Três

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Sentei-me no banco em frente ao Pedro que cortava algumas carnes para fazer um churrasco que tinha combinado com os amigos jogadores. Luísa resolveu levar Ísis para dar uma volta no bairro já que eu não aguentava mais escutar o choro da menininha e não saber o motivo. Como nossa secretária do lar era uma mulher já com três filhos, sabia muito bem cuidar de criança e resolveu dar uma volta com ela. Poderia muito bem fazer isso eu mesma, mas preferi ficar e conversar com Pedro a respeito da festa que estava planejando fazer.

— Posso fazer uma festa de aniversário de um ano para a Ísis aqui? — indaguei sem enrolação, mesmo com medo do que ele iria falar.

— Quem você vai convidar? — rebateu com outra pergunta sem tirar os olhos da carne.

— Só a Luísa e o marido dela, você pode chamar seus amigos.

Ele soltou uma risada e levantou o olhar.

— Não vou bancar o padrasto bonzinho para os meus amigos.

— Então não chama, sai de casa ou sei lá, fica trancado no quarto. — era fácil me estressar e eu já estava soltando fogo pela boca. — Posso ou não?

Ele voltou a cortar a carne. Vontade de jogar aquela coisa no chão só de raiva eu tinha.

— Não.

Levantei do banco.

— Vai se foder então. — ditei antes de me virar e ir para dentro de casa novamente.

Que homem chato! Sério, as pessoas estavam muito erradas se o achavam legal. Pedro era arrogante, frio, presunçoso e...

— Caralho! — ouvi ele xingar lá na área de churrasqueira interrompendo meus xingamentos mentais para ele.

Virei-me lentamente tentando espiar o que havia acontecido. Tomara que a carne tivesse caído no chão, iria morrer de rir desse babaca.

Porém ele se aproximou correndo e o chão começava a formar uma trilha de sangue onde ele passava até chegar perto de mim.

— O que aconteceu? — perguntei, ficando assustada.

Ele esticou a mão que tinha um corte que escorria sangue e mesmo pressionando não estava parando de vazar.

— Porra, Laura, me leva no hospital.

Segurei seu pulso e o puxei para o lavabo do andar de baixo, onde liguei a torneira.

— Vai arder só um pouquinho.

Levei sua mão até a pia, antes ela era branca e ficou totalmente vermelha. Quis rir e achar bem feito, mas parecia que ele realmente estava sentindo dor. Jogador cai de qualquer jeito, quebra perna, leva soco no nariz, mas não aguenta um corte? Cada um.

Mas como ele era saudável, logo percebi que estava parando de sangrar e tirei da água. Não havia sido um corte profundo, mas por causa da lâmina da faca ele sangrava por bastante tempo.

— Vou te fazer um curativo, não vamos precisar ir a nenhum hospital.

Enquanto terminava de enrolar um curativo na palma de sua mão, ele a puxava de vez em quando ao arder, mas não falava nada. Nunca tinha visto-o tão desesperado, parece que alguém tinha nervoso de ver sangue ao vivo.

— Onde você aprendeu a fazer esses curativos? — indagou observando sua mão.

— Fiz um curso de bombeiro quando era pequena e ainda lembro de algumas coisas. — enrolei mais uma vez a faixa e soltei sua mão. — Pronto.

— Obrigado. — levantou-se da beirada da minha cama. — Não sei se vou conseguir fazer mais o churrasco, não terminei de arrumar as coisas.

Eu poderia muito bem dizer que era bem feito e que ele devia sossegar, mas minha índole não me deixava ser assim. Eu até pensava, mas no fim não falava nada e ainda ajudava as pessoas que precisavam.

Contrato de Casamento | Pedro GuilhermeOnde histórias criam vida. Descubra agora