O início do fim

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Hyunjin On

  19 e 23 foi o exato momento em que o trinco da porta fez barulho por estar a ser aberta.

O meu coração disparou e por uns momentos a minha alma saiu do corpo e voltou.

Levanto-me à pressa do sofá e escondo-me atrás da mesa de jantar e das cadeiras, podia não estar muito bem escondido, mas era só para conseguir causar mais emoção quando aparecesse.

Desligo o telemóvel coloco no bolso das calças e olho pelas freichas da cadeira entre a mesa à procura do Felix.

Ouço paços e um riso, mas não parecia ser o do Felix, ajeito-me para a minha saída triunfante, mas sou apanhado de surpresa quando vejo o Felix acompanhado.

Ele estava colado a uma rapariga que beijava intensamente tal e qual como fez comigo no último verão, uma das suas mãos estavam colada à cintura e a outra à coxa da rapariga.

Já a rapariga tinha uma mão no pescoço do Lix e a outra estava no seu peito.

Ele agarra-a e sobe as escadas, fazendo com que eu me mexa subtilmente para tentar ficar mais tapado, ele não me pode encontrar, não agora.

A minha respiração estava alterada, descontrolada, sem me aperceber os meus olhos estavam completamente molhados e o meu rosto estava alagado por lágrimas.

Deixei-me descair e causei mais estrondo do que eu estava à espera, o que vale é que o entretém era de tal modo bom que ninguém apareceu.

Fecho os olhos e descaio a cabeça para trás, a minha respiração falhar e sinto a sweat demasiado colada ao meu corpo.

Ele tinha uma namorada, pelo menos é o que dá a entender, tendo em conta que ele a levou para o seu quarto, suponho eu, e estavam aos beijos.

Não podia ficar, não estando destruído, durante estes meses eu tinha mantido uma esperança no meu coração de que eu e ele podíamos ser mais, mas julguei tudo errado, a verdade é que o idiota fui eu, afinal fui eu que decidi fazer a surpresa.

Levanto-me e atravesso a sala entrando no corredor, nem olho para as escadas.

Vou em direção à porta da saída, calço os sapatos, tiro a mala do canto, pego nas chaves e saio de casa com o mínimo barulho, a pressa era tanta quando entraram que nem tinham reparado nas minhas coisas.

Apresso-me para sair totalmente da sua casa apesar da visão estar embaciada.

Tiro a sweat para o meu peito, que subia e descia rapidamente, o pudesse fazer de forma mais livre.

Tenho que voltar para a Coreia do Sul agora, ainda pensei em apanhar um táxi, mas depois lembrei-me da mãe do Felix que bem, merece saber que eu vou embora, já que foi ela que me ajudou, por isso ligo-lhe antes de apanhar um táxi.

Marco o número no telemóvel enquanto andava pela rua abaixo e encosto o telemóvel ao ouvido.

Depois de uns segundos sou atendido.

-Hyunjin! Ele já chegou a casa?

-Sim. -respondo e aquelas imagens voltam à minha mente.

-E então? -ela pergunta com esperança na voz.

-Eu vou voltar para a Coreia do Sul.

-Passou-se alguma coisa? Foi com a tua família?

-Não, a minha família está bem, foi com o Felix, mas não interessa. -eu digo e limpo as lágrimas com as costas da mão. -Só lhe queria avisar que eu vou voltar para o Coreia...

-Onde é que estás? -ela pergunta interrompendo-me.

-Na rua da sua casa, vim andando.

-Ótimo, já te vou buscar, dá-me 10 minutos. -ela diz e desliga a chamada.

Foram os 10 minutos mais compridos da minha vida, em que a mente era alagada por escuridão, o coração pela dor e a cara pela tristeza.

Ouvi um carro parar à minha frente por isso levanto a cabeça e vejo a mãe do Felix a sair do carro a correr, abraçando-me logo a seguir a quando me levanto do chão.

Encaixo a minha cabeça no pescoço da Sra.Lee e deixo as lágrimas intensificarem, se tal fosse possível.

-Desculpa querido, pelo o quer que tenha acontecido. -ela diz e acaricia as minhas costas, subindo e descendo a mão.

-A culpa foi única e exclusivamente minha por isso não se desculpe. -digo e a mulher dá-me um beijinho no rosto, fazendo-me lembrar a minha mãe.

-Anda, vamos tirar-te daqui. -ela diz e desfaz o abraço agarrando nas minha malas para meter no carro.

  No carro fomos envoltos pelo silêncio tirando que havia o leve som do meu choro misturado com um gaguejar.

Era constrangedor o clima, mas aconchegante de alguma forma, pois sabia que o "silêncio" estava a ser partilhado.

-Se não me quiseres contar eu compreendo, mas não custa eu perguntar. O que é que aconteceu? -ela pergunta docemente.

-Ele apareceu acompanhado por uma rapariga. -digo sem dar grandes pormenores.

-Mas vocês falaram-se?

-Não, ele nem sequer me viu por isso, por favor, peço-lhe para que não lhe conte nada sobre a minha ideia da surpresa. -digo olhando para a Sra.Lee.

-Claro se é o que queres. -ela diz e põem fim à conversa, pensava eu. -Tu ama-lo mesmo muito.

-Amava. -corrijo.

-Oh, não venhas com isso para cima da velhota. Tu continuas a amá-lo sabes porquê? Porque ainda estás a sofrer e amar não é algo que deixa de se sentir e fazer de um momento para o outro, às vezes acontece com cada coisa que nós dizemos que já não amamos a pessoa e agora é o fim, mas a verdade é que ela ainda está no nosso coração e estará para sempre, um amor algo que sempre fará parte de nós.

  Absorvo as palavras que eram verdade, infelizmente em certo modo, e mexo-me do banco para tirar a caixa do meu bolso de trás das calças.

-Eu ia dar-lhe isto. -digo e estendo a caixa à Sra. Lee que agarra e abre, vendo o anel que demorei horas a escolher.

-Ias...ias pedir-lhe em namoro? -ela pergunta chocada.

Respiro fundo e deixo umas últimas lágrimas escaparem dos meus olhos, estava quase a acabar com o meu choro.

-Se eu visse que ele continuava a sentir algo a mais por mim era essa a ideia. -digo e olho para a janela.



Lost In The Soulds-HyunlixOnde histórias criam vida. Descubra agora