CAPÍTULO 7

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Quarta-feira é dia de Troca-Troca na escola, o que basicamente se resume a galera hétero fazendo crossdresser. Não é meu dia favorito.

Estamos assistindo a Noite de Reis no primeiro tempo, porque todo professor de literatura é também um comediante. A sala de aula do Sr. Wang tem um sofá caindo aos pedaços e que fede a cerveja, e tenho certeza de que tem gente que entra na sala escondido para fazer sexo e esfregar seus fluidos nele. É esse tipo de sofá. O verdadeiro mistério é que todos nós lutamos até a morte para nos sentarmos nele a cada aula, porque tudo fica um milhão de vezes mais suportável quando você não está em uma carteira.

Hoje, o sofá foi ocupado pelo time de basquete. Garotas com uniformes do time de beisebol e os garotos com os uniformes das líderes de torcida. Aqui especificamente, Jihyo, Ryujin e Hyunjin. É o que os atletas costumam fazer no Troca-Troca. Não temos muitas líderes de torcida, então não faço ideia de como eles suprem a demanda. Vai saber no que a escola gasta dinheiro.

Mas tenho que admitir que, apesar dos bigodes falsos serem ridículos, tem algo de muito incrível com as pernas de jogadoras de basquete naqueles uniformes apertados. Não consigo acreditar que Kim Hyunjin tenha se fantasiado. Hyunjin, que senta na mesma mesa que eu no almoço. Ela é a garota caladona que, em teoria, é muito inteligente, mas nunca a ouvi falando, só quando é obrigada. Ela está encostada no canto do sofá, esfregando uma mão contra a outra, e eu nunca tinha reparado, mas ela até que é meio fofa.

O sr. Wang já colocou o filme quando Daniel entra correndo na sala. Somando a torcida, a peça e todos os comitês de que participa, ele sempre tem um motivo para chegar atrasado no primeiro tempo, sem nunca levar bronca. Chan sempre se irrita com isso, principalmente porque as pessoas do sofá sempre parecem dispostas a abrir espaço para Daniel sentar.

Ele dá uma olhada nas pessoas do sofá e cai na gargalhada. E Jihyo parece tão ridiculamente satisfeita. A expressão no rosto dela é a mesma do dia em que ela nos contou de quando tinha quatro anos e se juntou com os meninos de seu bairro para fazer xixi na parede como se fosse um também. Nós morremos de rir.

— Que porcaria é essa? — pergunta Daniel ao sentar atrás de mim. Ele está de vestido longo e com um lacinho fofo no cabelo. — Vocês não se fantasiaram!

— Estou usando gravata. — observo.

— Ah, sei. Grande coisa. — Ele se vira para o Chan. — E você parece um lenhador?

Chan olha para ele e dá de ombros, sem se explicar. Usar uma roupa extremamente masculina no Troca-Troca é o tipo de coisa que Chan faz. É o jeito dele de ser subversivo.

A questão é a seguinte: eu teria deixado a porcaria da gravata na gaveta do meu pai, onde a encontrei, se achasse que fosse passar despercebida. Mas todo mundo sabe que eu participo desse tipo de besteira. De forma irônica, é claro, mas participo. Seria estranhamente suspeito se eu não usasse nada do sexo oposto hoje. O engraçado é que são os mais héteros, mais caretas e mais atléticos que acabam caprichando na caracterização. Acho que eles se sentem tão seguros que nem ligam. E eu odeio quando as pessoas dizem isso. Eu também me sinto segura quanto à minha feminilidade. Sentir-se seguro quanto à isso não é a mesma coisa que ser hétero.

A porta da sala se abre, e ali está Amber Liu, emoldurada pela luz intensa do corredor. Ela conseguiu arrumar um uniforme de beisebol e até se deu ao trabalho de colocar enchimentos bizarramente realistas para fazer os músculos. Amber tem uma aparência bem andrógena e um cabelo curto que já a fazem parecer um menino, agora então.

Alguém na fileira de trás assobia.

— Ficou gostoso, hein, Liu.

— Está atrasada, Amber. Vá à diretoria pegar uma autorização para assistir à aula — ordena o Sr. Wang.

Heejin vs The Homo Sapiens AgendaOnde histórias criam vida. Descubra agora