de eu estar ali entrar de uniforme, com o cabelo bem cortado e mais bonito do que nunca.

Contrato de Casamento | Pedro GuilhermeOnde histórias criam vida. Descubra agora