CAPÍTULO 27

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Isso não quer dizer que vou parar de pensar no assunto.

Passo o domingo inteiro no quarto, alternando entre Lucia e Niki no volume máximo, e nem ligo se meus pais vão achar que estou enlouquecendo. Por mim, eles podem se incomodar o quanto quiserem. 

Tento fazer com que Billie fique comigo na cama, mas ela fica andando de um lado para o outro, então a levo para o corredor. Mas ela choraminga, pedindo para voltar.

— Soyeon, pega a Billie.— Grito, mas ela não responde.

Mando uma mensagem de texto.

Ela responde: "Pega você. Não estou em casa."

"Onde você está?" Escrevo. Odeio essa novidade de Soyeon nunca estar em casa.

Mas ela não responde. E estou me sentindo pesada e apática demais para me levantar e pedir pra minha mãe.

Fico olhando para o ventilador de teto. Então Kat não vai me contar quem é, o que significa que vou ter que descobrir sozinha. 

Estou repassando a lista de pistas já faz algumas horas. O nome parecido com o de um arremessador de beisebol. Metade judia. Escreve super bem. Fica nauseada com facilidade. Virgem. Não vai a festas. Gosta de One Piece. Gosta de Choco Pie e Oreo (ou seja, não é idiota). Pais divorciados. É a irmã mais velha de um feto. O pai mora em Savannah e é professor de literatura. A mãe é epidemiologista.

O problema é que estou começando a perceber que não sei quase nada sobre ninguém. 

Eu sei de um modo geral quem é virgem. Mas não faço ideia se os pais da maioria das pessoas são divorciados, ou qual é a profissão deles. Os pais de Jihyo são médicos, mas não sei o que a mãe de Chan faz, e muito menos qual é o problema com o pai dele, porque Chan nunca fala sobre isso. E não sei por que o pai de Daniel ainda mora em Busan. E esses são meus melhores amigos.

Na verdade, é terrível, agora que parei para pensar. Mas não adianta. Porque, mesmo que eu desvende o mistério, isso não muda o fato de que Kat não está interessada. Ela descobriu quem eu sou e agora tudo está diferente, e não sei o que fazer. 

Falei para ela que entendo se ela não se sentir atraída por mim. Tentei fazer parecer que não me importo. Mas eu não entendo e, obviamente, me importo.

Isso é uma merda, mesmo.

* * *

Na segunda-feira, tem um saco plástico de supermercado preso na porta do meu armário, e a primeira coisa que me ocorre é que se trata de uma coquilha.

Consigo imaginar uma atleta idiota me dando uma coquilha suada como grande gesto de humilhação e babaquice. Sei lá. Talvez eu esteja paranoica.

Mas não é uma coquilha. É uma camiseta com o logotipo de Decálcomanie, um álbum da Lucia. Em cima dela tem um bilhete: 

Suponho que Shim Kyusun saiba que você teria ido aos shows dela se pudesse."

O bilhete está escrito em papel amarelo com caligrafia perfeitamente reta, sem nem sombra de inclinação. E é claro que ela se lembrou do nome verdadeiro da Lúcia. Porque ela é Kat. Ela lembraria.

A camiseta é de tamanho médio, tem maciez de roupa usada e tudo nela é incrível e completamente perfeito. Por um momento louco, penso em procurar um banheiro e trocar de roupa na mesma hora.

Mas eu me obrigo a parar. Porque é estranho. Porque ainda não sei quem ela é. E a ideia de ela me ver com a camiseta me deixa meio envergonhada, por algum motivo. Assim, deixo dobrada na sacola e coloco no armário. Em seguida, saio flutuando pelo corredor, em um torpor nervoso e feliz.

Heejin vs The Homo Sapiens AgendaOnde histórias criam vida. Descubra agora