Dez

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Realmente domingo havia sido o último dia em que vi o jogador andando tranquilamente. Quando a semana começou, ele saía antes mesmo que eu colocasse os pés para fora do meu quarto e voltava somente a noite. Sem contar que viajava para os jogos e voltava exausto.

Comecei a assistir aos jogos ao longo das semanas e mesmo com Pedro entrando alguns minutos antes do segundo tempo acabar, ele havia melhorado. Acho que a presença do Gabriel na partida o inspirava, ou algo do tipo. Falando no camisa nove do Flamengo, ainda me mandava mensagens quando conseguia uma folga, mas eu já não respondia mais na mesma intensidade de antes. Sei que eu deveria falar a verdade para ele, que eu e seu amigo tínhamos nos acertado, mas não sabia como dizer isso.

Ísis estava começando a dar seus primeiros passos sozinha e toda vez que isso acontecia, eu e Luísa ficávamos observando a menininha ainda surpresas. Não sabia que ela começaria a andar tão nova, já que quando eu nasci demorei um pouco para aprender a andar, mas pelo visto ela não puxou a mim nisso também.

Os dias estavam sendo muito bons para ser sincera e eu sentia pela primeira vez que poderia me encaixar naquele novo mundo.

Nas horas vagas, ficava na internet procurando de tudo sobre decoração, bufê e locais para a festa de Ísis. No começo eu iria fazer no quintal de casa, mas Pedro sugeriu que eu fizesse em um clube que ele chamaria mais alguns convidados. Quando ele me disse isso, demorei a aceitar, pois me lembrava perfeitamente de quando ele disse que não ia bancar o bom padrasto. O problema era que cada decoração uma era mais bonita que a outra e tive que ligar para a Thaisa para me ajudar a decidir de uma vez por todas, porque o mês se aproximava e eu ainda não tinha decidido nada.

Por fim escolhi a decoração de fundo do mar, já que a menininha adorava uma água e a correria começou. Passei a maior parte dos dias até chegar o aniversário resolvendo tudo na rua, indo ao bufê, escolhendo os pratos, alugando o salão e tudo mais. Também fiz uma sessão de fotos com a Ísis com um fotógrafo conhecido da família e durante a noite me sentava com o Pedro para combinarmos quem íamos convidar. Por fim, decidiu chamar praticamente todo o time e até foi bom porque assim iriam as esposas e os filhos dos jogadores, então teria algumas crianças.

Nunca pensei que poderia dar uma festa decente para minha filha, mas foi um sonho que se tornou realidade.

[...]

Eu me mexi confortavelmente e virei de lado, pronta para dormir mais um pouco.

— Vai dormir no quarto, Laura. Vai ficar com o corpo doendo se dormir no sofá. — escutei a voz longe falando comigo e resmunguei. — Anda. Levanta. — me cutucou no ombro.

Abri meus olhos e dei de cara com Pedro inclinado me olhando. Demorei alguns segundos para me situar e notei estar no sofá da sala de estar, Ísis dormia no cercadinho ao meu lado e a mesa de centro estava lotada de papéis.

Não me lembrava o momento exato em que deitei ali, mas eu estava tendo um sonho muito bom e ele me acordou.

Levantei-me com sono e peguei Ísis com cuidado para que ela não acordasse.

— Dorme comigo. — disse ele subindo atrás de mim na escada.

Não tínhamos tempo para ficarmos juntos e sinceramente achei que isso não aconteceria mais desde que voltamos da ilha, já que quase não nos víamos.

— Melhor eu ficar no meu quarto mesmo. — falei.

— Aconteceu alguma coisa e eu não estou sabendo? — indagou, parando na frente da porta do meu quarto quando eu estava prestes a entrar.

— Não, só estou com muito sono mesmo, então vou ficar por aqui.

Queria dizer que não queria aproximar as coisas, mas não tive coragem. Ainda mais agora que ele estava sendo tão bom.

Ísis não acordou quando eu a coloquei em seu berço e deitei na minha cama a seguir.

Mas a essa altura eu já tinha perdido o sono e resolvi pegar meu celular, vendo duas mensagens de Gabriel que ele me mandou enquanto eu dormia no sofá. Nele perguntava como eu estava e por que não respondia mais, então decidi que era hora de contar a verdade. Perguntei se ele estava livre para falar e meu celular não demorou muito para tocar, indicando que era uma chamada de vídeo. Corri escada abaixo novamente e atendi a chamada.

— Oi. — disse ele, estava deitado na cama. — Está meio tarde, o que faz acordada?

— Na verdade eu estava dormindo, mas perdi o sono agora. Como você está?

— Estou bem, só cansado. Não é fácil a vida de quem faz hat-trick. — brincou ele se referindo ao jogo que fez três gols. — E você como está? Achei que eu tinha feito algo de errado, não nos falamos direito mais.

Nesse momento desviei o olhar da câmera.

— Estou bem. É sobre isso que quero conversar.

— Sou todo ouvidos.

Me ajeitei onde estava e voltei a olhar para o celular. Gabriel estava olhando para mim através da tela atento, como se estivesse bastante ansioso para ouvir o que eu iria dizer. Por um minuto cogitei falar que não era nada demais e desligar, mas eu não queria prolongar mais isso nem com ele e nem com Pedro. Eu decidi que continuaria vivendo minha vida do mesmo jeito que a vivia antes, sem envolvimentos com ninguém, só cumprindo os meses do contrato de forma tranquila.

— Acho melhor não nos envolvermos em uma relação mais intensa, você é uma ótima pessoa, mas quero considerá-lo somente como um amigo para mim. — soltei as palavras ligeiramente, sem nem pensar muito no que estava fazendo, mas nessa hora minhas mãos já suavam frio e escorregava pelo celular.

Ele ficou em silêncio, digerindo o que eu tinha acabado de dizer. Acho que se alguém estivesse do meu lado naquele momento me chamaria de burra por não aproveitar a oportunidade que o destino estava me dando, mas eu não queria arrumar mais problemas do que já tinha.

— Ok. — ele disse lentamente. — Seremos só amigos então. Não tem problema.

Mesmo que ele dissesse isso dava para perceber que não era assim que ele estava se sentindo. Eu realmente gostaria de saber quem era a outra pessoa que dava um fora no Gabriel Barbosa. Não me gabando, longe disso, eu sim desejei ele algum momento e mesmo que ainda desejasse lá no meu subconsciente eu ignoraria.

Conversamos mais alguns minutos antes de eu fingir que estava com sono novamente e desligar. Subi e entrei em meu quarto, deitando-me na cama olhando para o teto escuro.

Minha mente estava uma bagunça com tantas coisas do aniversário de Ísis para resolver, mas o que mais me surpreendia era fato de que toda hora as imagens de Pedro Guilherme e eu fazendo sexo chegavam em minha mente e eu me distraia novamente.

Se ele fosse compreensivo igual ao camisa nove do Flamengo, seria ótimo.

E em meio a tantos pensamentos, não vi a hora que consegui dormir novamente. 

Contrato de Casamento | Pedro GuilhermeOnde histórias criam vida. Descubra agora