Lost In The Soulds-Hyunlix

O Fim do início

Hyunjin On

Existe ações que nós desejamos nunca ter feito, palavras que desejamos nunca terem sido ditas, sentimentos que nós desejamos que estivessem esquecidos, eu desejava não ter atendido aquela chamada, mas fi-lo e agora arco com as consequências.

-Luísa? -atendo espantado, dei-lhe o número hoje e ela já o está a usar.

-Hyunjin...-ela começa desesperada e eu ligo a minha atenção para 100%. -...preciso que venhas ter comigo imediatamente...o Felix está inconsciente no hospital que...que te falamos no almoço.

-No que ias ter consulta? -pergunto com o coração acelerado, afinal estávamos a falar do Felix.

-Sim, eu conto-te tudo quando estiveres cá, acho que não consigo por telemóvel. -arregalo os olhos pelas palavras ditas. Sabes vir aqui ter? -ela pergunta sempre a gaguejar.

-Sim, qualquer coisa uso o GPS. Até daqui a pouco -digo e desligo rapidamente.

A minha garganta estava seca, os lábios ressequidos, as mãos trémulas, o coração a bater a 100% e a mente já suponha as piores hipóteses que podiam ter metido o meu Felix numa cama de hospital, se a chamada já me tinha destruído, nem sequer queria saber a causa para esta ter sido feita.

-Continuem o ensaio, tenho que sair. Até amanhã. -aviso os meus colegas de dança sem sequer lhes dar tempo para absorverem a informação.

Luísa On

Estava por um triz para agarrar e espetar um berro para a enfermeira que queria que eu me sentasse já que estava stressada e isso faria mal ao bebé, mal sabe ela de que metade do meu stress advém dela estar a dar-me instruções e ordens.

Muita coisa para absorver em um só dia, mas mesmo assim o que mais me preocupa é o Felix, tanto por este ter desmaiado como por ele ter reagido muito mal com as péssimas notícias.

-Sra.Luísa por favor sente-se. -pede a enfermeira mais uma vez e faço o que ela me pede só para a calar.

Sentada naquela cadeira as palavras voltavam a ecoar-me pela mente e à procura de um porto seguro acabo por me agarrar ao ser dentro de mim, o qual eu temia a sua sobrevivência neste preciso momento.

Com o passar destes meses começava a entender o significado da frase que o meu pai tanto me dizia em pequena "Não dês as coisas por garantidas, pois aquilo que Deus te dá também é capaz de te o tirar".

Se me perguntarem, por agora entender esta frase, se fico revoltada com Deus por Ele tirar-nos as coisas, não, óbvio que não, afinal para mim tudo tem um propósito para acontecer, mas fico revoltada pela forma que elas nos são tiradas ou mesmo dadas, porque geralmente tal acontece quando menos esperamos e menos necessitamos, mas acho que o que nos resta é aceitar e lutar, quem ganha a luta é uma questão de tempo até se saber.

O tempo passava e s angústia aumentava até o médico vir a meu encontro.

-O Sr.Felix encontra-se bem, está acordado e consciente no quarto, por isso se me quiser seguir. -o médico diz e estende a mão indicando-me o caminho.

Levanto-me da cadeira pronta a ir ter com o Felix quando o meu telemóvel toca, o Hyunjin.

-Doutor por favor diga ao Felix que eu já vou ter com ele, preciso de resolver uma coisa antes. -digo e atendo a chamada, o médico simplesmente dá um sorriso amarelo e sai.

-Estou à frente do edifício, a segurança não me deixa entrar apesar de eu dizer que te vinha ver. -ele diz e eu penso para mim que era normal, a segurança não é a pessoa mais doce e não é de confiar nas pessoas deste mundo.

-Eu vou ter contigo. -digo já a meter-me a andar apressadamente para ir ter como rapaz cuja voz entregava que o desespero já reinava nele.

Desci de elevador e encontrei o Hyunjin de calças pretas de fato de treino, uma t-shirt cinzenta e de cabelo amarrado, tinha vindo à pressa.

Saio e abraço-o, de alguma forma tê-lo ali confortou-me, apesar de o conhecer só à um dia, a nossa conexão formou-se rápido e forte era como se já nos conhecemo-nos à anos.

-Estás bem? O Felix está bem? O que é que aconteceu? -ele bombardeia-me, mas eu entendo o seu desespero.

-O Felix está bem, já está acordado e está no quarto a descansar, era para ir ter com ele quando tu ligaste.

-E tu? -ele pergunta, é um amor em pessoa.

-Dentro do possível. -digo sincera.

-O que é que aconteceu? -ele pergunta e tudo volta à minha mente, fazendo ela ficar mergulhada em más memórias.

-Anda. -digo afastando-me e puxo-o em direção a um banco à sombra de uma árvore. -Acho que é melhor saberes a história completa.

Hyunjin On

-1 ano, faz este mês um ano de quando descobri o segredo que o meu corpo guardava. A minha família infelizmente é muito suscetível a nível de saúde, a minha irmã mais nova teve cancro do útero, não pode ter filhos e o meu avô do lado da mãe teve cancro do pulmão, infelizmente uma ficha também me calhou. -ela respira fundo, comecei a encaixar as peças e isso preocupo-me, já que o resultado final não parece ser o melhor.

-Eu tenho cancro do pulmão... essa foi a razão para termos vindo para a Austrália, onde eu teria um melhor acompanhamento tanto para a resolução do cancro, como para o bebé. -ela remexe as mãos e fecha os olhos durante uns segundos abrindo-os com águas neles. -O problema foi que nós não esperávamos que o tratamento não tivesse a fazer resultado...

As lágrimas descem-lhe nos olhos e eu limpo-as com o dedão, enquanto que com a outra mão eu agarrava as suas que repousavam no seu colo.

-O médico...o médico...disse que só tenho mais 4/5 meses de vida, o meu pulmão esquerdo não funciona, o direito trabalha só a 55%...-o choro domina-a e eu abraço-a.

Fecho os olhos e sinto lágrimas a traçarem caminhos pelas minhas bochechas, como é que alguém como ela podia estar a passar tal situação, tão doce e atrevida ao mesmo tempo e carrega uma bagagem tão pesada.

-Ele está a estender-se para os outros órgãos...-diz afastando-se. -...o médico propõem uma cesariana para se retirar o bebé apesar de ele estar prematuro, mas é o melhor já que ele estende-se rapidamente. O Felix desmaiou por ter que absorver isto tudo, ele é muito apegado por isso receber esta notícia foi degastador.

Uns momentos de silêncio fazem-se.

-E tu? Tu não te sentiste mal...

-Não Hyunjin, sinceramente eu já esperava tal coisa, conseguia senti-lo dentro de mim a dominar-me, sabia que era uma questão de tempo.

Com estas palavras sinto a escuridão que reinava dentro dela e a verdade que ela atingiu antes de qualquer um, o corpo avisara-a.