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Hyunjin On

Pelo canto do olho observo o Felix a tentar andar e a falhar.

Quando reparo que este ia cair e bater com os queixos na bancada, largo a loiça a correr e vou tentar agarrar o Lix, o que graças a Deus aconteceu.

Faço força nos braços para o meter para cima e ele colabora, é o mínimo.

-Obrigada! -ele diz ajeitando-se. -Acho melhor ir para o meu quarto.

-Hup. -digo e volto a focar-me na loiça.

Despacho-me, agarro no telemóvel e na carteira em cima da mesa e antes de ir embora não consigo resistir em olhar à volta para ver onde o Lix está.

Ainda nem começara a subir as escadas, por este andar ia demorar 1 ano.

-Não é que tu mereças! -digo chegando-me ao Lix que se vira lentamente para me olhar.

Agacho-me passo o meu braço pelas sua pernas e o outro eu passo pelas suas costas.

Eu estava com pressa e sabia perfeitamente que oferecer-me para muleta do Lix ele não ia aceitar e mesmo se aceitasse ia demorar muito tempo, por isso carrego-o ao colo.

De facto ele não reclama, só encosta a cabeça ao meu peito e eu sinto o meu coração a acelerar.

Abro a porta com o pé, ainda bem que estava encostada, mas reparo que a cama dele foi usada na noite interior e cheira-me que não foi por ele.

Mudo a rota para o meu quarto, estico a minha mão o máximo possível e abro a porta.

Deito-o em cima da cama, abro o lado da cama que eu durmo, volto a agarrá-lo e coloco-o debaixo das mantas.

Olho para a sua cara de morto, os seus lábios entreabertos do qual se via a sua respiração, tapo-o e deixo-o.

Desço as escadas a correr e atravesso a entrada enorme, pego as chaves de reserva que a mãe do Lix me deu, a chaves da mota e saio de casa, trancando-a.

Vou à garagem, geralmente não deixo a mota lá, mas tendo em conta que ontem a casa estava infestada de animais eu decidi guardá-la onde ninguém lhe pode fazer mal.

Tiro o capacete da mesa, coloco-o e sento-me na mota, ligo-a e dou umas aceleradelas para aquecer o motor, ao fim de uns minutos saio.

O Felix morava numa propriedade enorme em que a casa é feita de pedra, mesmo como as casas dos filmes antigos, rodeada por um jardim enorme, com mais uma casa pequena longe que é onde armazenam o vinho, pelo menos era isso para que servia quando eu vinha para aqui em pequeno.

Acelero na reta do caminho de pedras, até chegar ao portão, paro tiro o porta-chaves e aperto o botão para o portão abrir.

Mal uma frecha abre passo e fico à espera no lado de fora que este feche de certeza absoluta, para poder ir embora tranquilo.

Se há coisa que eu mais gosto de fazer é andar de mota, os cheiros da natureza, a brisa a bater no meu corpo, fazendo uma luta para ver qual ganha, tinha herdado este gosto do lado do meu pai, sempre foi habituado desde pequeno a andar de mota, acabando por virar uma paixão.

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-Estás bem? -pergunta o Lee Know, um dos meus melhores amigos de sempre.

-Hup. -digo endireitando-me na cadeira.

-Não o pareces. -ele diz intensificando o seu olhar sobre mim.

-É impressão tua. -digo limpando a garganta.

-Aconteceu alguma coisa entre ti o Felix.

-Digamos que eu o afrontei ontem e só quero ir embora daquela casa. -digo rápido, não me apetece reviver a conversa de ontem.

-Correção, tu achas que o mais correto é ires embora daquela casa, tu não o queres abandonar.

Bebo um bocado do sumo, não tinha argumentos para contra-argumentar.

-Quem diria. -ele suspira e inclina-se ligeiramente para a frente. -Foi o Felix que ficou sem namorada, perdeu-se, mas o mais impressionante é que ele consegui arrastar-te com ele.

Semifecho os olhos, colocando uma expressão de dúvida na cara.

-Vocês parece que mudaram de personalidade, ou melhor ele perdeu-se na sua personalidade e maneira de ser e tu também, ele tecnicamente arrastou-te sem tu ou ele darem conta.

Riu-me com a sua teoria.

-Bem, se queres um conselho, deixa de lhe dar tudo o que ele quer. Ele age mal, mas todos continuam lá, principalmente tu, está na altura de ele começar a perder para ver se desperta...

-E não há uma forma de o desperta sem ser pelo lado negativo? -pergunto interrompendo-o.

-Tu é que sabes. Tu é que o conheces, eu estou-me a basear nas coisas que me contastes. -ele diz encolhendo os ombros. -Só te peço por favor para não te deixares ser arrastado pela maré.

Reviro os olhos e bebo mais um bocado do sumo.

-Vamos? -ele pergunta apontando para os baloiços que não tinha ninguém.

-Que eu saiba nós já temos mais de 13 anos. -digo a olhá-lo meio de lado.

-Credo, onde é que está o Hyunjin que eu tive no verão passado? -ele pergunta retoricamente e corre para os baloiços.

-Acho que morreu. -digo para mim mesmo.

Eu de facto mudara pelo Felix, tornara-me mais protetor e de pés assentes no chão só para ser capaz de lhe servir de apoio, mas o problema é que com o passar do tempo em vez de eu ter mudado, eu afundara-me.

Eu já não sei quem sou.

Lost In The Soulds-HyunlixOnde histórias criam vida. Descubra agora